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Mimo há 15 anos trazendo música de qualidade à Olinda

Festival começa hoje e terá Hermeto Pascoal e Tom Zé

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/11/2018 às 9:15
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Festival começa hoje e terá Hermeto Pascoal e Tom Zé - FOTO: Foto: Divulgação
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“Na recordação da vida da gente, o Mimo é uma coisa que merece tanto carinho que me lembrei de Machado de Assis”, comentou o baiano Tom Zé, ontem, logo depois desembarcar no Aeroporto dos Guararapes, citando versos do poema Menina e Moça: “Menina e Moça/ Está naquela idade inquieta e duvidosa/ Que não é dia claro e é já o alvorecer/ Entreaberto botão, entrefechada rosa/ Um pouco de menina e um pouco de mulher”, a referência ao escritor, e especificamente este poema, alusão ao 15 anos que completa a Mostra Internacional de Música de Olinda, Mimo, que tem sobrevivido às dificuldades causadas com a crise econômica recente do País. Tom Zé será, hoje, a última atração da primeira noite do festival, que se estende até o domingo.

A jovem Mimo, “entreaberto botão/entrefechada rosa” começa hoje sua programação de shows, com um supermúsico de 82 anos, o alagoano de Lagoa das Canoas Hermeto Pascoal, que ganhou dias atrás o Grammy Latino, pelo álbum Natureza Universal. Ele toca com o grupo Brasil, formado por Itiberê Zwarg (baixo), Jota P. (saxes e flautas), Fabio Pascoal (percussão), André Marques (piano) e Ajurinã Zwarg (bateria). Gênio carismático, imprevisível, nunca se sabe o que Hermeto aprontará num concerto. De repente, ele pode sair com a banda porta afora, num cortejo musical pelo Alto da Sé. A programação na Praça do Carmo será aberta pelo DJ Montano, que toca na Mimo desde 2015. Ele imprime sua batida aos mais variados gêneros, do Maracatu ao Acarajazz, passando pelo samba jazz, e o acid jazz.

Uma das características da Mimo é apresentar novos horizontes sonoros, que dificilmente chegariam à Olinda. No caso de hoje, o grupo português Dead Combo, criado, 15 anos atrás, por Tó Trips e Pedro Gonçalves. A banda apresenta um repertório baseado no recente Odeon Hotel, seu sexto disco. Pela primeira vez, Tò e Pedro gravaram com uma banda, na qual tocou Gui, do Xutos & Pontapés (banda emblemática do rock português do anos 80, e 90). O Dead Combo faz música instrumental, tocando de fados a surf music. Se bem que em Odeon Hotel, o roqueiro americano Mark Lanegan (Screaming Trees) canta na faixa I Know I Alone (baseado num poema de Fernando Pessoa).

O festival termina a noite de sexta-feira com outro oitentão, o baiano Tom Zé, que rejuvenesce no palco, em shows que são célebres pelo inusitado. Nelson Rodrigues dizia que um telefonema é uma janela aberta para o imponderável. Definição que poderia ser aplicada a Tom Zé no palco. Hoje ele apresenta um concerto montado especialmente para o Mimo: “Com música balançadas, dançáveis, às vezes o público pede uma coisa ou outra, se tiver ensaiada a gente canta. Não será o show do último disco (Canções Eróticas de Ninar). Tem coisa que nem lembro de que disco são. São as canções mais populares”. Ele toca com músicos que o acompanham em boa parte de sua trajetória, a exemplo do paraíbano Jarbas Mariz. Ás 16h, Tom Zé fará palestra no Fórum de Ideias, no Mercado Eufrásio Barbosa.

POP ÁRABE

Egberto Gismonti é uma entidade da música instrumental brasileira, e mundial. Com 50 anos de carreira, contados a partir da participação no Festival Internacional da Canção, de 1968, com Sonhos (defendida pelos Três Moraes). O primeiro álbum é de 1969, depois deste sua discografia aumentou em mais 59 títulos. Daqueles músicos que dispensam apresentação, Egberto Gismonti é recordista em participações na Mimo. O concerto que apresenta amanhã, na Igreja da Sé, será o nono no festival, tanto solo ou com parceiros. Em 2007, Gismonti e Naná Vasconcelos proporcionaram, na Igreja da Sé, um dos momentos inesquecíveis da Mimo em Olinda, quando tocaram, na íntegra, o antológico álbum Dança das Cabeças. Vencedor do Prêmio Mimo de Música Instrumental, o paulista Bruno Sanchez mostra sua habilidades na viola caipira, às 19h, na Igreja do Carmo.

Na Praça do Carmo, depois do set do DJ Montano, será hora de conhecer o grupo 47 Soul, formado por jordanianos e palestinos, e baseado em Londres, que traz rap, reggae, soul para o dabke, ritmo tradicional árabe, uma junção que resulta em música para dança, mas com letras engajadas. Os integrantes da 47 Soul batizaram a nova batida de shamstep. Dos muitos grupos da moderna música árabe, foi mais bem sucedido em Londres, e entrou no circuito dos grandes festivais, feito o Glastonbury. O 47 Soul faz música de resistência com leveza.

Depois, o rapper Emicida, que deverá levar público recorde à Praça do Carmo, receberá uma plateia aquecida. Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, é atualmente o rapper mais popular do país, e fará uma retrospectiva de carreira, começando pela primeiro mix tape, Pra Quem já Mordeu um Cachorro por Comida Até que Eu Cheguei Longe, até os sucessos mais recentes, feito A Chapa Quente. Emicida participa do Fórum de Ideias, as 16h, no Eufrásio Barbosa.

O final da Mimo 2018, não poderia ter atração mais apropriada. A programação será fechada pela Eddie, banda que é um “cartão postal sonoro” de Olinda. O grupo está celebrando os 20 anos do álbum de estreia Sonic Mambo, e dará uma geral na oba do grupo (em 2019. a banda completará 30 anos). Antes da Eddie, e depois do DJ Montano, um mito da música pernambucana, a cirandeira Lia de Itamaracá. Mais cedo, às 17h, na Igreja do Carmo, a cantora gaúcha Grazie Wirtti e o pianista Leandro Braga apresentam o show inspirados em Canções Praieiras de Dorival Caymmi. Todos os shows são abertos ao público.

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