Rock

Greta Van Fleet traz rock and roll de volta às paradas

Grupo americano criticado pela semelhança com o Led Zeppelin

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/11/2018 às 13:30
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Grupo americano criticado pela semelhança com o Led Zeppelin - FOTO: Foto: Divisão
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Em 1974, quando o mercado estava dominado pelo cerebralismo, de álbuns conceituais, com canções de letras impenetráveis, ou por um pop xaroposo, acústico e romântico, surgiu em Detroit uma baixista à frente de um grupo de marmanjos. Susan Kay Quatrocchio, ou Suzie Quatro. Produzida na Inglaterra pelo Midas Mickie Most, seu glam rock extremamente pop estourou na Europa e na Austrália, embora pouco nos EUA. Raramente se cita Suzie Quatro entre os que influenciaram o punk rock. Sua trajetória foi meteórica, mas os dois anos de sucesso de Suzie Quatro contribuíram para trazer o espírito básico do rock and roll de volta ao gênero.

Um fenômeno que se repete agora com as bandas Greta Van Fleet, americana, e The Struts, inglesa. A primeira, com o álbum Anthem of the Peaceful Army e a segunda com Young & Dangerous. Ambos os grupos são confessadamente retrôs. Greta Van Fleet é uma espécie de Led Zeppelin bubblegum, ou seja, de baixos teores, até porque os integrantes do quarteto mal saíram da adolescência. A The Struts escancara influências que vão do Queen ao metal farofa dos anos 70, até The Strokes. As duas levantam a moral das guitarras e do rock and roll, que há tempos andam por baixo, num mercado dominado pelo R&B estilizado e o rap pop.

“Greta Van Fleet soa como se os caras tivessem fumado um, chamado a polícia, enquanto tentava gravar um disco do Led Zeppelin antes de serem presos”, é a definição perfeita, de Jeremy D. Larson, na revista eletrônica Pitchfork. Formada pelos irmãos Joshua, Jake e Sam Kiszka (Joshua e Jake são gêmeos), e o amigo Danny Wagner, Greta Van Fleet estreou em disco no ano passado com um EP, Black Smoke Rising, e emplacou um hit no topo das paradas roqueiras da Billboard. Copiava descaradamente o Led Zeppelin e foi elogiada por Robet Plant, que não podia agir diferente. Afinal, quem integrou o Led Zeppelin não pode reclamar de cópia.

SEMELHANÇAS

A voz de Joshua Kiszka é feito se Robert Plant fosse influenciado por Geddy Lee Rush. Jake, Sam e Danny cada qual emula sua parte. Os Monkees foram assim em 1966, porém até 1968 se limitavam a cantar, com a produção se encarregando do restante, inclusive do repertório. O que não é o caso da Greta Van Fleet, que escreve suas canções à Led Zeppelin. Na base do não tem tu, vai tu mesmo, a turma que não era nem sonho erótico dos genitores quando o LZ existia, acorre em massa aos shows do Greta Van Fleet para esta segunda vinda fake. Sim, fake, mas divertida.

Com exceção da pretensiosa e chata faixa de abertura Age of Man, que está mais para o rock progressivo, Anthem of the peaceful Army é entretenimento, para quem não procura a transcendência num disco de rock and roll. O vocalista Joshua consegue ir nos tons altíssimos em que a voz de Robert Plant costumava trafegar. Led Zeppelin pairava entre canções místicas celtas e as de apelo sexual, em versos como “Esprema meu limão até que sumo escorra pela minha perna” (Squeeze My Lemon, do Led Zeppelin II, uma chupada de Travelling Riverside Blues, de Roberto Johnson que, por sua vez, reescreveu She Squeezed My Lemon, de Arthur McKay). A Greta Van Fleet canta tolas canções de amor, e explora também o misticismo, porém como se fossem inspirados em O Senhor dos Anéis (J.R.R. Tolkien), ou Crônicas de Narnia (Clive Staples Lewis), vistos em filmes infanto-juvenis.

Tem faixas em que o GVF vai além da tentativa de copiar o som do Led Zeppelin, aproxima-se do plágio. É o caso de Love, Leaver que é Whole Lotta of Love, o maior hit do LP, de 1970, que aliás também é plágio de I Need Love, de Willie Dixon (que se tornou oficialmente coautor em 1985). Greta Van Fleet está bombando nas plataformas de música por streaming e dividiu a crítica: uns adoram, outros esculacham. A GVF é feito pipoca ou sorvete, pra distrair. Talvez evolua para algo original. E não deixa de já ser original, uma banda cover que canta músicas autorais

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