
Entre criatividade e improviso, o desafio de fazer música independente vem sendo rompido por vários artistas locais. O lema "Do it yourself" é o que norteia o trabalho dos gêmeos Rodrigo e Thiago, da banda recifense Eu e a Duplicata. Surgido em 2012, o duo caminhou pela experimentação musical nesses seis anos até alcançar a total produção independente, como foi com o novo EP Blendbuco Nordestrônic (2018). Com letras que refletem o momento político atual, as músicas foram feitas por meio de softwares digitais, utilizando apenas instrumentos virtuais. "Estamos sempre em constante aprendizado e reciclagem", dizem.
Desde o primeiro EP Varados de Fome (2014), a evolução para a autoprodução independente se deu naturalmente. No primeiro, o contra-baixo e a bateria apenas complementavam os samples e sintetizadores. "Foi o início do laboratório musical na busca da nossa identidade", afirma a dupla. As batidas eletrônicas tomam conta do disco Carne Ferve (2016), substituindo a bateria, e o contra-baixo ganha efeitos para se aproximar de um som eletrônico.
Para o álbum de 2016, ainda foi gravado um álbum/série de 38 minutos que acompanha as músicas: são 8 videoclipes que se conectam, construindo uma narrativa. Todo o trabalho foi feito de forma independente, "Montamos e construímos cenários, escolhemos locações, os figurinos, iluminação e nos arriscamos na atuação sem preparador de elenco", explicam. As filmagens, feitas pela cameragirl Ju Orange, tinham como cenário as casas da família dos músicos, além de algumas ruas do bairro da Torre, Graças, Boa Viagem, Calhetas e Gravatá.
Para a gravação dos dois trabalhos, ainda foi necessário o estúdio profissional, diferente do novo disco, que foi home made (feito artesanalmente em casa). "O processo de criação desse novo EP foi bem diferente. Porque saímos do hábito de compor tocando, tirando um som, para o processo de compor programando no laptop. Então a influência da música eletrônica ficou mais latente por conta da sonoridade digital", explicam os irmãos Rodrigo e Thiago Duplicata, como assinam.
Outra mudança importante foi nas temáticas das canções. As reflexões pessoais dos primeiros trabalhos deram lugar às reflexões políticas do novo EP, que aborda questões como a ocupação do espaço público, como em Junta tua turma, a luta coletiva, em Espalhar amor, e a valorização das raízes, em Toque de Guerra (instrumental). "Tendo passado por essa experiência interna achamos que estava na hora de colaborar, da nossa forma, com o coletivo", afirma.
Em Toque de Guerra ficam nítidos os novos objetivos musicais da dupla: "Nossa proposta é deixar mais perceptível na nossa expressão artística os elementos da cultura popular pernambucana/nordestina atrelada a sonoridade da música eletrônica". Além disso, a música ganhou um videoclipe, filmado no bairro de Água Fria, com a performance do Caboclinho 7 Flexas, fundado em 1971. A nova fase da experimentação da banda também vem expressa no nome do novo álbum, Blendbuco Nordestrônico, em que a mistura do inglês e português remete à universalidade do eletrônico e à valorização do local.
Além dos três álbuns, os gêmeos já participaram de projetos paralelos também independentes. Entre eles, o disco O Morro da Porta do Céu (2016) com Sambê; Santos de Guerrilha (2017) com Rogerman, e Nada a perder (2017) com Cássio Sette. Em todos os trabalhos, se pode notar que a batida dos irmãos embala ritmos como rock, reggae e afrobeat. Outra produção foi a música Chega, Vai (2017), utilizada como trilha sonora para apresentação do grupo Vogue 4 Recife no concurso internacional 'Dance Your PhD'.
Novo EP
Blendbuco Nordestrônic (2018) é o primeiro EP de uma trilogia que será lançada durante o ano pela banda e pode ser ouvido no Youtube. Para 2018, novas produções paralelas e parcerias são esperadas.