Quando J Balvin lançou seu quarto álbum, Energía (2016), o espaço ocupado pela música latina no mundo era um. Menos de 365 dias depois, a cena era completamente diferente, com a ascensão do ritmo a escalas inéditas, graças à popularização das plataformas de streaming e o sucesso de faixas como Despacito, de Luis Fonsi e Daddy Yankee, e Mi Gente, de Balvin. Agora, o colombiano dá continuidade ao seu projeto de globalização do reggaeton com o recém-lançado álbum Vibras.
Em artigo publicado em janeiro deste ano no site da revista americana Billboard, a jornalista Leila Cobo aponta que, em 2017, 19 canções em espanhol figuraram na principal parada de música dos EUA, um recorde. Para se ter ideia, em 2016 apenas quatro faixas conseguiram o feito e, em 2015, três. Ela aponta que em outras décadas artistas da América Latina conseguiram, em algum momento, furar a barreira da anglofonia, como Gloria Estefan, Ricky Martin, Santana e Shakira. Para tanto, a maioria precisou, em algum momento, cantar em inglês ou se colocar no lugar do “exótico”.
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Não é o caso da nova leva encabeçada por J Balvin, que faz um álbum orgulhosamente latino, mas que, no processo, quer ressignificar a própria ideia de latinidade ou de limitações de gênero, em sintonia com um mundo globalizado. Mi Gente, uma mescla de reggaeton, hip hop e música eletrônica e maior hit do artista, fala justamente do diálogo entre diferentes culturas. A mensagem ressoou: a faixa chegou ao primeiro lugar em 30 países, já acumula 1,8 bilhão de visualizações no Youtube e ganhou um remix com Beyoncé. Atualmente, Balvin é o segundo artista mais ouvido no Spotify mundial.
VIBRAÇÕES
J Balvin já declarou sua ambição de firmar o reggaeton, muito além de uma moda passageira, em escala global. Deseja atingir públicos que não tenham necessariamente familiaridade com o espanhol, mas que se conecte com as batidas e as melodias, bem ao estilo do que a música pop americana (amparada por uma grande indústria) faz. Em Vibras (vibração, em português), ele atinge esse objetivo.
A faixa-título, que abre o álbum, já subverte as expectativas, apostando no minimalismo da produção. Nos segundos finais, entram os acordes de Mi Gente, estratégia de transição que marca outros momentos do disco e reforça o refinamento da produção, que vai de baladas a faixas dançantes sem choque.
Essa sensação é reforçada pela convivência harmônica entre as solares Ahora, Peligrosa e Donde Estarás, a sensualidade de Brillo, com a espanhola Rosália, e En Mí; e a experimentação do dancehall Machika, com participação de Jeon e Anitta (Balvin é um dos maiores apoiadores da carreira internacional da brasileira).
Trap, hip hop, pop, afrobeat, flamenco, cumbia, house music, tendo como base o reggaeton: no caldeirão cultural de J Balvin, todos os ritmos se misturam e não se sobrepõem um ao outro. A música do colombiano é inclusiva – um contraponto importante ao cenário sociopolítico contemporâneo.