Concerto

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto apresentam 'Valencianas' no Recife

Sob regência do maestro Rodrigo Toffolo, canções de Alceu ganham feição orquestral

Erika Muniz
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Erika Muniz
Publicado em 28/09/2018 às 10:17
Foto: Naty Torres/ Divulgação
Sob regência do maestro Rodrigo Toffolo, canções de Alceu ganham feição orquestral - FOTO: Foto: Naty Torres/ Divulgação
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Na canção Ladeiras, do álbum Maracatus, Batuques e Ladeiras, Alceu Valença se vale desse importante componente da topografia local para prestar homenagem a Olinda. Todo o disco, aliás, apresenta a cidade, refúgio da arquitetura do período colonial e de tantos carnavais, como mote de sua inspiração. Naquela versão, pelos idos de 1994, além de seu timbre inconfundível, os violões, o baixo e a melodia do sax com autoria de Mário Séve revelavam suas influências nordestinas, que ele traz consigo desde a infância em São Bento do Una. Essa e outras composições do artista ganharam novos arranjos, adaptados para contornos orquestrais, e, neste sábado (29), a partir das 21h, podem ser conferidas pelo público pernambucano no espetáculo Valencianas – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto, no Teatro Guararapes, do Centro de Convenções.

Após circular por estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, e também em Portugal, pela primeira vez a turnê chega ao Recife. Nos próximos meses, as cidades de Salvador (BA), Aracaju (SE) e Maceió (AL) também serão presenteadas com as apresentações. Cerca de 25 músicos compõem a orquestra, além dos integrantes das equipes técnica e cenográfica. Apesar de a circulação estar ocorrendo desde 2014, por dificuldades logísticas para a mobilidade de todo o grupo, as apresentações na região Nordeste só puderam acontecer este ano.

Segundo Alceu, a ideia inicial que fez com que Valencianas se concretizasse partiu do amigo e diretor de cena do espetáculo, Paulo Rogério Lage, que o impulsionava a desenvolver algo com contornos de música de concerto em torno de sua obra. “Ele falava sobre a Orquestra Ouro Preto, queria que eu encontrasse eles para que nós fizéssemos um projeto. Isso demorou um pouco, uns dois anos, até que um dia conseguimos conciliar as agendas. O arranjador da orquestra, Mateus Freire, e o maestro Rodrigo Toffolo passaram sete dias entre o Recife e Olinda. Nós ouvimos todo o repertório. Eles têm tudo. Nem eu tenho tudo aquilo”, relembra o compositor entre risos. Em 2012, ao completar quatro décadas de carreira, foram apresentadas as 13 canções sob a regência de Toffolo, que também é responsável pela direção artística.

Vencedor do Prêmio da Música Brasileira, em 2014, na categoria Melhor Álbum de MPB, o título Valencianas faz alusão às Bachianas, do compositor modernista Heitor Villa Lobos. “Villa Lobos se inspirava muito nas coisas do Nordeste. A música erudita tem como referência a música popular. Para a suíte do início, eles se inspiraram na minha musicalidade e transformaram ela a partir da orquestração. Ficou muito bonito”, pontua o músico em entrevista ao Jornal do Commercio.
Entre as canções mais conhecidas pelo público, integram o repertório deste show Anunciação, Tropicana, Girassol, Coração Bobo, La Belle de Jour e Sete Desejos, além de, claro, Ladeiras, que Toffolo revela ter sido a primeira a ser incorporada à seleção. Isso porque tanto Ouro Preto, quanto Olinda – cidade escolhida por Alceu antes de partir para o Rio de Janeiro, em 1970 –, exibem similaridades quanto à arquitetura do período colonial e suas ladeiras.

“Tem um frevo instrumental chamado Apague a Luz que ficou uma maravilha. Ele foi feito pensado para os metais, mas eles passaram para as cordas e ficou incrível, com muito swing e uma grande regência”, afirma Alceu, que alinhava toda a entrevista a memórias da infância em São Bento do Una e sua história musical.

Do Agreste ao Recife e muito mais

As vivências contadas por Alceu, além de suas composições, serviram para que Mateus Freire compusesse a suíte que abre o concerto. Através da música, o paraibano sugere uma espécie de percurso do Agreste ao Recife, quando passa pelo maracatu e os caboclinhos. Faz parte da proposta da Orquestra Ouro Preto promover o diálogo entre erudito e popular. Entre seus projetos destacam-se um com o também pernambucano Antônio Nóbrega e o espetáculo The Beatles, que revisita o repertório do quarteto de Liverpool. De toda sorte, seja na Ladeira da Misericórdia, no Rio de Janeiro ou em Ouro Preto, Alceu Valença é um dos artistas cujas composições despertam memórias afetivas e fazem parte do cancioneiro brasileiro.

 Valencianas – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto. Neste sábado, às 21h. No Teatro Guararapes, Centro de Convenções, Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda. Ingressos esgotados na bilheteria. Informações: (81) 3182-8020

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