Em meio a um período de incertezas em relação aos seus editais de patrocínio, o Petrobras Cultural anunciou ontem os aprovados do edital Música em Movimento de 2018. Dos mais de 2 mil inscritos, os jurados selecionaram 19 propostas de circulação, festivais e produtos especiais para receberem um total de R$ 10 milhões em apoio. Dentro eles, estão quatro projetos pernambucanos.
Dois músicos locais, os pianistas Amaro Freitas e Sofia Freire, participam com a circulação dos seus shows. Amaro, atualmente em turnê na Europa, mostra o repertório do disco Rasif. Já Sofia leva a sua apresentação solo Romã, com composições criadas em cima de poemas escritos por cinco mulheres. Dentro dos projetos especiais, o Portal Embrazado, de GGabriel Albuquerque e Igor Marques, prevê uma plataforma com conteúdo – reportagens, vídeos e fotos – sobre a produção de movimentos musicais periféricos. Ainda há o surgimento de um novo evento: o Mini Festival, da Luni Produções, que tem como proposta juntar público infantil com a música (cantada e orquestrada) e a tecnologia para interação e informação.
O edital do Música em Movimento tinha previsão do resultado ainda no ano passado. A divulgação do resultado acontece pouco depois de o governo federal propor uma revisão dos contratos da Petrobras em vigor – há incerteza se os editais de patrocínio devem continuar em 2019. No edital de 2018, os projetos foram selecionados por um corpo de jurados formado por Kamille Viola, Pedro Só, Alessandra Debs e Rodrigo Ortega.
PROJETOS PERNAMBUCANOS
Segundo GGabriel, o Embrazado surgiu como uma pesquisa sobre as músicas periféricas de diferentes regiões e agora se expande como um portal. “É um meio de formalizar essa pesquisa através de conteúdos jornalísticos. Queremos não só documentar os movimentos as cenas e as produções contemporâneas, mas também mapear a histórias dessa criação em cinco capitais: Recife, Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte e Salvador”, conta o jornalista e pesquisador.
Além disso, o projeto prevê uma série de intercâmbios através de residências artísticas. “Vamos pegar o cara do bregafunk do Recife para trocar experiências com o cara do pagodão de Salvador, levar alguém de Salvador para ver o funk de BH, mostrar para uma pessoa de BH a cena do Pará, trazer um artista de Belém para ver o funk do Rio. A ideia é fomentar essa rede de música periférica, que compartilha muitos elementos, inclusive alguns aspectos técnicos e estéticos, mas que também cria suas especificidades. É um modo de se encontrar através de diversas referências”, avalia o produtor.
Para ele, o projeto é uma busca por entender melhor movimentos que acumulam números chamativos e relevantes mesmo criados e mantidos longe da indústria musical. “Existem livros e livros sobre o samba, a bossa nova, a Tropicália, e tem que ter mesmo, mas essa música que faz parte de outra linha evolutiva tem sido apagada, e a gente quer tentar reconstruir um pouco dela”, reitera.
Sofia vai passar por seis cidades na circulação de Romã. “Em Fortaleza, Natal e Curitiba vai ser a primeira apresentação desse show. É uma apresentação com um formato reduzido. Eu não toco com banda, toco sozinha. Então, sou eu com meus sintetizadores e meus controladores de Midi. A intenção é transformar o palco em um laboratório de experimentações sonoras, trabalhando o repertório do meu segundo disco, mas sem deixar nenhum show igual ao outro, porque tocar sozinha me dá liberdade de reinventar esse repertório”, comenta a artista.
A circulação ainda vai contar com projeções que interagem com as músicas tocadas. Para Sofia, o apoio do edital é essencial: o disco Romã, por exemplo, foi feito com o apoio do Natura Musical. “É um investimento em cultura, e investir em cultura é também investir em educação e em saúde, não só no lazer. A cultura tem o papel importantíssimo na sociedade como esfera de desenvolvimento e inovação: através da arte a gente desenvolve pensamento crítico, aflora a nossa humanidade e nossa percepção do mundo. E também tem um retorno econômico, tem impacto social, gera emprego diretos e indiretos”, aponta.
Sofia ainda destaca os companheiros de edital. “Os projetos do Música em Movimento são importantíssimos. Amaro Freitas, também pianista daqui, faz algo que ninguém faz no Brasil, é genial, está tendo o reconhecimento que merece. Xênia França também, é maravilhoso uma mulher negra ocupando esse espaço, e ainda tem o Museu Virtual de Itamar Assumpção”, ressalta.