Disco/efeméride

Gal Costa há 50 anos estendia limites da MPB

Cantora lançou primeiro álbum solo em 1969

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 30/09/2019 às 9:02
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Cantora lançou primeiro álbum solo em 1969 - FOTO: Foto: Divulgação
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Naquele dia 8 de abril de 1969, Gal Costa estreava seu primeiro show solo, na casa noturna mais badalada do Rio, a Sucata, de Ricardo Amaral. Foi uma troca de guarda na música popular brasileira. Até a semana anterior, quem fazia temporada na Sucata era a cantora que representava a tradição (mas não caretice) na MPB, Elizeth Cardoso, “A Divina”, com o Zimbo Trio. Gal seria acompanhada por Os Brazões.

Em lugar da discreta elegância de Elizeth, cabelos em desalinho, colares, figurino riponga (e pés descalços). O fino da intelectualidade alternativa e do high society do Rio fez-se presente à estréia, de Glauber Rocha a Nelson Motta, de Erasmo Caros a Jorge Guinle.

Com a saída forçada do país de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o barco do tropicalismo navegaria em mares revoltos guiados por Gal Costa e Tom Zé (depois deste show Gal e Tom fizeram um shows juntos). A baiana tímida que começou a aparecer para o Brasil em 1967, ainda tratada por Gracinha, sofrera uma metamorfose (na qual o empresário Guilherme Araújo foi fundamental), e no palco da Sucata transgrediria regras. Mas causava estranhezas:

 “Quem não conhece Gal Costa pessoalmente leva o maior susto quando se acendem as luzes... seu cabelo para show (pois se andasse com ele pela rua seria apedrejada) lhe dá o aspecto de qualquer coisa de sujo”. O texto entre aspas saiu de uma crítica do show na coluna Ziguezague, assinada por um Dom Casmurro, no Correio da Manhã, o jornal menos careta da grande imprensa carioca.

Outro escriba do Correio da Manhã foi ainda mais enfático. Mesmo elogiando a performance, disparou: “Creio que ela está no bom caminho e, certamente, poderá vir a ser uma estrela da canção brasileira. Mas necessita seguir urgentemente o conselho de Ibrahim Sued, e cortar os cabelos. Lavar os pés também porque, apresentando-se diariamente descalça, higiene é fundamental”.

DISCOS

 Gal não seguiu dicas, nem deu importância aos conselhos profiláticos da crítica. Continua assim na capa dos discos que lançou em 1969 (em 1967, dividiu o álbum Domingo com Caetano Veloso). Ambos têm o nome da cantora por título. O primeiro Gal Costa, e estreia da cantora, foi gravado em 1968, no auge da Tropicália. O imbróglio da prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o clima de apreensão e incerteza que se instalou no País, depois do AI-5, fez a gravadora Phillips suspender o lançamento até as nuvens cinzentas dissiparem-se.

 O disco saiu no início do ano seguinte. Produzido pelo maestro Daniel Barenboim, com arranjos do maestro Rogério Duprat, e do guitarrista Lanny Gordin, o disco torna a música brasileira contemporânea do que se fazia nos EUA e Inglaterra. O astral não estava alto, mas as canções eram lindas. Objeto Não Identificado abre o repertório, que não poderia ser mais abrangente. Vai de Sebastiana (Rosil Cavalcanti, sucesso inaugural de Jackson do Pandeiro). Única música do passado. As restantes saíram do talento de Caetano Veloso, Tom Zé, e da dupla Roberto & Erasmo Carlos, que entrava para o primeiro time da MPB com aval da cantora tropicalista.

ROCK

O segundo álbum seria mais rock. Abre com um lancinante solo de guitarra, introdução de Cinema de Olympia. Ela recorre a Caetano, Gil, Jorge, e grava Pulsars e Quasars, de Jards Macalé. Um disco que não foi bem assimilado pelo público dos festivais da MPB. Música árabe fake, Tuareg, de Jorge Ben, a contracultura de Gil em Cultura e Civilização, Objeto Sim, Objeto Não. Há 50 anos Gracinha, aos 24 anos, apontava rumos para a música popular brasileira

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