Segunda noite de shows do Rec–Bet 2017, o Domingo de Carnaval será o ponta–pé inicial na programação infantil do polo. Se apresentam hoje no Recbitinho, a partir das 15h, o Cordel Animado e a Cia Fátima Freitas de Frevo. Para os crescidos, o som fica nas mãos da banda Marsa (PE), Craca e Dani Nega (SP), Negros de Harvar (Chile), Morbo Y Mambo (Argentina) e de Rashid, rapper paulistano que ganhou holofotes na mesma levada que popularizou o trabalho de Emicida, Projota e alguns outros contemporâneos.
Depois de mais de uma década de carreira, mixtapes, EP e o lançamento do primeiro álbum, Rashid jogou no mundo, no fim de novembro, a primeira “diss” de sua vida. Situando: diss é o nome dado a um rap escrito com a intenção de atacar um outro MC. Na estreia de Rashid, o debate ficou basicamente em torno do objetivo de descobrir o destinatário da mensagem, ao que o próprio responde. “É uma mensagem com duas perspectivas. A gente (os MCs) vinha se atracando o ano inteiro e as pessoas querem ouvir outras coisas. E tem também o ponto de que a gente recebe críticas muito superficiais, sem embasamento. Eu peguei essas críticas e coloquei ali, parti do argumento dos haters pra fazer uma música que me autoavaliasse. O que me chateia não é a crítica fundamentada, mas quando é algo fora da realidade que eu vivo”, observa ele em entrevista para o JC ao telefone.
Ao contrário da velha escola do rap nacional, Rashid escolheu caminhos mais polidos, mas acumula prêmios, indicações e parcerias com grandes do gênero no qual as brigas de ego as vezes tomam o espaço da música. “Existe o lance da competição artística e mercadológica. Acho bom, saudável e necessário, mas quando passa a extravasar esse limite tem que se avaliar”, opina.
Integrante dos que se abrem a fusões com outros ritmos, ele se declara ouvinte de jovens nomes da música brasileira, com destaque para As Bahias e a Cozinha Mineira (que sobem segunda-feira ao palco do Rec–Beat), Liniker, Tássia Reis e Coruja BC1, além de artistas de fora do circuito Brasil – Estados Unidos. “O pessoal com quem eu mais me identifico é o de Angola e Portugal, tipo Força Suprema e Ana Tijoux”.
Ao citar Criolo como referência, Rashid é perguntado sobre a crítica em torno de discursos racistas, homofóbicos e transfóbicos proferidos em algumas letras dos pioneiros – ano passado Criolo regravou o disco Ainda Há Tempo, de dez anos antes, modificando algumas consideradas problemáticas. “Não é preciso se ter um cuidado censor”, responde. “Censura seria prender a ideia, mas se a sua intenção era falar algo só pra ofender alguém, a sua ideia é que está errada, não o questionamento de quem se ofendeu”.
O PAPEL
"Mais do que uma coisa que fala pelo povo, o rap fala para o povo", avalia. "É o rap que chega e diz: ‘se liga aqui, vamo prestar atenção em tal coisa’. Porque de manchete em manchete no Twitter a gente precisa parar pra reparar na situação, olhar de novo e ver que nem tudo é daquele jeito que a gente pensa. É um papel formativo. O que os zines faziam antigamente, o rap faz hoje".
Do cuidado com as palavras, a criação de Rashid parte ainda do sentimento posto letra a letra. A música é que dita o ritmo e a experiência é sinestésica, como foi durante a produção do recente A Coragem da Luz. “Eu vejo a cor da música. Aí vem o clima e eu sei se ela é como um fim de tarde ensolarado”. Quem comanda a setlist de hoje, portanto, é este último trabalho, intercalado por algumas dos anteriores. “Eu quero é que minha arte seja relevante. Então a gente vai fazer um show pra quem nunca viu um do Rashid”.