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Bohemian Rhapsody foi um sucesso inesperado

Queen só gravou a música pela insistência de Freddy Mercury

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 30/12/2018 às 9:38
Foto: divulgação
Banda de rock britânica Queen - FOTO: Foto: divulgação
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No embalo do filme Bohemian Rhapsody, a cinebiografia de Freddie Mercury e, por tabela, do Queen, comercialmente a mais bem-sucedida do gênero (já arrecadou US$ 600 milhões mundo afora; US$ 166 milhões só nos EUA), o Queen + Adam Lambert volta à estrada em 2019, com a turnê Rhapsody Tour. A cinebiografia, embora tenha dividido a crítica, tem arrastado multidões às salas de exibição e despertado o interesse pela obra da banda inglesa. A trilha sonora da cinebiografia figurou entre os dez discos mais vendidos nos Estados Unidos, logo que o filme virou fenômeno de bilheteria.

 Bohemian Rhapsody, a cinebiografia, angariou para o Queen uma horda de fãs nascida depois da morte do vocalista. O álbum A Night at the Opera (que traz Bohemian Rhapsody e Love of My Life) voltou a entrar na lista das 100 mais da Billboard. Lançada há 43 anos, Bohemian Rhapsody torna-se uma das raras canções a emplacar no topo das paradas três vezes, em décadas diferentes, em 1975, 1991 (ano da morte de Mercury) e 2018.

 Quando Brian May, Roger Taylor e John Deacon escutaram pela primeira vez a música, escrita apenas por Freddie Mercury, estranharam. Mas seguiram em frente conduzidos pelo vocalista. Perderam a conta de quantos “galileo” foram necessários para completar este pequeno trecho da canção. A Night At The Opera levou quatro meses e 40 mil libras para ser produzido, tempo de estúdio a que somente bandas como os Beatles tinham direito (Sgt Pepper’s, por exemplo, levou seis meses para ser finalizado). Na entrevista coletiva concedida pela banda para divulgar o álbum, Freddie Mercury explicou o motivo da extravagância:

 “Agora que estamos consolidados, podemos fazer certas coisas. Por exemplo, vocalmente a gente supera qualquer banda. Simplesmente achamos que podemos ir em frente, sem restrições, e fazer o que a gente quiser fazer. Coincidiu que eu tivesse essa coisa operística, e pensei, por que não? Nós vamos além a cada álbum. Mas é o jeito do Queen”. “Essa coisa operística” é também a recordista, do rock clássico, nas plataformas digitais: 1,6 bilhão de streamings.

 Freddie Mercury teve a ideia inicial de Bohemian Rhapsody em 1968, quando lhe veio o verso “mama, just killed a man” (“Mamãe, acabei de matar um homem”), até ganhar o título definitivo chamava-se The Cowboy Song. Um dos primeiros a escutar a música terminada foi o produtor Roy Thomas Baker, numa audição na casa de Mercury, que a cantou tocando no piano. Baker não conseguiu evitar de rir quando começou o pastiche de ópera. Assim como os demais integrantes da banda, não acreditava que a ideia conseguisse ser desenvolvida.

 Foi graças à persistente inventividade de Freddie Mercury que trouxe os esboços da ideia para o estúdio. A parte da “ópera” ficou pronta depois de 184 overdubs (acréscimo de vocais sobre vocais já gravados). Bohemian Rhapsody provocou reações contrárias a mais gente. Elton John, um especialista em hits, achou a música muito longa e muito esquisita para tocar no rádio. O pessoal da gravadora EMI pretendia que You’re My Best Friend fosse a música de trabalho (como se chamava então o que hoje se define como “single”).

 Elton John estava, parcialmente, certo. A canção é longa, tem quase seis minutos e, sem dúvida, é esquisita. Adiantando-se à EMI, o produtor mandou uma cópia de Bohemian Rhapsody para o DJ Kenny Everett (DJ e disque-jóquei, o cara que selecionava o que seria tocado na rádio), amigo de noitadas de Freddie Mercury. Everett tocou Bohemian Rhapsody 14 vezes, num final de semana, na Capital Radio, emissora londrina. Na segunda-feira foi imensa a procura pela música nas lojas de discos inglesas, levando a EMI a lançá-la como single do álbum.

 MAIS IDIOTA

 Bohemian Rhapsody, no entanto, não foi tão bem-sucedida nos EUA em 1976. Chegou ao novo lugar do paradão da Billboard. Graças ao cinema a música virou um megassucesso,  na década de 90, quando foi incluída numa das melhores cenas da comédia Wayne’s World (no Brasil, Quanto Mais Idiota Melhor), de Penelope Spheeris. O sucesso do filme catapultou a música do Queen para o 2º lugar nas paradas americanas.

 Curiosamente, na cinebiografia de Freddy Mercury, há uma cena em que o cantor insiste com o diretor da gravadora para que Bohemian Rhapsody seja o single de A Night At The Opera. O diretor é vivido por Mike Myers, coautor do roteiro de Wayne’s World e um dos atores do filme. A sinuosidade da trajetória da música não acabou quando se decidiu que seria o single.

Com a música estourada, o próximo passo seria apresentá-la no programa musical mais popular da Inglaterra, o Top of the Pops. Mas como reproduzir tantas vozes ao vivo? O resultado anteciparia a MTV em seis anos. Bohemian Rhapsody recebeu o primeiro clipe que foi além de uma peça de divulgação, como se fazia até então. Assinado por Bruce Gowers, que mais tarde dirigiria o MTV Movie Award, e vários programas similares. Ressalte-se que em 1975 se considerava ainda o Queen um grupo da nova geração.

A crítica de A Night at the Opera, no então jornal Rolling Stone, onde o álbum só foi resenhado em 1976, por Kris Nicholson, nem cita Bohemian Rhapsody, e considera The Prophet’s Song a melhor faixa do disco. O crítico preconizou a importância que o Queen iria adquirir a partir deste álbum: “Em menos de três anos, com quatro discos, o Queen ascendeu da divisão inferior do heavy metal para uma posição que o aproxima do Led Zeppelin e do Deep Purple. O que o diferencia é uma seleção de inusitados efeitos vocais: piano acústico, vocais a capella, a ausência de sintetizadores, aliada a ótima canções. Sem dúvidas, o Queen é o principal dos competidores no campo em que atua”.

 

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