Leci Brandão tinha pouco mais de trinta anos quando gravou, em 1974, o primeiro compacto, que leva seu nome, pelo Discos Marcus Pereira. Um ano depois, o mesmo selo entregava ao público Antes Que Eu Volte a Ser Nada, a estreia dela em LP. De lá até aqui, a carioca nascida em Madureira e criada em Vila Izabel imprimiu seu nome não somente como uma das mais importantes sambistas da música brasileira, mas como figura de posicionamento firme em relação à luta por combate às discriminações, principalmente as de cunho racial e contra as religiões de matriz africana – o que a levou a se candidatar e vencer, em 2010, as eleições para ao cargo de Deputada Estadual por São Paulo.
É em tributo ao legado da cantora e compositora que acontece hoje, no Terra Café Bar, a segunda edição do Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba. Idealizado pela cantora carioca Dorina Barros, o projeto propõe unir rodas de samba femininas formadas por cantoras e instrumentistas de samba de todo o país, no intuito de criar uma rede entre as artistas e aumentar a troca e o fortalecimento do fazer samba entre elas. A primeira edição aconteceu em 24 de novembro de 2018, em 12 cidades, e homenageou Beth Carvalho, a madrinha do samba, falecida em abril deste ano.
Em 2019, além de Pernambuco, o evento acontece simultaneamente em outros 18 estados brasileiros e realiza atividades também fora do país, com representação de mulheres do samba na Argentina (La Plata), Portugal (Lisboa) e Itália (Florença). Ao todo serão contempladas 25 cidades. Mais de 100 mulheres – das quais 40 são cantoras, estão envolvidas na edição do Recife, coordenada pela sambista Karynna Spinelli. Ela destaca que o primordial é mostrar a força e expressividade da presença feminina na produção fonográfica pernambucana.
“A maioria das rodas de samba e dos movimentos ligados a elas aqui na cidade são hoje comandada por mulheres. Vivemos uma troca de saberes entre gerações e é importante que nós nos reconheçamos como parceiras de trabalho e não como rivais, como a sociedade nos impôs por conta do machismo”. explica. “Hoje temos, graças a Deus e a nossa democracia, condições de apoiar os trabalhos umas das outras. Isso é o mais importante (superar a noção de rivalidade que existiu por tanto tempo)”.
Além da parte musical, todas as outras áreas necessárias para realizar o evento têm equipes compostas por mulheres. São 40 cantoras pernambucanas e mais roadies, técnicas de som, produtoras, fotógrafa e assessora de imprensa somadas à cadeia de realização do encontro. A programação abrirá espaço, ainda, para um encontro de batuqueiras e para duas feiras de artesanato popular.
“Estamos muito felizes com a troca de saberes, é muito bonito ver a observação de uma em relação a outra, o entendimento e a capacidade de comparar atividades diferentes. Vamos fazer uma roda de samba muito grande (em tamanho e alcance), que demanda muita dedicação”.
LECI BRANDÃO
Sobre Leci Brandão, Karynna ressalta a escolha de homenagear uma figura de tamanha importância musical e política. “Precisamos saber mais sobre o fazer política, sobre tomar decisões, e Leci é referência para isso, além de ser uma mulher negra. O samba precisa ser representado através de sua raiz, que é a nossa negritude”, encerra. A abertura da roda de samba acontece às 17h, com transmissão ao vivo através da página facebook.com/mulheresnarodadesamba.
SERVIÇO:
II Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba – Hoje, às 15h, no Terra Café Bar (Rua Bispo Cardoso Ayres, 467, Boa Vista). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 + 1kg de alimento não perecível (meia-entrada).