Entrevista

Tim Bernardes mostra o lado íntimo nesta quarta no Teatro Santa Isabel

Conhecido como vocalista da banda O Terno, Tim Bernardes traz pela primeira vez ao Recife o show do seu elogiado disco solo, 'Recomeçar'

JC Online
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Publicado em 11/04/2018 às 12:05
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Conhecido como vocalista da banda O Terno, Tim Bernardes traz pela primeira vez ao Recife o show do seu elogiado disco solo, 'Recomeçar' - FOTO: Foto: Fabio Politi/Divulgação
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Tim Bernardes chega hoje ao Recife para apresentar, às 20h, no Teatro de Santa Isabel, o show de Recomeçar (R$ 80 e R$ 40, meia), debut de sua carreira solo. O paulistano, considerado um dos grandes compositores de sua geração, é conhecido pelos vocais da banda O Terno. A apresentação promete ser pessoal e intimista como o disco solo, que segue o influxo das emoções.

Confira a entrevista:

JORNAL DO COMMERCIO — Tim, suas músicas, sobretudo as do disco solo, costumam gerar forte identificação com o público. É comum de se ver em sites e redes sociais de música, por exemplo, comentários como “parece que essa letra foi feita pra mim”. De onde você diria que vem essa conexão? Esperava ter uma receptividade como essa?
TIM BERNARDES — Eu não sabia muito bem o que esperar porque o Recomeçar é um apanhado de canções mais pessoais, mais íntimas, bem diferente do que eu tinha feito com O Terno. Isso pode ser um ponto de conexão com as pessoas, estar falando de sentimentos que são universais, relacionados ao amor, à busca. E como isso é falado de uma maneira sincera, acho que as pessoas acabam se enxergando de alguma forma.

JC — Pelo que vi, o álbum é composto por canções que você já tinha escrito há tempos, lá no começo d’O Terno, e por outras mais recentes. Por que levou tanto tempo para expor algumas dessas composições? E o que te fez sentir preparado para lançá-las agora?
TIM — Acho que foi uma conjunção de coisas. Eu fazia essas músicas que julgava um pouco mais íntimas, que julgava que fariam sentido se eu gravasse sozinho. Acho que ainda não era encorajado. E eu tinha muita vontade de lançar o repertório d’O Terno, que foi construído paralelamente. Mas eu senti que as músicas continuavam fazendo sentido enquanto o tempo ia passando, sabe? Então fui criando confiança. Eram músicas que retratavam de um jeito bonito e sincero as coisas que eu passei, pensamentos que tive. E o álbum calhou de ser lançado em um momento que fez muito mais sentido do que na época em que compus, com esse público fiel d’O Terno, carinhoso e aberto ao meu jeito de expor e compor coisas mais pessoais. Não quis repetir os caminhos que já havia feito. E, bom, estar mais velho e tranquilo ajudou também (risos).

JC — E sobrou alguma composição nessa gaveta que, depois, quem sabe, possa ser usada?
TIM — Acabei tirando as minhas favoritas, quase não sobrou nenhuma. Mas é bom que quando a gaveta esvazia a gente começa a encher de novo.

JC — O show do Recomeçar conta com um cenário que representa o seu quarto e estúdio, onde você passou meses internado, sozinho, criando. Na apresentação, você também subirá ao palco só. Haverá uma banda com você, por trás da cenografia? Caso não, como irá fazer para compor o tom orquestral do disco na hora?
TIM — Então, além de ter essa vontade de fazer um disco sozinho, com as orquestrações que eu imaginava, eu também queria poder fazer um show totalmente solo, que retratasse a solidão que perpassa todo o álbum. Do jeito que compus as letras, cruas. Essa vontade de subir ao palco sozinho foi crescendo e calhou de nesse momento eu estar com segurança para isso. No palco, eu toco algumas músicas no violão e na guitarra, outras toco sozinho no piano. Eu não queria que esse cenário parecesse montado, que tivesse aquela luz de show pré-montada. Por isso utilizo abajures e alguns refletores, para fazer a letra crescer e entrar no núcleo da canção, deixando a voz ser a protagonista da cena. Eu gosto desse resultado mais íntimo, só eu e a plateia.

JC — Entre as músicas que podem ser tocadas no show, está Soluços, de Jards Macalé, e um medley com Changes, de Black Sabbath e Paralelas, de Belchior. O que essas canções representam pra você? E o que levou a incluí-las no repertório?
TIM — A escolha dessas músicas tem a ver com o momento que compus as canções do disco. Eu, nessa solidão do Recomeçar, sentia aquilo que você falou na primeira pergunta. Eu me identificava com esses compositores no meu estado solitário de busca, de esperança. São músicas que foram compostas também por um garoto de 20 e tantos anos se deparando com dilemas pela primeira vez, com desilusões, com quebras e tudo mais. Então, tem a ver com isso e também por me levar a explorar versões folk brasileiras delas, como elas se pudessem estar dentro do Recomeçar.

JC — E de onde veio a ideia desse inusitado medley?
TIM — Risos. Tem a ver com essas coisas que gosto de tocar no quarto. Changes é uma música que me toca muito, porque ela é simples, mas muito direta. Consegue falar de uma maneira pop sobre um sentimento genuíno. E embora Paralelas e Changes pareçam coisas distantes, elas têm um clima semelhante, são bem parecidas uma com a outra e também com o Recomeçar. Enfim, eu fui tocando, fui misturando no piano, e achei legal.

JC — Na música Tanto Faz, você diz: “E se olhando com calma o buraco está bem mais embaixo”. É um trecho que parece estar mais atual do que nunca, sobretudo em se tratando do momento político que vivemos. Acredita que ainda há esperança para os brasileiros? Após a tempestade, será que virá a bonança, como profetiza o Recomeçar ao falar de ciclos?
TIM — Eu sou otimista, sabe? Pensando na situação sócio-política do Brasil e do mundo, nessa fase muito louca de polarização e discurso raso, na qual argumentos são do tamanho de um tuíte e é tudo preto no branco, acho que às vezes é bom desmoronar para a gente poder ver o que quer construir. O negócio é que a gente chegou num ponto em que não sabe nem por onde começar. Estou me esforçando para entender o que está acontecendo. Eu sinto que as pessoas estão desnorteadas, em estado de choque. O Recomeçar é um disco que está nesse limbo “pós” um final e “pré” uma nova estrutura se formando, mas o tempo é fundamental nessa transição. No fim de um relacionamento e de uma fase da vida, que são questões paralelas no disco, o tempo de luto é relativo, pode levar um ano, por exemplo. Mas com relação ao País eu sinto que isso vai levar bem mais do que um ano, pois aconteceram coisas que levaram a gente a um grande retrocesso.



JC — Para finalizar, gostaria de saber quais são seus próximos projetos. Se pretende lançar outro álbum solo e como vai fazer para conciliar essa carreira de “one-man band” com a sua posição de frontman d’O Terno.
TIM — Neste momento estou tentando conciliar duas coisas de que gosto muito. Ambos são trabalhos autorais meus, estou encabeçando a coisa. Ano passado, depois que lancei o disco, consegui fazer um pouco de show meu e um pouco d’O Terno. Estou bem interessado nessa alternância, de rodar um disco com a banda e depois rodar um meu, tentando fazer isso de uma forma saudável, que de uma maneira criativa e que eu goste. Agora estou em estúdio, mexendo em um repertório novo que compus para O Terno.

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