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Macuca das Artes leva diversidade cultural ao Agreste

Muita música, cinema e cultura popular na programação

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 24/10/2019 às 11:33
Foto: José de Holanda /Divulgação
Muita música, cinema e cultura popular na programação - FOTO: Foto: José de Holanda /Divulgação
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O festival Macuca das Artes, no Sítio Macuca, zona rural de Correntes, a 256,2km do Recife e 47,6km de Garanhuns, tem início hoje, a partir das 19h, com as projeções ao ar livre dos filmes pernambucanos Bacurau, Recife Frio e Mens Sana in Corpore Sano, assinados conjunta ou individualmente por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Na parte musical, que acontece sexta e sábado, entre as várias atrações estará Chico César, com o show do novo disco O Amor É Um Ato Revolucionário, lançado no início de outubro. Arnaldo Antunes, Ave Sangria, Reverbo, Luedji Luna, Gabi da Pele Preta, os DJs 440 e Paulo Pezão, além do tradicional cortejo, completam a grade.

Comparado a um Woodstock pernambucano, o festival se parece mais com o Parede de Coura, realizado, desde o verão de 1993 na Praia Fluvial do Tabuão, em Paredes de Coura, no Norte de Portugal, uma área de muito verde e amplo espaço para a plateia circular. Ambos oferecem área de camping, piscina de água corrente e uma estrutura de banheiros que inclui opção de banho quente (a região é fria à noite). O Festival também dispõe de restaurantes onde serão servidos café da manhã, almoço, jantar, petiscos e lanches. Incluindo opções veganas, vegetarianas e sem glúten.

Esta edição do Macuca das Artes coincide com os 30 anos da criação do Boi da Macuca, por Zé de Oliveira, um geólogo garanhuense que trocou a profissão pela vida alternativa num sítio na zona rural de Correntes que pertencera ao pai dele. No Carnaval, ele vinha para Recife e Olinda com a troça, que divergia das congêneres que saíam na folia das cidades-irmãs. Em vez de metais, sopros e frevo, o Boi da Macuca se fazia acompanhar por sanfona, pífano, zabumba, triângulo, pandeiro, ganzá, entre outros.

No início, participava de blocos e troças mais antigas, feito o Nóis Sofre Mais Nóis Goza. Até que amealhou foliões próprios. O repertório era composto de canções de forrozeiros como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. O Boi tornou-se uma das mais conhecidas troças da folia olindense, e expandiu-se também para o São João e o rock and roll, realizando o festival mais alternativo do Estado. De 30 pessoas na primeira edição passou para uma média de mil participantes nas últimas, mais recentes.

SHOWS

O Ave Sangria continua sendo a banda da vez em Pernambuco. Na Macuca das Artes, levará o show Vendavais, do segundo disco, lançado em 2019, 45 anos depois do trabalho de estreia, proibido pela censura em 1974, cujas músicas entram também no set-list do show. Vendavais é uma continuação do primeiro, já que as canções existiam naquela época e foram atualizadas pela banda, que tem três integrantes da formaçãooriginal, Marco Polo, Almir de Oliveira e Paulo Rafael (mais Juliano Holanda, Júnior do Jarro e Gilú Amaral).
Duas aves de rapina se encontram no Macuca das Artes. A ave símbolo do Ave Sangria, original do desenho feito por Lailson para o álbum de estreia do grupo, mas que não foi usado pela gravadora. A outra, um gavião, está no cenário do show de Chico César. “Desde o lançamento eu toco o disco inteiro, como fizemos em São Paulo, Aracaju, Brasília. Se o público aguentar a gente revisita o repertório mais antigo. Em Aracaju tocamos o disco todo e mais 45 minutos. Creio que Flaira estará conosco, vai ser muito bom”, conta Chico César, que vai estar na plateia do Ave Sangria: “Quero muito ver o show deles, porque nunca vi. Estou muito feliz porque vamos dividir palco esta noite”.

Chico César vem com a banda completa, figurino, cenário: “Acho que o público da Macuca é inquieto, então se quiser Mama África, À Primeira Vista, canto. Mesmo que, desde o Estado de Poesia (seu disco anterior, de 2015), tenha havido uma clara renovação de repertório. O público se renovou, tem muita gente nova nos meus shows, sinto que não é um publico apegado só às coisas do passado. A ideia é tocar o disco novo todo”.

Arnaldo Antunes chega com o show do disco RSTUVXZ, de 2018, com samba e rock, mas ressalta que não é um disco de samba rock: “Eu quis mais contrastar as coisas do que misturá-las”, esclarece, Arnaldo mexeu no artigo definido ao intitular uma das canções do disco, batizada de A Samba. O ex-Titã montou repertório que vai além de RSTUVXZ, com hits feito Televisão, gravado com sua antiga banda, ou Exagerado, de Cazuza.

Será também mais uma oportunidade de conhecer a nova música pernambucana, com o Reverbo, um coletivo de cantores que são, a maioria, igualmente compositores. Entre os que o formam estão nomes já conhecidos pelo Brasil, entre eles Juliano Holanda, Flaira Ferro, Tiago Martins, Isabela Moraes, Marcello Rangel, Luiza Fittipaldi e Lucas Torres. A caruaruense Gabi da Pele Preta também integra o Reverbo, mas vem à Macuca com show solo.

Da nova cena baiana é a cantora Luedji Luna que traz o show Um Corpo no Mundo, seu suingado álbum de estreia, de dois anos atrás. Os DJs Paulo Pezão e 440 (Terça do Vinil) serão os responsáveis por botar a plateia para se mexer na madrugada do sítio Macuca. A programação do sábado será aberta com o já tradicional cortejo da Macuca, que sai de Poço Comprido, puxado por uma orquestra regida pelo maestro Oséas.

Irandhir Santos, pernambucano de Bezerros, ator com uma longa folha de serviços prestados ao cinema nacional, foi o curador da mostra de cinema. As projeções ocorrem hoje, e amanhã, com exibições ao ar livre, no Povoado de Poço Comprido, distrito de Correntes, e no Sítio Macuca. A exibição no povoado será gratuita. No sítio, ocorre durante o festival, pago, portanto. (Com acesso facilitado para moradores da região).

Além do citado Bacurau, a mostra terá outro filme de Kleber Mendonça Filho, Recife Frio, de 2009, curta metragem meio premonitório. Nele, o Recife de praias ensolaradas tem uma bruta mudança climática. KMF adiantou-se à discussão sobre o clima que recrudesceu nos últimos meses, e até à tragédia ambiental que se abate nas praia do Estado com as manchas de petróleo. Parceiro de Kleber em Bacurau, Juliano Dornelles terá exibido o seu Mens Sana in Corpore Sano.

Macuca das Artes – De hoje até sábado, no Sítio Macuca, zona rural de Correntes. Ingressos, acampamento e transfer partindo de Recife e Garanhuns: de R$ 50 a R$ 150. Disponíveis no site www.sympla.com.br/macucadasartes2019

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