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Nelly Furtado deixa o pop e abraça o indie no disco 'The Ride'

Álbum marca mais uma virada na carreira da cantora canadense

JC Online
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Publicado em 17/04/2017 às 14:03
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Álbum marca mais uma virada na carreira da cantora canadense - FOTO: Reprodução
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Nas artes, a estrada é uma das grandes metáforas para autoconhecimento e transformação pessoal. A ideia da viagem, de se permitir deixar um lugar, de buscar um destino, guarda em si um fascínio entre o óbvio e o inefável – algo como a máxima “o caminho importa mais do que o destino”. É a partir desse conceito que Nelly Furtado fundamentou seu sexto álbum de inéditas, The Ride.

A carreira de Nelly Furtado é um caso interessante para se analisar a indústria musical. Quando surgiu na grande mídia, em 2000, com o single I’m Like a Bird, uma mistura de folk, R&B e pop, ela se apresentava como um contraponto ao que dominava as rádios. Suas referências musicais iam de Madonna a Blondie, passando por Caetano Veloso, Amália Rodrigues e TLC – ecletismo que se refletia em suas composições.

Contrariando as expectativas, a canção foi um sucesso, rendeu um Grammy à cantora e o disco Whoa, Nelly (2003) vendeu 9 milhões de cópias. Seu sucessor, Folklore, continuava o caminho já pavimentado e consolidou a imagem de garota cool da canadense filha de pais portugueses. Foi então que, em 2006, ela deu uma curva brusca e lançou aquele que viria a ser seu maior sucesso, o disco Loose, que vendeu 12 milhões de cópias ao redor do mundo e influenciou o som das rádios do período.
Produzido por Timbaland – mestre do hip hop avant-garde – o álbum mostrava uma Nelly pronta para as pistas literais e metafóricas, com batidas fortes e inspirações nas canções dance dos anos 1980. Hits como Promiscuous, Maneater e Say It Right foram inescapáveis ao longo dos dois anos seguintes. Apesar de muitos observarem o álbum como uma ruptura na carreira dela, a cantora afirma que era apenas mais uma camada de sua versatilidade enquanto indivíduo e artista.

Mais uma vez, invertendo o caminho que os outros queriam que seguisse, no trabalho seguinte ela pegou uma outra via: em 2009, lançou o álbum em espanhol Mi Plan. Quando voltou a cantar em inglês, no ótimo Spirit Indestructible (2012), parecia que o público já não estava mais disposto a acompanhar suas aventuras musicais. Rico sonoramente, retomando o flerte de Nelly Furtado com o hip-hop, o álbum vendeu apenas 6 mil unidades na estreia – um contraste comparado com os 200 mil de Loose.

NOVO CAMINHO

O que, afinal, levou Furtado de uma das cantoras mais rentáveis do pop ao quase ostracismo? Talvez a resposta esteja em sua própria negativa em se encaixar em um rótulo ou de seguir tendências. E a julgar por seu novo álbum, The Ride, ela não parece interessada em mudar essa essência. Lançado de maneira independente, o disco é uma síntese das ideias que a cantora vem tateando ao longo dos últimos 17 anos.

As composições estão mais maduras e incisivas e a sonoridade impressiona pela pluralidade. É seu trabalho mais alternativo e autoral (e também menos comercializado – vendeu 1,8 mil cópias na primeira semana).
Produzido por John Congleton, responsável por trabalhos de nomes como Sigur Rós, David Byrne e St. Vincent, o disco é calcado em instrumentação ao vivo misturada a elementos eletrônicos.

Alguns destaques são as excelentes Flatline, Cold Hard Truth, Stick and Stones, Carnival Games e Paris Sun, que remete aos melhores momentos do Goldfrapp. A voz de Nelly Furtado está mais apurada do que nunca, como fica evidente na faixa Phoenix, que fecha o disco.

Apesar de não soar tão experimental como outras faixas, Right Road é a espinha dorsal temática do disco “Eu sei o caminho certo/ Eu sei qual estrada certa pegar/ Eu posso me perder no caminho/ Mas eu vou voltar ao caminho certo hoje”, canta.
Fica a sensação, afinal, que o recado principal da artista, com o álbum, é justamente este: o caminho ainda é uma incógnita, os ensinamentos estão sendo processados, mas o controle do volante está em suas mãos.

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