Desde de sua gênese no anos 1990, a Nação Zumbi fincou sua bandeira na história da música brasileira por meio de suas misturas e experimentalismo, trazendo sonoridades e temáticas inéditas, que influenciaram toda uma geração. Tecnologia, ficção científica e texturas sonoras são alguns dos elementos presentes a trajetória dos pernambucanos, que também encontram pares no trabalho de releitura Moogbeat – Nação Zumbi para Minimoog, do músico e produtor Carlos Trilha. Nele, oito faixas de diversas fases da Nação ganham uma roupagem eletrônica a partir do uso apenas de um instrumento que revolucionou a música na década de 70.
O sintetizador criado por Bill Hemsath e Robert Moog divide o estrelato do álbum com Trilha e a Nação Zumbi. O teclado foi de grande importância para a música eletrônica e rock progressivo, tornando portátil os robustos sintetizadores modulares. Seu som pode ser ouvido em faixas de Vangelis, Kraftwerk, Rush, Pink Floyd, Emerson, Lake & Palmer, até mesmo em Thriller, de Michael Jackson.
"O Minimoog é um instrumento icônico, todos os tecladistas ligados em sintetizadores sonham em ter um, já que foi um divisor de águas na música. É um instrumento difícil de encontrar funcionando, consegui um em 2006 e, desde então, é parte fundamental da minha parafernália", explica Trilha.
A decisão de usar um de seus brinquedos favoritos com músicas da Nação Zumbi não foi algo tão planejado. Entrou em contato com os integrantes do grupo quando participava da banda da cantora Marisa Monte, que contava também com Pupilo (bateria), Lúcio Maia (guitarra) e Dengue (baixo). Fã declarado do grupo pernambucano e tecladista do Los Sebozos Postizos, projeto paralelo da banda, marcava presença em todos os shows deles no Rio de Janeiro, bem de pertinho no palco.
Foi em um deles que veio o insight que começou tudo. "Eu estava lá e ouvi o peso que colocavam ao vivo em Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada, o baixo do Dengue, fiquei extasiado. Veio a ideia de brincar com eles, pegando essa música e tocando no Minimoog, os graves funcionariam bem", conta Carlos.
Empolgação da Nação
O trabalho pronto foi mostrado a banda e recebido com a aprovação mais empolgada possível. Pupilo imediatamente sugeriu que aquilo deveria se tornar um álbum, Carlos aceitou a proposta, mas receoso de que não fosse capaz de "tirar o mesmo coelho da cartola". O baterista pediu para que a próxima faixa a ser trabalhada fosse Prato de Flores, que também recebeu aprovação imediata e o mesmo entusiasmo. "Fico imaginando como deve ter sido a sensação para eles, de ouvir algo que é deles, mas ao mesmo não é, ainda com sons que ele são fãs, como Kraftwerk, a gente sempre conversava sobre música eletrônica", diz.
Trilha afirma levar cerca de um mês para cada faixa, levando um ano para ter todo o álbum pronto. “Substituir a voz, manter um timbre sintético e fazer a melodia é um desafio, principalmente para conseguir chegar no mesmo clima das músicas originais. Mas eu queria mesmo as mais difíceis, buscar soluções para cada uma delas”, salienta.
Além das duas citadas, Meu Maracatu Pesa uma Tonelada e Prato de Flores, o álbum ainda conta com Blunt of Judah, Futura, Bala Perdida, Cicatriz, Quando a Maré Encher e Hoje, Amanhã e Depois. Ele pontua que a escolha das músicas não esteve sob nenhum critério histórico ou vontade de fazer uma coletânea de maiores sucessos da banda. Se baseava mais em músicas que ouvia nos shows e que estavam mais frescas em seu repertório.
O disco foi lançado em julho deste ano e pode ser encontrado nas plataformas de streaming. Um show foi montado para apresentar o projeto e estreou em Florianópolis, terra-natal de Trilha, com planos de circular o Brasil com o trabalho.