Memória

Jerry Adriani da música italiana a um dos reis do iê iê iê

Cantor estava com projetos de discos e uma biografia

JOSÉ TELES
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Publicado em 24/04/2017 às 14:29
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Cantor estava com projetos de discos e uma biografia - FOTO: foto: divulgação
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Jerry Adriani ­ que morreu ontem, no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, internado por conta de umatrombose e enfrentando um câncer ­ completou 70 anos em 29 de janeiro deste ano em plena atividade. O cantor estava com o DVD e CD Outros recém­lançado, tinha 11 shows agendados até dezembro e prometia uma biografia, escrita pelo jornalista e produtor Marcelo Fróes, do selo Discobertas.

A narrativa da vida dele seria uma das mais interessantes entre os ídolos da Jovem Guarda. Embora tenha permanecido a vida inteira como artista do segmento mais popular, Jerry transitou por outros nichos: foi de namoradinho de Nara Leão a descobridor de Raul Seixas. Acrescente­se a isso o fato de ter começado acarreira adolescente. Estava com 17 anos, em 1964, quando estreou o primeiro LP, Italianíssimo, pela CBS, com anuência de seu Evandro Ribeiro, o todo poderoso da empresa.

Era o auge do sucesso da música italiana no Brasil. O garoto boa pinta, de voz afinada e potente, tinha nascido no Brás, em São Paulo, com um nome bem brasileiro, Jair Alves de Souza. Virou Jerry Adriani. O Jerry veio de Jerry Lee Lewis, um dos pioneiros do rock and roll. O Adriani, de Adriano Celentano, astro da canção italiana. Lançaria um segundo álbum, em italiano, no ano seguinte, Credi a Me, e o primeiro em português Um Grande Amor, que o levou às paradas do país inteiro com canções como Querida, e Um Grande Amor, ambas versões de hits internacionais.

MALUCO BELEZA

Raul Seixas era um assunto sobre o qual Jerry Adriani não se cansava de falar. Foram compadres e amigos, apesar das diferenças de temperamento e comportamento. Jerry conheceu o ainda iniciante Raulzito quando ele começava a carreira com o conjunto Os Panteras, badalado no iê iê iê de Salvador. Jerry foi contratado pelo requintado Clube Baiano de Tênis e cantou acompanhado pelo grupo, que o cantor levaria no ano seguinte para o Rio e apadrinharia para gravar o primeiro álbum, o Raulzito e os Panteras. Raulzito não fez sucesso com os Panteras, mas acabou na CBS, trabalhando no estúdios da gravadora e criando as suas primeiras composições. Jerry Adriani gravou algumas, como Doce, Doce Amor e Tudo o Que É Bom Dura Pouco.

A Raul Seixas ele dedicaria o próximo disco, gravando, entre outra composições, parte do repertório "romântico" feito por ele entre 1967 e 1971, quando o Raulzito deu lugar ao Maluco Beleza. Ao longo dos seus 53 anos de carreira, Jerry Adriani também apresentou programas, entre eles A Grande Parada, com Neyde Aparecida, Zélia Hoffmann, Betty Faria e Marilia Pera. Foi galã de musicais e chanchadas pop como Esta Gatinha É Minha (com Peri Ribeiro e Anik Malvil), e Jerry em Busca do Tesouro (com Neyde Aparecida). Foi dos poucos que não praticou um desvio de rota brusco para sobreviver.

Continuou cantando canções de amor. Em 1990, gravou um disco com versões de canções de Elvis Presley. A semelhança vocal com Renato Russo o levou a um álbum só com músicas do Legião Urbana. Parecia estar sempre de bem com a vida, e nunca deixou o Jair Alves de Souza ser dominado pelo galã Jerry Adriani. Numa conversa com ele, num hotel já desativado em Boa Viagem, depois de algumas doses de uísque, pipoca de petisco e muitas histórias que incluíam fãs tresloucadas e noivos enciumados, Jerry comentou sobre os sucessos, e brincou com seu primeiro grande hit, Querida: "O pior de repetir a música em todo show é cantar a parte que diz: “procure olvidar". Olvidar é f...", Um ótimo sujeito, um grande cantor.

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