Carnaval 2019

Orquestra Malassombro cantando valores do presente

O repertório foi composto por frevos de novos autores

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/02/2019 às 9:23
foto: Amaro Filho/Divulgação
O repertório foi composto por frevos de novos autores - FOTO: foto: Amaro Filho/Divulgação
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A mais nova orquestra da cidade estreia hoje, a partir das 22h, na Venda Bom Jesus (na esquina da Rua do Bom Jesus com Praça do Arsenal). O nome assusta um pouco: Orquestra Malassombro. Diversas assombrações trouxeram inspiração para o nome, esclarece Rafael Marques, seu maestro e idealizador. “Foi o primeiro nome que veio, mas não batemos logo o martelo, pensamos em alguns outros. As agremiações de frevo de bloco geralmente têm o nome do bairro onde fica sede, Madeiras do Rosarinho, Batutas do São José. A gente toca na Venda do Bom Jesus que é decorada com várias assombrações populares do Recife, Perna Cabeluda, o Papa-Figo. O Bairro do Recife também tem muitas histórias de assombrações, e o momento político atual está muito malassombrado. Mas o nosso é um malassombro do bem”, brinca o músico.

 A casa onde a orquestra toca foi também responsável por Rafael Marques ter a ideia de formar um grupo, com a finalidade de tocar frevo de bloco aos domingos: “Parti para procurar um repertório de frevo de blocos de novos compositores, para não repetir os jargões de sempre. A gente adora, mas queria buscar outros caminhos. Consegui músicas com Juliano Holanda, PC Silva, Vinicius Barros, Zé Manoel e vários outros autores”, conta Rafael. No entanto, é inevitável a inclusão de algum clássico do gênero: “Tocamos Não diga Adeus Ainda, de Zoca Madureira e Ronaldo Brito, é a única mais antiga. Mas no último acerto de marcha pediram Aurora de Amor e fizemos de improviso pra atender o pedido do folião, não que isso seja uma prática, foi mais pra mostrar que a gente sabe fazer os clássicos também”, comenta.

ACONTECENDO

 O repertório foi sendo criado enquanto transcorriam os ensaios: “Depois do primeiro acerto de marcha, muitos compositores começaram a mandar músicas inéditas, compostas diretamente para a formação da Orquestra Malassombro, o que mostra o vigor de novos compositores de frevo de bloco” diz Rafael. A orquestra foi sendo montada de maneira apropriadamente meio “malassombrada”. Com duas ou três exceções, não foi preciso fazer convites a músicos ou vocalistas. Quando Rafael Marques contava seus planos, acontecia uma adesão imediata. A pessoa pedia para participar do projeto.

 Quando ele se deu conta estava com o conjunto montado, e com uma instrumentação original: cordas, sopros (flauta, clarinete e sax tenor) mais contrabaixo e sanfona. “Não teve um conceito assim de pensar em usar determinado instrumentos. Pensei antes nas pessoas. Numa conversava com Caca Barreto disse que tinha montado uma orquestra, com um repertório legal, ele falou que tinha que tocar com a gente, assim temos contrabaixo e baixolão. Já a sanfona, sou muito amigo de Julio Cesar, do conservatório, que toca com Spok. Falei pra ele da orquestra, ele sugeriu que botasse acordeom, um instrumento também usado na formação tradicional de regional de choro. Uma orquestra de frevo de bloco é basicamente um regional de choro, só que adicionado um caixa e um naipe de sopros”.

 A Orquestra Malassombro estreia hoje com Rafael Marques (regência, guitarra baiana), Maíra Macedo (cavaco), Moema Macedo (bandolim), Aristides Rosas (violão de 6 Cordas), Felipe Novaes (surdo), 23/02/2019 JC Premium https://jconlinedigital.ne10.uol.com.br/web/ 2/2 Alexandre Rodrigues (sax), Ângelo Lima (clarinete), Mozart Ramos (flauta), Junior Teles (pandeiro), Júlio César (sanfona), Yacauã (caixa), Zé Freire (violão de 7 cordas) e Caca Barreto (contrabaixo).

 A orquestra está com agenda aberta no Carnaval, ressaltando-se que não foi criada com a finalidade de tocar apenas neste período: “Neste Carnaval, não deu pra botar em edital porque a orquestra nasceu em dezembro. Toda a ideia de juntar a galera, procurar as músicas, tudo é muito recente. Vamos fazer só as prévias, inclusive porque no Carnaval está todo mundo amarrado com outros trabalhos. Mesmo que arranjasse um palco a orquestra não teria quórum pra fazer show. Fizemos só ensaios, acertos de marcha, na Venda, mas queremos ocupar outros espaços, cogitamos fazer no Mourisco, na Casa Astral, mas preferimos por enquanto ficar só no que fizemos até agora”, pondera Rafael.

 O objetivo é tocar frevo de bloco o ano inteiro, com a possibilidade de, eventualmente, acompanhar algum intérprete. Embora neste setor a Orquestra Malassombro esteja muito bem servida. Começando pela voz de Isadora Melo (que é casada com Marques), mais Naara Santos, Claudia Beija, Audrey Nunes, Sônia Torres, Amanda Cabral, José Demóstenes, Rafael Meira. Um coro que está nas quatro músicas gravadas, início do repertório do álbum de estreia, sem previsão de lançamento:

 “A gente vai botar um projeto no Funcultura pra gravar o disco. Das que já gravamos, uma delas está sendo divulgada na rádio, Evocação 2011, de Mozart, flautista da orquestra. A gente músicas e arranjos prontos, mas por enquanto tá faltando dinheiro”, afirma o maestro.

ADOÇÃO

 Nos acertos de marcha, foi lançada a campanha “Adote a Orquestra Malassombro”, mas em caso de nenhuma entidade se arvorar a adotá-la, os músicos cairão em campo empregando a arma que possuem, o talento: “A ideia para viabilizar financeiramente a orquestra é ministrar oficinas de frevo de bloco, com aulas de percussão, dedilhado, sopro. Estas aulas, por sua vez, culminarão, no fim do mês, com um show, em que os alunos podem tocar a música que estudaram”.

 Nos últimos cinco anos, uma nova geração farta em instrumentistas, compositores e intérpretes surgiu em Pernambuco, sobretudo no Recife e em Olinda, tradicionalmente cidade de poucos espaços para shows. Rafael Marques, que é bandolinista, concorda que tem muita gente disputando o mercado, mas que há espaço para todo mundo:

 “Quando não tem, a gente cria. Este lance de fazer as oficinas durante o ano é muito importante. Não apenas para viabilizar uma renda, mas como também para formar público para a orquestra. Ano passado, passei seis meses no Sudeste, fazendo uma turnê com meu último trabalho de choro. Notei que o choro é forte no Rio porque eles lá têm escolas de choro. Parte do público que vai aos shows é de alunos, ou ex-alunos. Aos oferecer oficina, a gente forma público, claro que não é de um dia para o outro. É trabalho de formiguinha, a longo prazo. Um exemplo disco, é A Transversal Orquestra, de César Michiles, uma revelação, com uma nova maneira de tocar frevo. Espero que a gente da Malassombro chegue lá também”

 

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