O jornalista, produtor musical e jurado de TV Carlos Eduardo Miranda morreu nesta quinta-feira, por volta das 20h, decorrente de um mal súbito, em sua casa, em São Paulo, um dia após completar 56 anos. Responsável por produzir e revelar bandas nos anos 1990 como Mundo Livre S/A, Raimundos, Skank, O Rappa, Virguloides, Cordel do Fogo Encantado, Cansei de Ser Sexy, Mascavo Roots entre outros, ele participou também dos programas de televisão Ídolos, Astros, Qual é o Seu Talento? e JK Show.
Gaúcho de Porto Alegre, o “veinho", como era chamado por usar sempre esta palavra como gíria, passou mal quando estava em casa com a mulher, cantora e preparadora vocal gaúcha Isabel (Bel) Hammes e uma filha recém-nascida, quando começou a sentir fortes dores de cabeça.
INCENTIVADOR DO MANGUEBEAT
Miranda tinha forte ligação com a cena musical pernambucana. Foi um grande incentivador do manguebeat, não somente escrevendo e divulgando o movimento como também produzindo o primeiro disco da Mundo Livre S/A, Samba Esquema Noise, lançado pelo selo que ele criou, Banguela Records, em parceria com os Titãs para a Warner Music nos anos 1990.
O músico teria sentindo uma forte dor de cabeça. Depois foi para o quarto e sentou na cama, onde veio a falecer. "É verdade sim. Estou sem reação até agora", disse Ricardo Mantoanelli ao UOL, por telefone. "Infelizmente essa trágica notícia é verdadeira, acabei de saber. O Miranda era um cara absurdamente inteligente. O Brasil perdeu um cara do bem. É uma pena", afirmou o cantor e compositor Thomas Roth, aos prantos, também por telefone. Os dois eram amigos próximos de Miranda. Thomas participou como jurado no mesmo programa que Miranda.
"Minha vida sempre foi arriscar”, disse Miranda certa vez ao poeta e apresentador Fabrício Carpinejar, no programa A Máquina, da TV Gazeta-SP, em 2014. Por conta desse seu espírito destemido, ele confessava estar “falido”, ao ser dispensado do SBT após a suspensão do programa Astros. Como jurado, ele trabalhou na emissora de 2006 a 2013, participando também dos programas Ídolos (programa inspirado no britânico Pop Idol, que esteve no ar entre 2006 e 2012) e Qual o Seu Talento?
Pela manhã de hoje, numa das últimas atividades dele no Twitter, o produtor elogiou MC Carol. "MC Carol é a melhor. A mais f*da! Minha ídola!!!", postou.
Como músico, tecladista e compositor, Miranda fez parte das bandas Taranatiriça, Atahualpa Y Us Panquis e Urubu Rei, nos anos 1980, e Aristóteles de Ananias Jr., nos anos 1990.
REPERCUSSÃO
A Mundo Livre S/A compartilhou uma mensagem sobre a importância de Miranda para a banda. "Difícil expressar o profundo choque e a tristeza que se abateram sobre a banda com o súbito falecimento do músico, produtor e brilhante agitador cultural Carlos Eduardo Miranda. Amigo e parceiro desde o Abril Pro Rock 93, o popular Veinho foi um dos primeiros a nos abrigar no Sudeste, patrocinando e produzindo - através dos selos Banguela e Excelente Discos - os álbuns Samba Esquema Noise (94), Guentando A Ôia (96) e Carnaval Na Obra (98).
Desejamos muita luz e energia a todos os familiares e amigos mais próximos para suportar a imensurável perda dessa figura sempre otimista, cuja máxima era “só alegria”. Tristes demais por terem nos roubado aquele que prometia ser um dos momentos mais felizes dos próximos meses: ouvir junto com Miranda o novo disco e presenciar suas primeiras reações. Suas expressões de êxtase artístico, gozo e nirvana, afinal, marcaram nossas vidas..."
“Amigo, mestre parceiro generoso. Descanse em paz”, velhinho, postou em sua página no Facebook o produtor Antonio Gutierrez, do Festival Rec-Beat, que trabalhou com ele na produção de discos da Mundo Livre S/A e Cordel do Fogo Encantado.
Paulo André Pires recordou a presença de Miranda na primeira edição do Abril pro Rock, em 1993. "Miranda na platéia, ao lado de Zeroquatro Montenegro e Marcelo Soares, tentando entender o som de uma banda nova, com formação ainda indefinida, na 1ª edição do Festival Abril Pro Rock. Saudade", recordou, referindo-se a Chico Science e Nação Zumbi.
"O espírito não morre jamais, siga na luz da evolução Miranda. Missão cumprida por aqui!", despediu-se Clayton Barros, do Cordel do Fogo Encantado.
"O grande Carlos Eduardo Miranda foi uma figura seminal na nossa história. Foi ele quem chamou a atenção da imprensa do eixo Rio-SP sobre um quarteto que vinha de Minas Gerais e misturava reggae, pop, ska. Foi a chave que abriu a porta pro que viria depois. Ele teria ainda grande contribuição ao longo da nossa carreira, especialmente no disco Maquinarama. Estamos muito tristes com a notícia de seu falecimento. Que sua travessia seja tão leve e divertida quanto a vida que ele levou aqui. Nossos pensamentos estão com sua filhinha Agnes e sua companheira, Bel. Vá em paz, amigo", postou o Skank.
“Dono de uma sinceridade ímpar, de uma sagacidade enorme, de muito humor, de muita paciência, um cavalheiro e um mestre capaz de lhe dar uma aula sobre tudo a cada momento... Obrigado por todas as lições e por tudo que falou ao vivo, em entrevistas, em palestras, em documentários, em comentários pra calouros ou pras bandas. Nem sei quantas vezes encontrei com ele.. não foram muitas mas também não foram poucas, mas em todas sinto que aprendi um pouco mais. Uma grande perda pra gente que teve a sorte de conviver com ele...”, disse o jornalista Jarmeson de Lima, um dos criadores e curadores do Coquetel Molotov.
"Bah, não temos palavras para te descrever. Amigo, herói... Nossos corações estão apertados. Nesse exato momento só podemos dizer obrigado e rezar para que esteja nas nuvens, que te conhecem bem. Obrigado, amigo.", comentou a jornalista Bebel Prates.