O cantor recifense Ayrton Montarroyos desde que lançou o álbum Um Mergulho no Nada (Kuarup), em janeiro de 2019, vem sendo coberto de elogios nos cadernos culturais dos jornais brasileiros. O que causa estranheza, porque não se trata do rapper da vez, do roqueiro indie cultuado em São Paulo, nem é de criar factoides nas redes sociais. Ayrton é extremamente discreto. Apesar de ter participado do badalado reality show The Voice Brasil, ele é arredio à publicidade.
O que há de diferente neste jovem cantor de 23 anos, e oito de carreira? Pode-se saber a resposta amanhã, no Teatro de Santa Isabel, onde apresenta o show do disco Um Mergulho no Nada. No palco estarão apenas Montarroyos e o violonista Edmilson Capelupi. “Este álbum teve um processo que eu não esperava que fosse acontecer. Gravei o primeiro disco cheio de recursos, com banda. Tinha acabado de sair do The Voice, em 2015, porém Um Mergulho Nada (Ao Vivo) está tendo uma acolhida bem maior. Estou fazendo show com bom público, jornalistas importantes na plateia, todo mundo falando bem. Muita gente vindo depois do show ao camarim, para mim é a força da música. Fico com um passo atrás, porque sou meio perfeccionista, acho que sempre poderia ter feito melhor”, pondera Ayrton, que se diz um apaixonado pelo que faz:
“Tanto posso me apresentar para 15 pessoas, quanto para mil. A música é o que me interessa em primeiro lugar”. Pode-se supor que o formato voz e violão deva-se à crise econômica, que está levando artistas a racionalizar a equipe para turnês nacionais. Porém a inspiração de Ayrton Montarroyos para optar por esta formação foi o álbum Todo o Sentimento, de Elizeth Cardoso com o violonista Raphael Rabelo, de 1991. Assim como Edmilson Capelupi, Rabello era um mestre do violão de 7 cordas, enquanto Elizeth, uma das mais perfeitas intérpretes da música popular brasileira.
Ao contrário de Elizeth, uma veterana consagrada quando fez o disco com Raphael Rabello, Ayrton ficou conhecido pelo reality show e fez questão de não se apoiar apenas na fama proporcionada pela alta audiência da TV Globo. A capa de Um Mergulho no Nada, por exemplo, tem trecho de uma poema de Hesíodo, que esteve em atividade entre 750 e 650 Antes de Cristo.
CANTOR
Ayrton Montarroyos mostrou que se pode trafegar na contramão do mercado, transgredir o que se arvorou à regra geral, sem barulho, nem polêmica. Ele é um jovem que canta. Apenas isto. Desde que se descobriu cantor, optou pela música brasileira, de todas as épocas: “Neste show canto uma música de Ylana Queiroga e uma de Capiba. Se dissesse que as duas foram feitas nos anos 50, as pessoas acreditariam. Sou um cantor, intérprete, encantado com a forma e os recursos estéticos. Achei um caminho que me dá muita alegria”, entusiasma-se.
Ayrton já apresentou este show em algumas cidades, uma delas foi São Paulo, mas se confessa ansioso para enfrentar a plateia de casa: “O público do Recife, ao contrário do que de São Paulo, por exemplo, me conhece há muito mais tempo. Desde que comecei a cantar em serestas, em casas mais alternativas, feito a Creperia Rouge, sei da responsabilidade. Ainda mais que no Recife o público que paga para ir ao teatro merece ser aplaudido. Se arrisca a sair na noite, que é perigosa, enfrentar flanelinhas, etc. E para ver um show de MPB, um gênero que não está em alta”.
O cantor admite que os elogios e o público que tem recebido em outros Estados deve-se ao fato de ser um dos jovens a se dedicar apenas ao canto e à MPB: “Não me incomodo em vender muito, em tocar muito no rádio, posso estar errado. Mas eu conheci a fama quando estive no The Voice, as pessoas me parando na rua, tirando foto. Prefiro que façam isto pelo trabalho que faço hoje”.
Show Um Mergulho no Nada, Ayrton Montarroyos e Edmilson Capelupi. hoje, às 20h, no Teatro de Santa Isabel. Ingressos: R$ 50 e R$ 25. Fone: 3355 3322