ALTERNATIVA

Artistas pernambucanos apostam cada vez mais no crowdfunding

Discos, musicais e até um sistema de som estão entre os projetos que aguardam aquela ''ajudinha'' dos fãs

NATHÁLIA PEREIRA
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NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 20/08/2017 às 7:30
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Discos, musicais e até um sistema de som estão entre os projetos que aguardam aquela ''ajudinha'' dos fãs - FOTO: Fotos: Divulgação
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O processo de divulgação de produtos musicais – sejam álbuns, shows ou demais incursões – se tornou menos árduo após o boom da utilização das plataformas online de compartilhamento. O trabalho de feitura, no entanto, continua consideravelmente caro, principalmente quando se trata de artistas independentes. Por isso, muitos enxergam nos crowdfundings, ou financiamentos coletivos, a alternativa para por as criações no mundo. A lógica é simples: contar com a ajuda de quem acredita o suficiente no que será produzido a ponto de investir dinheiro para que de fato se realize. Em Pernambuco, vários projetos estão aguardando contribuições.

Um deles é o da cantora e compositora Aninha Martins, às voltas com o projeto Esquartejada desde 2013, quando lançou o show de mesmo nome durante o festival A Noite do Desbunde Elétrico. Ano em que ela completa uma década de estrada musical, 2017 será também o da estreia de Esquartejada como seu primeiro disco solo. Aberta na plataforma Benfeitoria, a vaquinha, se alcançar os R$ 15.000 pretendidos, contemplará os custos de gravação, mixagem, masterização e prensagem de 1.000 cópias do álbum.

“A gente decidiu fazer agora porque realmente acredita no nosso trabalho. Não tem patrocínio de nada, a gente se junta pra poder fazer e eu preciso de mais pessoas pra que isso aconteça”, conta ela no vídeo de divulgação da campanha, que tem depoimentos de Karina Buhr, Paulo André Moraes, Juliano Holanda e Isaar.

Como estratégia de divulgação, Aninha tem apostado na audição “corpo a corpo”, levando as músicas às ruas para que os transeuntes deem o veredito. As reações são registradas em vídeo e disponibilizadas nas redes sociais. “A ideia é democratizar minha música, porque geralmente a gente não consegue ultrapassar a bolha. É interessante os depoimentos sinceros das pessoas. Algumas gostam, outras se emocionam, outras definitivamente não gostam e isso que é bonito”, conta ela.

O mesmo objetivo tem o percussionista e educador Mestre Zé Negão, referência do coco de senzala e um dos principais difusores do seguimento nas comunidades de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. Apesar da vida dedicada à cultura popular, sendo, inclusive, homenageado durante o São João 2017 da cidade, ele ainda precisa arrecadar R$ 22.000 para gravar o primeiro CD, intitulado Tumbeiro.

Não serão utilizadas plataformas online, nem cotas mínimas de valor ou recompensas, mas ações de arrecadação, como a Mukeka Solidária. O almoço, com moqueca de frutos do mato, acompanhada de arroz integral com taioba, farofa de mangará, salada panc e refresco matáli, será servido como prato feito no valor de R$ 13. Além dela, também acontecerão oficinas, ainda sendo planejadas. “Em setembro vamos ter esse cronograma definido. A campanha segue até março do ano que vem”, detalhou Patrícia Araújo, produtora do Mestre.

A Amandinho, banda recifense formada há três anos, sempre apostou no jeito “faça você mesmo”. É nele que se apoiarão agora para lançar o terceiro registro em estúdio, Ocultismo Oldschool. O meio escolhido foi a venda de camisas, zines, posters e demais produtos confeccionados pelos próprios músicos. A meta é arrecadar o que falta para garantir a masterização, aproximadamente R$ 1.500.

Ao fechamento desta matéria, a instrumental Kalouv já havia ultrapassado a quantia almejada para construir Elã, seu terceiro álbum. Com mais de vinte tipos de recompensas, incluindo de link para download do álbum a show intimista, a campanha, no entanto, permanece aberta até 24/8, no site Catarse, com contribuição mínima de R$ 15.

Saindo do universo dos discos, Leonardo Silva, o Jah Leo, está na reta final da construção do Leão Conquistador, sistema de som baseado na tradição da cultura reggae. Ele precisa juntar R$ 10.000, também pelo Catarse, para pagar os amplificadores e concluir a parte elétrica e de proteção de todo os equipamentos. Quem contribuir poderá escolher entre pacotes com recompensas que vão de link de acesso a um documentário até “entrada livre nas festas promovidas pelo Leão Conquistador por toda a vida”.

Já a cantora Isadora Melo está na expectativa de subir aos palcos com Dorinha, Meu Amor, espetáculo musical concebido por João Falcão. Se batida a meta, através do site Kickante, ela estreia dia 7/9, no Teatro Arraial Arraial Ariano Suassuna, ao lado dos músicos Juliano Holanda e Rafael Marques.

RECEITA DO SUCESSO

Por um projeto profissional nas mãos dos que acreditam no trabalho é ato de coragem que exige planejamento e disciplina. Se sorte e organização convergirem, o resultado pode ser melhor do que se esperava. O mais recente caso foi o do duo gaúcho radicado no Recife Paula Bujes & Pedro Huff, que não só atingiu a meta para a gravação do álbum Afluências, como a ultrapassou em 3%, o que garantiu cerca de R$ 2.000 a mais para produção do registro, um apanhando de músicas brasileiras em violino e violoncelo.

Apostando em recompensas que incluíam coletânea de discos, Paula conta o que considera o “segredo” do sucesso. “Tínhamos um projeto consistente. Estudamos bastante antes do lançamento, lendo materiais didáticos e dicas das plataformas e projetos bem-sucedidos”, aponta.

“Traçamos estratégias de campanha que tivessem a cara do projeto, além de objetivos que foram além do financiamento, como o de se conectar de forma intensa com o público através de muitos recitais. A equipe que trabalhou conosco foi escolhida a dedo, apesar de nenhum de nós ter feito crowdfunding antes. Talvez o segredo mais importante seja a determinação. Quem me conhece sabe que durante a campanha eu não tinha outro assunto, era "fritação" de Afluências o tempo todo”, se diverte.

Ano passado, Angelo Souza, o Graxa, arrecadou 101% (R$ 7.135 de 7.000) do que pretendia para o lançamento do vinil compacto Goodbye Songs, do projeto Biu Grease & The Jiquiá Brass Band. Além dele, a Bandavoou e a veterana Mundo Livre S/A também já apostaram na coletividade para dar aos fãs novos ares de suas obras.

CONFIRA OS PROJETOS E RECOMPENSAS:

Esquartejada, de Aninha Martins
Meta: R$ 15.000
Prazo: 12/9
Recompensas: de link antecipado para download do álbum (contribuição de R$ 15) a show com banda completa (R$ 3.000)
Link para contribuir: https://goo.gl/JfXWF5

Elã, da Kalouv
Meta: R$ 19.683
Prazo: 24/8
Recompensas: de download do álbum em HD (R$ 15) a cota de patrocínio para empresas (R$ 1.200 ou mais)
Link para contribuir: https://goo.gl/E1XNFv

Leão Conquistador, de Jah Leo
Meta: R$ 19.683
Prazo: 11/09
Recompensas: de acesso a um minidocumentário (R$ 10) a entrada livre em eventos do Leão Conquistador (R$ 500 ou mais)
Link para contribuir: https://goo.gl/ZbLHvF

Dorinha, Meu Amor, de Isadora Melo
Meta: R$ 50.000
Prazo: 5/9
Recompensas: de agradecimento nas redes sociais (R$ 15) a sessão exclusiva do espetáculo (R$ 5.000)
Link para contribuir: https://goo.gl/HP3JgC

Ocultismo Oldschool, da Amandinho
Meta: R$ 1.500
Prazo: 15/9
Recompensas: produtos personalizados pela banda e parceiros

Tumbeiro, de Mestre Zé Negão
Meta: R$ 22.000
Prazo: março/2018
Recompensas: link para download do álbum

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