O ex-diretor do coral católico alemão de Regensburger, onde pelo menos 547 crianças foram vítimas de maus-tratos, incluindo abusos sexuais, era "fanático" e "temido" pelos alunos - denunciou seu sucessor nesta quarta-feira (19/7).
O monsenhor Georg Ratzinger, irmão mais velho do papa emérito Bento XVI, dirigiu o famoso coral mergulhado no escândalo de abusos, de 1964 a 1994.
Era um homem "impulsivo" e "fanático" quando "impunha sua concepção da disciplina musical", relatou seu sucessor, Roland Büchner, em entrevista ao jornal Die Zeit.
Cerca de 500 menores do coral dos Regensburger Domspatzen sofreram maus-tratos físicos, e outros 67, violência sexual, incluindo estupro, informou na terça-feira (18/7) Ulrich Weber, advogado encarregado pela Igreja de esclarecer esse caso que veio à tona em 2010.
Os membros do coral oficial dessa diocese são conhecidos como os "Pardais da Catedral de Regensburger".
Esses números são amplamente superiores aos publicados em janeiro de 2016, quando um relatório intermediário havia apontado 231 vítimas. Em fevereiro de 2015, as autoridades católicas locais reconheceram apenas 72 vítimas.
Georg Ratzinger
Georg Ratzinger, que atualmente está com 93 anos, assegura que não tinha conhecimento dos abusos sexuais cometidos neste coro fundado na Idade Média, em 975.
"Durante os ensaios, era implacável. Depois, podia ser o homem mais doce do mundo. Alguns estudantes o viam como um modelo, outros o temiam como alguém que os machuca", continuou Büchner, em uma entrevista que será publicada nesta quinta-feira (20/).
"Um sistema de medo prevalecia" no coro, acrescentou ele, reconhecendo que esteve a par dos abusos cometidos e lamentando não ter exigido de "forma mais firme esclarecimentos completos".
"Não se tratava apenas de tapas, mas de verdadeiros maus-tratos. Era uma explosão de violência. Havia lesões físicas", detalhou.
Os fatos revelados no relatório publicado na terça-feira incluem delitos e crimes que vão do estupro à privação de alimentos, passando por espancamentos e agressões sexuais. A maioria dos casos prescreveu, porém, e os 49 autores identificados no relatório não serão processados.
O número total de vítimas pode ser mais elevado, superando 700 casos, segundo Ulrich Weber.
Pouco se sabe sobre os supostos autores. Segundo o relatório, a maioria dos culpados era docente do estabelecimento. Além do coral, a instituição contava com um jardim de infância, um colégio e um instituto.
As vítimas descreveram sua passagem por esse coro milenar e mundialmente conhecido como "uma prisão, um inferno e um campo de concentração", ou ainda, como "o pior momento de sua vida, marcado pelo medo, pela violência e pelo sofrimento", segundo Weber.