Nome: Supla. Sobrenome: Suplicy. Nacionalidade: Todas. Estas informações vão estar no passaporte que ilustra a capa do disco Illegal (2018), onde o cantor paulista – batizado como Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy – apresenta seu novo trabalho em estúdio, produzido de maneira independente, nas plataformas digitais nesta sexta-feira (30). O álbum, inclusive, virá de forma bilíngue, com 16 canções em português e as mesmas faixas em inglês, além de uma faixa bônus.
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Além de se apresentar como uma pessoa do mundo na capa, Supla explica que isso também se reflete na sonoridade. “Illegal é uma junção de todos os estilos que eu gosto, basicamente. Eu chamo de música do Supla. Tem música punk, metal, new wave, eletrônica e uma influência de uns sons da Polinésia em músicas como Tatuado em Mim, Eu Vou até Tokyo e Ser Heróis”, explica o cantor e compositor de 51 anos por telefone, em entrevista ao Jornal do Commercio.
O nome do disco, produzido por Supla e Kuaker, que também é o título da faixa que abre o álbum (cantado em inglês, espanhol e português) revela o conceito deste trabalho. “Illegal diz muito sobre os imigrantes, pois eles são muito importantes para o Brasil e no mundo. Quando digo em espanhol na música: ‘Nenhum ser humano é ilegal/ Somos descendentes de algum ancestral/ Que teve que fugir de sua terra natal/ Estados Unidos, não sou ilegal’, eu busco quebrar o muro no refrão, como se fosse o muro de Donald Trump, com uma pitada de AC/DC”, descreve o músico.
Gravado entre seis e sete meses no ano passado, as músicas de Illegal trazem críticas não só ao atual presidente dos Estados Unidos. Prazer Exclusivo, por exemplo, é “dedicada” ao universo do prefeito de São Paulo, João Dória. Na letra que fala de ganância dos mais ricos, sobra até para quem votou no político: “Eleitores do Dória/ Faltaram na aula de história do Brasil”, canta.
O álbum traz as participações de Edgard Scandurra fazendo os backing vocals da faixa Cresça e Aconteça, e Badauí, vocalista do CPM 22, na música Essa Não É a Balada do Ed Stab.
Sobre lançar um disco autoral em duas línguas, Supla garante pensar um pouco mais a frente: “É uma questão de você querer expandir a sua música”, esclarece. “Cresça e Aconteça, por exemplo, eu gosto dela em português mais do que em inglês, apesar de eu ter feito em inglês”, diz aos risos.
ABRIL PRO ROCK
Conhecedor da cena musical pernambucana, Supla também revelou um desejo antigo: se apresentar no Abril Pro Rock. “Eu nunca toquei nesse festival e eu já falei com Paulo André (produtor e organizador do festival) algumas vezes. Ele foi muito respeitoso em relação a mim. Fiquei sabendo que o baterista original dos Ramones vai tocar aí esse ano. E o som que eu estou fazendo agora ia acrescentar muito ao Abril Pro Rock. Acho que o pessoal ia gostar muito, porque apresentaria esse novo disco e traria hits meus como Humanos, Garota de Berlim, entre outros”, sugere. Mesmo com o line-up do evento já definido, a vontade do cantor segue em aberto.
Antes que o público ouça o disco na íntegra, os clipes de Illegal, Eu Vou até Tokyo (e a versão em inglês Waiting for Tokyo), Cresça e Aconteça (e a versão Talent Where Is Your Talent) e Prazer Exclusivo já estão disponíveis no canal de Supla no YouTube.
Uma das surpresas deste novo álbum é a releitura punk de Imagine, o clássico de John Lennon, que não soa deslocado da proposta de todo o trabalho.
A verdade é que Illegal poderia ser mais um disco de protesto sem causa de um cantor rotulado como punk. Supla, no entanto, apresenta uma experiência musical, onde ele investe tanto na mistura de ritmos quanto na reflexão dos costumes da sociedade que teima em impor limites, tanto no Brasil, como no mundo.