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FIG 2019: Letrux, Karina Buhr e Céu promovem catarse coletiva

Em noite de protagonismo feminino, cantoras levaram poética e política para o palco

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 22/07/2019 às 13:26
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Em noite de protagonismo feminino, cantoras levaram poética e política para o palco - FOTO: Cortesia
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Sem dúvidas, os encontros são as maiores potências de eventos abertos como o Festival de Inverno de Garanhuns. A troca entre artistas e público é capaz de promover uma catarse coletiva e reenergizar as duas partes. Foi isso que aconteceu domingo (21), quando a chuva finalmente deu uma trégua, no quarto dia do FIG 2019. A noite na Praça Mestre Dominguinhos foi marcada pelo protagonismo feminino, com ótimos shows de Karina Buhr, Letrux e Céu, e críticas ao presidente Jair Bolsonaro.

Prestes a lançar seu novo disco, Desmanche, que chega às plataformas digitais sexta-feira (26), Karina Buhr, como de costume, foi de uma entrega total no palco do FIG. A artista entoou canções como Eu Sou Um Monstro, A Pessoa Morre, Selvática e Cerca de Prédio, composta com Cannibal. Sua performance foi potencializada por interpretações vocais cada vez mais poderosas - e o público se jogou com a artista.

Em vários momentos do show, aproveitou para exprimir sua opinião sobre o momento atual do país. "Hoje em dia nem precisa de um copo de veneno. É só comprar alface", disse após cantar a canção Copo de Veneno, alfinetando a recente liberação de mais agrotóxicos pelo Governo Federal. 

A artista louvou ainda Garanhuns, "que pariu Caetés, que pariu o melhor presidente", disse em referência a Lula. Em seguida, soltou um "Fora, Bolsonaro", que foi entoado em coro por grande parte do público. Em um dos momentos mais emblemáticos da apresentação, a poeta Bell Puã entrou no palco e recitou versos incisivos contra o racismo, machismo, classicismo e outras formas de opressão social.

Em conversa com a imprensa, Karina ressaltou ainda sua relação com o Festival de Inverno de Garanhuns, que ela acompanha desde a primeira edição, quando participou de uma das oficinas. Desde então, já retornou com vários projetos, como o Comadre Fulozinha, e em carreira solo e reforçou como acredita na importância da valorização da cultura e da formação gratuita.

FLERTE REVIVAL

Responsável por um dos discos mais interessantes do ano passado, Letrux (projeto da artista Letícia Novaes) deu continuidade à energia de alta voltagem deixada por Karina. A cantora carioca apresentou as canções do álbum Letrux Em Noite de Climão e o público cantou junto todas as faixas, como Ninguém Perguntou Por Você, Flerte Revival, Coisa Banho de Mar, Que Estrago, Puro DisfarceVai Render e Além de Cavalos.

Enérgica e com uma presença de palco hipnotizante, a artista interagiu bastante com o público, mostrou seu bom humor e também mandou recados políticos, criticando Bolsonaro e exibindo no palco uma bandeira com os dizeres "Lula Livre", que ganhou de uma fã. Ela chamou ainda o público para cantar para os "membros fascistas da família" a canção Toma Conta da Sua Vida.

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    "Meu avô é pernambucano e eu sinto muita vergonha do homem que dizem que é presidente do Brasil. É vergonhoso, é preconceituoso e é um crime a frase que ele falou semana passada (se referindo aos nordestinos como 'paraíbas). Fico com as tripas na boca. Não consigo acreditar que a gente está vivendo isso, mas ao mesmo tempo que eu fico muito triste, ao mesmo tempo, estando aqui na frente de vocês, eu me sinto muito recarregada de energias para continuar. Ninguém pode se meter no nosso amor, ninguém pode meter o bedelho no nosso desejo", disse.

    Letrux contou ainda à imprensa que realizou um sonho em tocar no FIG, já que nutria esse desejo desde a época do projeto Letuce. Para ela, a maior realização do artista é toca em lugares abertos, gratuitamente, podendo atingir diferentes públicos e, assim, estabelecer diálogos.

    ETÉREA

    Responsável por fechar a noite, Céu compartilhou com o público sua característica malemolência, indo quase na contramão dos picos de energia das intérpretes anteriores. Sua voz quase etérea, mas que atinge notas dificílimas, conduziu o público por momentos delicados e sensuais, como no caso de Cangote, Arrastar-te-ei e Perfume do Invisível, que foram ovacionadas pela plateia do festival.

    Completando 15 anos de carreira, a cantora construiu uma obra robusta que, apesar de não ser hit nas rádios, é adorada e facilmente reconhecida pela plateia, a exemplo de Amor Pixelado, Lenda, Varanda Suspensa, Malemolência, Minhas Bics e A Nave Vai.

    Sua performance elegante não significou falta de entrega e a resposta do público foi sentida em todas as canções, cantadas em coro. Céu, que também teceu duras críticas ao presidente e enalteceu o Nordeste, se disse tão feliz que acabou esquecendo de avisar que o show tinha acabado. Com o público pedindo mais - e ela igualmente animada - cantou ainda mais algumas faixas, para delírio geral.

    * O jornalista viajou a convite do evento

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