Três meses após a publicação de Apenas um Rapaz Latino-Americano, biografia de Belchior, falecido em 30 de abril deste ano, a irmã do cantor cearense, Ângela Belchior, decidiu manifestar sua posição contrária à obra, assinada pelo jornalista J.B. Medeiros. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, a socióloga quer tirar o livro de circulação e lançar sua própria versão por acreditar que o trabalho de Jotabê é "ofensivo à honra de Belchior".
A biografia escrita por Ângela, ao lado do advogado Estêvão Zizzi, seria lançada em outubro do ano que vem, quando Belchior completaria 72 anos se ainda estivesse vivo. "Estamos pegando depoimentos porque a gente não quer uma biografia mentirosa para as gerações vindouras", disse em entrevista à Folha de S. Paulo. Em Apenas um Rapaz Latino-Americano, o autor dedica várias páginas à fase conturbada da derradeira década de vida do novo ídolo da juventude brasileira, embora não desvende o mistério do seu "desaparecimento".
Ainda conforme o jornal, Ângela contesta trechos como o que, em sua interpretação, negaria a participação de sua mãe em coral de igreja, e o que cita um confronto entre Belchior e um decano não identificado da Faculdade de Medicina de Porangabuçu, em Fortaleza. "Tudo cascata. Mãe que cantava em coral de igreja? Essa era uma história típica da mitologia dos artistas negros evangélicos norte-americanos, mas que não batia com a rotina eclesiástica das igrejas do Nordeste brasileiro", diz o trecho da biografia.
O escritor, por sua vez, acredita que aspectos citados por Ângela revelam versões discordantes de fontes e até mesmo falhas de interpretação. "Não estou dizendo que a mãe dele não cantava na igreja, estou dizendo que a tradição da Igreja Católica brasileira é diferente da igreja evangélica, que tem uma tradição mais apurada nesse sentido, o que fundamenta a tradição de cantores de blues americanos", explicou Jotabê à Folha de S. Paulo.
