Carnaval 2019

Frevo novo agora é para se ver e ouvir

Os foliões do século 21 querem música e imagem

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 26/02/2019 às 11:15
Foto: divulgação
Os foliões do século 21 querem música e imagem - FOTO: Foto: divulgação
Leitura:

Quem acha que não tem música nova de Carnaval tocando no rádio tem razão. A frevo novo deste Carnaval está tocando na internet. Para a geração que cresceu conectada, música é som e imagem. Um conceito que nem é tão recente assim. Surgiu com Michael Jackson e a MTV. Não dá para dissociar a canção Thriller das imagens do clipe antológico. Assim como é difícil imaginar o frevo Revólver, que Flaira Ferro lançou semanas atrás, sem as imagens frenéticas do vídeo. O álbum, tal como o conhecemos, tornou-se obsoleto. Artistas pensam agora em singles, com o respectivo clipe. O álbum até pode chegar às lojas, físicas ou digitais, mas antecipado pelos singles. Curioso é que esta prática é uma volta aos primórdios da indústria fonográfica, quando se vendia música por 78 rotações. De tempos em tempos, reuniam-se os 78 rpm em uma única embalagem, o álbum.

Para este Carnaval há clipes das mais variadas procedências, nem todos de frevo. O afoxé do Oxum Pandá, por exemplo, aterrissou no Youtube, em 13 de fevereiro, no clipe de Céu de África (Lucas Santos), com direção de Jorge Féo e Ítalo Lima. Há os que ocuparam uma grande equipe, feito o citado Revólver, de Flaira Ferro, ou Cavalo Marinho, de Barro, ambos realizados nas ruas do Recife (o de Barro foi feito na Rua Direita, no bairro de São José). O primeiro já está circulando nas plataformas digitais, Youtube, o segundo será lançado na Quarta-Feira de Cinzas, dia dos boizinhos de Olinda: “O clipe foi um grande encontro pra mim. Na música Cavalo Marinho, eu já tinha buscado um novo caminho de síntese de som e de trazer essa matriz pra um novo cenário. Com o clipe essa ideia chegou num lugar muito mais forte, com uma coreografia feita pelo grupo Boi da Grande Loa, que já insere essa dança dentro de um ambiente mais urbano, com mais presença feminina, e com a arte do Couple of Things, que no plano sequência trouxe uma dinâmica e uma visceralidade pra faixa”, explica Barro. Couple of Things é a dupla, de artistas visuais Diana Boccara e Leo Longo, que produziu clipes mundo afora, e tem um programa no canal Bis.

Pode-se questionar Cavalo Marinho como música de Carnaval, já que o brinquedo é tradicional do ciclo natalino, mas nos anos 20 e 30 brincava-se a folia também com bumba meu boi: “Eu sempre frequentei as sambadas de cavalo marinho desde muito cedo. E nos últimos anos comecei a notar uma energia de transformação de uma geração muito nova que sentia na dança e no ritmo do cavalo marinho uma pulsação densa, como um lugar de performance, improviso e de transbordamento de uma energia mais agressiva também”, diz Barros. Acrescente-se que para os jovens foliões dos anos 2000, frevo é apenas mais um gênero carnavalesco, como pode ser o paraense carimbó, o ritmo que a cantora Natascha Falcão gravou para cantar no Carnaval.

Pernambucana, há cinco anos no Rio, Natascha Falcão lançou o carimbó Menino Bonito do Metrô (parceria com Léo Caetanno), single do EP Kitsch Completo. Na verdade, uma mistura de carimbó, com reggaton e maracatu. Natascha, que é prima de Otto, gravou clipe no metrô do Rio, acompanhada por Gabriel Gabriel no sax, na flauta e nas percussões; Marcelo De Lamare nas guitarras e no teclado; Pedro Aune no contrabaixo; Beto Lemos na rabeca; Anderson Ferraz no trompete e Felipe Larrosa Moura na bateria. O clipe está circulando na internet desde o dia 21 de fevereiro. A bandolinista Bia Villa-Chan iniciou a onda de lançamentos de clipes carnavalescos em janeiro, gravando Pirata José, frevo- de bloco de Alceu Valença. O próprio Alceu canta com Bia num vídeo realizado no estúdio. Os arranjos são dela e de Bráulio Araújo, que ratificam o vale-tudo que vigora na música popular. Pirata José é frevo de bloco que se mistura com fado. O clipe está na internet desde o dia 9 de janeiro e é a primeira faixa que a bandolinista antecipa do álbum que lança neste primeiro trimestre.

PIONEIRO

“Hoje em dia a ideia de álbum está ficando complicada. Com todo mundo misturando MP3 em smartphone, a esfera conceitual se prejudica, então devo manter a produção com singles espertos de tempo em tempo”, diz Armando Lôbo, músico, cantor e compositor recifense, morando no Rio, depois de três anos de um doutorado em música, em Edimburgo, Escócia. Sua praia fica entre o erudito, o experimental e a canção popular de harmonias caprichadas. Curioso é que Armando Lôbo, no final dos anos 80, integrava a Santa Boêmia, em atividade até meados dos anos 90. A Santa Boêmia foi dos poucos grupos daquela geração a se interessar por música carnavalesca. Lançaram Ciciroula, um frevo canção que chegou a tocar bem no rádio, já com ousadias harmônicas e rítmicas. Louve-se a qualidade da gravação, numa época em que uma fitinha demo era um luxo para poucos. Mais que isso, o Santa Boêmia lançou, em 1994, um clipe de Ciciroula, dirigido por Lula Queiroga, que entrou na programação da TV Jornal.

Armando Lôbo lança dia 1º de março, um clipe de um “single esperto” que, em outras eras, o levaria a ser crucificado pelos guardiões da pureza do frevo. Ele gravou um sucesso da banda inglesa Queen, em roupagem de frevo: “Sempre que corria no parque imaginava essa canção como um frevo, então resolvi fazer a brincadeira. Quem toca é a turma do Frevo Diabo, um grupo de frevo que tive no Rio e se juntou pra esse single. Eu mandei a partitura e cada um mandou seu track de uma parte do mundo. O coro foi gravado no Rio”, conta Lôbo. A música do Queen escolhida por ele foi Don’t Stop me Now, do álbum Jazz (1979). Armando Lôbo assina a mixagem e masterização de áudio, a edição de vídeo e a arte da capa.

FADA

Depois de tocar durante anos com nomes consagrados da música pernambucana – como Alceu Valença e Naná Vasconcelos –, as gêmeas Lulu e Aninha Araújo formaram a dupla Fadas Magrinhas, um trabalho direcionado ao público infantil. Com a irmã morando no exterior, Lulu Araújo continuou em carreira solo como fada magrinha. Animando carnavais desde 1996, ela lançou um clipe com a releitura, à pernambucana, de O Burro, de Zeca Baleiro e Tatá Fernandes. A direção foi da francesa Meli Huart, as imagens captadas durante um show no Paço Alfândega, em 2018. O clipe está na rede desde o dia 21 de fevereiro.

Últimas notícias