Já se foram 30 anos desde que quatro garotos da periferia de São Paulo deram vazão a uma poética rebelde e realista, trazendo na música lugares e histórias de um Brasil que a arte nacional ainda não tinha dado conta. Algumas estatísticas do mundo que o Racionais MC’s cantou mudaram. Os "apenas 2% dos alunos são negros" nas universidades brasileiras, da abertura dos versos de Capítulo 4, Versículo 3, hoje são 9,3% (IBGE). Outras não. Se era cantado que "a cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo", a CPI sobre Assassinatos dos Jovens, de 2016, aponta que a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. É entre essas mudanças e constâncias que Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay celebram sua trajetória salvadora de vidas com o show Racionais 3 Décadas, realizado neste sábado (05), no Classic Hall.
O grupo se consolidou como um dos mais importantes da história recente da música brasileira. A violência policial, o sistema penitenciário, o crime como sobrevivência e as perspectivas do povo preto, tudo sob uma lente que não está nada distante do mundo que é cantado. O reconhecimento vem desde listas de revistas musicais até listas de obra obrigatórias para vestibulares, como é o caso da Unicamp. Não que o som e a fúria dos paulistanos precisasse de uma legitimação dessas instâncias para ter a potência que tem. Inclusive, mesmo com os lugares alcançados, o grupo relata ainda agir da mesma forma.
"Só ficamos um pouco mais velhos, a gana é a mesma. A diferença é que agora sabemos o que sabemos e podemos escolher as ofertas e oportunidades. E nos arrependemos de nada vezes nada", relata Edi Rock.
Nesses 30 anos, tendo o Racionais como uma de suas maiores inspirações, o rap nacional também alcançou outros patamares com diversos braços. O mainstream abraçou forte o ritmo. A cena consegue estar sempre sendo oxigenada e se repensando quanto aos seus lugares e suas vozes. Emicida, Criolo, Djonga, todos sempre deixaram claro como a música e poesia dos quatro guerreiros de fé foram combustível para suas histórias. Edi Rock vê hoje um cenário que era o almejado desde o começo.
"O rap, além de ter se profissionalizado, se enxergou como empresa. A tecnologia acessível também ajudou muito e a nova geração que respira isso. Cantores produzem e produtores cantam. DJs exportam, filmam, têm suas marcas, geram empregos, exatamente o que eu sonhei, o rap fazendo o rap. É uma música livre, o dever é cantar o que acha que deve ser cantado, a mensagem sempre estará lá, seja no amor ou na guerra, assim como a vida", conta Rock.
Sobre as produções do futuro, a promessa é por novidades, mesmo que não reveladas. Foram apenas dois discos nos últimos 17 anos. “Racionais é uma incógnita, mas tem várias coisas pra acontecer além de músicas, já já tem novidades, só acompanhar”, promete Edi. E com a vinda ao Recife, a promessa é de sentimentos aflorados. "O carinho do Nordeste é especial, talvez seja a identificação por sermos da mesma origem, mas os shows na região sempre foram épicos. Cada ida nossa ao Norte e Nordeste é especial, marcante, forte, louco é pouco. Pode pá", conclui!
Serviço
Racionais 3 Décadas – Amanhã, a partir das 22h, no Classic Hall (Av. Gov. Agamenon Magalhães, s/n Salgadinho). Ingressos: entre R$ 50 e R$ 180. Sócios do JC Clube têm 50% de desconto na compra de até dois ingressos na bilheteria do Classic Hall.