Halloween

Halloween com músicas para todos os monstrinhos

O Saci e o Papa-Figo também ganharam suas homenagens

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 31/10/2017 às 9:17
Ilustração de Ronaldo
O Saci e o Papa-Figo também ganharam suas homenagens - FOTO: Ilustração de Ronaldo
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Em 1983, Michael Jackson, com o diretor John Landis, lançou o mais célebre e melhor videoclipe da história do subgênero horror rock, Thriller, a canção para o Halloween tornada arte. Elmer Berstein escreveu a música incidental do vídeo, e Vincent Price coloca sua voz de ícone dos filmes de terror a serviço do Rei do Pop. Em outubro, a Sony Music empacotou mais um álbum póstumo de Michael Jackson produzido para o Halloween, Scream, uma compilação que reúne 14 canções de horror pop selecionadas de várias fases do cantor (inclusive com os Jacksons).

 A música com temática apropriada ao Halloween – festa surgida na Inglaterra, não nos EUA, transportada para o Brasil como Dia das Bruxas, comemorado no dia 31 de outubro –, com assombrações como tema de canção, existem nos Estados Unidos praticamente desde o início da indústria fonográfica. Duke Ellington, Frank Sinatra ou Rosemary Clooney, quase todos os grandes nomes da música americana gravaram canções com letras “malassombradas”.

 No rock and roll elas chegaram no final dos anos 50. O primeiro grande hit Monster Mash, com Bobby “Boris” Pickett que, em 1962, alcançou o topo do paradão pop da Billboard, e fez escola. Em época de Guerra Fria, do temor da bomba atômica e do início da corrida espacial, ao lado de fantasmas, zumbis e vampiros, proporcionavam sustos também extraterrestres, mutações geradas por testes nucleares. Sheb Wooley, em 1958, emplacou um primeiro lugar com Purple People Eater, extraterrestres de cor púrpura comedores de gente (no sentido estrito): “Então vi a coisa vindo do céu/ um chifre, um único e grande olho”.

 Do mesmo ano, é outro clássico do horror pop, Dinner with Drac, de um ator, comediante e mais algumas coisas chamado John Zacherle. O jantar com Drácula de Zacherle é divertido, com versos feito estes: “Foi servido um espaguete/ feito das veias de uma múmia de nome Betty”, no final o convidado descobre que a sobremesa seria ele. Foram lançadas centenas de canções sobre fantasmas, vampiros, lobisomens, bruxas, zumbis. O americano tem uma atração especial pelo além, que extrapolam a época do Halloween.

 O tema continuou sendo praticado mesmo quando o rock entrou na idade adulta. Basta lembrar Bad Moon Rising, do Creedence Clearwater Revival, e Werewolves of London, de Warren Zevon. Há dezenas de coletâneas de horror pop, ou relançamentos dos álbuns inteiramente dedicados ao Halloween. Uma delas é Monster Mash Scary Tales, uma geral na obra assombrada de John Zacherle, repertório de 26 faixas, que abre com Monster Mash e fecha com Dinner with Drac, entre uma e outra Popeye (The Gravedigger), Little Red Riding Hood (Chapeuzinho Vermelho), que encara um vampiro, não um lobo mau. Claro, como quase todo o repertório do horror pop do início dos anos 60, a música é circunstancial, muita coisa ficou datada.

 FRANK ZAPPA

 Entre os lançamentos deste ano, uma mastodôntica caixa de Frank Zappa, que adorava Halloween e fez uma apresentação especial na data. Frank Zappa – Halloween 77: Live at Palladium, New York City, NY, celebra os 40 anos de uma temporada feita pelo músico de 28 a 31 de outubro de 1977, em Nova Iorque. A caixa traz além da música, t-shirts, libreto, um pendrive e o registro completo dos quatro shows. Zappa foi um dos mais criativos músicos americanos do século 20, mexia e analisava os costumes, tabus e idiossincrasias da sociedade americana. Portanto, apesar do “Halloween” no título do box, seu interesse vai além do Dia das Bruxas. Halloween 77 são seis CDs, com primeiras audições públicas de canções do então inédito álbum Sheik Yerbouti, mais músicas que Zappa nunca mais incluiu em shows. São 158 faixas, tudo que um zappamaníaco poderia querer ganhar no Halloween, mas pesado para os que eventualmente curtem um ou outro disco de Frank Zappa.

 

 SACI & PAPA-FIGO

 No Brasil, o horror na música vem de muitos anos antes da importação da festa. Alvarenga e Ranchinho cantam um clássico do repertório, digamos gótico, nacional, Romance de uma Caveira: “Eram duas caveiras que se amavam/ e à meia-noite se encontravam/ pelo cemitério os dois passeavam/ e juras de amor então trocavam .../ mas um dia chegou de pé junto/ um cadáver novo de um defunto/ e a caveira por ele se apaixonou/ e o caveiro antigo abandonou”.

 A dupla era muito popular, a canção das caveiras (uma modinha) foi igualmente popular. A música quebrava o clima solene das serestas. Cinquenta e dois anos antes de ser oficializado o Dia do Saci, no mesmo dia do Halloween, Demétrius gravou um rock celebrando um das assombrações pátrias. De Baby Santiago e Tony Chaves, Rock do Saci fez sucesso em 1961: “Era noite de luar/ sai pra namorar/ quando ele pulou na minha frente a gritar/ cigarro, me dá um cigarro/ e eu eh eh eh/ quase que desmaiei”. Embora assustador, o Saci só queria mesmo um cigarro, mas estragou o namoro do casal.

 Demétrius cantou também A Bruxa, que tem um grito horripilante como introdução: “Velha medonha, de faca na mão/ voando sentada, no vassourão/ olha a Bruxa, olha a bruxa/ a velha quer pegar criança/ Pra fazer sabão”. Roberto Carlos entrou um pouco atrasado na onda do horror rock. Em 1965, no álbum Roberto Carlos Canta para a Juventude, ele gravou, de Getúlio Côrtes, Noite de Terror: “Fazia noite fria/ eu logo fui dormir/ soprava um vento forte/ eu não pude nem sair/ pensei com meus botões/ um bom livro eu vou ler/ e um trago de uísque/ que é pra me aquecer/ mas uma mão gelada no meu ombro bateu .../ Bem junto de mim/ esse alguém me falou bem assim/ eu sou o Frankenstein”. A música foi regravada, em 1983, por Itamar Assumpção, no álbum Às Próprias Custas S/A.

 Regionalista, Reginaldo Rossi cantou uma assombração pernambucana, o Papa-Figo: “Prestem atenção ao que agora eu digo/ lá na minha rua mora um papa-figo/ quem é que não sabe o que é um papa-figo?/ um homem parecido com um urubu/ há mil pessoas dizendo que ele é mais feio do que o dr. Valcourt” (doutor Valcourt refere-se ao personagem de Sérgio Cardoso em O Preço de uma Vida, novela de 1965, da TV Tupi). Genival Lacerda gravou um Xote do Papa-Figo, com letra não aconselhável para Halloween infantil: “Cuidado com o papa-figo/ ele age como um assassino/ ele pega, ele mata, ele arranca/ ele come o fígado do menino”.

 

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