Exposição/Disco

Fernando Duarte em frevos e aquarelas

Ele celebra Carlos Fernando e mostra seu lado compositor

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 27/11/2019 às 10:44
Foto: Bettina Guedes
Ele celebra Carlos Fernando e mostra seu lado compositor - FOTO: Foto: Bettina Guedes
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Quem só conhecia o artista plástico Fernando Duarte irá conhecer também, a partir de hoje, o compositor de frevos, e terá ambos de uma só vez. Duarte abre a exposição Asas, e lança o disco Um Frevo Impossível, hoje, na Passa Disco, no Espinheiro, às 19h. A primeira reúne 36 aquarelas, três para cada faixa do álbum inicial do projeto Asas da América, de Carlos Fernando, a quem ele presta uma homenagem. “Quando Fábio Cabral me lembrou que o Asas da América estará completando 40 anos, gostei da ideia, escutei muito o disco na minha juventude. Fui pesquisar, mas a biografia sobre Carlos Fernando ou do Asas da América é muito pequena. Ele precisava de uma biografia. Optei pelas aquarelas, teria mais liberdade”, comenta Fernando Duarte.

A técnica para as aquarelas veio-lhe de inspiração da arte chinesa: “É como se fosse um golpe, pra fazer em um instante”. Antes a imersão no universo do compositor Carlos Fernando, que vai das histórias de Caruaru até o Movimento de Cultura Popular (MCP). Cita versos de Ator Folião: “Atrás das barbas do pirata/ se esconde a verdadeira face/ do ator folião. Isto do ator folião tem muito do teatro de Luiz Mendonça. Aquela música que Chico Buarque canta, é o amor de Carlos não por um time, mas pela torcida. Notei como o fogo está presente em quase todos seus frevos. Colorir, sacudir, temperar, a música dele é muito maior do que eu pensava. O carnavalizar do cotidiano.

O tempo é importante no trabalho dele. O cinema, que é uma arte que influenciou muito a geração nascida nos anos 40”. Duarte aponta o cinema na letra de Mulher do Dia: “Os clarins tocaram/ chamando atenção/ com cara de sono/ vestido de Nero/ corri pra varanda /Salve a multidão”. As aquarelas vão estar expostas e à venda quarta-feira na Passa Disco. Parte delas sem molduras porque não caberiam todas no espaço da exposição. Folião de fazer o passo atrás do Homem da Meia-Noite, Pitombeira, o Bloco da Saudade, do Galo da Madrugada, “mas só nos primeiros anos, depois ficou grande demais e deixei de ir”,

Fernando Duarte conta que passou a conhecer mais os artistas, as agremiações e o Carnaval do Recife, quando trabalhou como gestor de cultura na prefeitura do Recife, e no governo do Estado: “Conheci também as dificuldades e a carência do frevo. Não tem acervo disponível, onde se pode encontrar partituras de Zumba, de Carnera?” Enquanto trabalhava com Carnaval, carnavalescos, intérpretes e autores, Fernando Duarte, discretamente ia compondo seus frevos.

“Eu não toco instrumento nenhum, Não sou músico, e sou um ouvinte razoável, gosto de todo tipo de música, mas não sou de ouvir o tempo inteiro. Nos anos 90, comecei a fazer músicas, frevos, para os meus meninos, sobrinhos. Quando mostrava alguns o pessoal gostava. Então fui fazendo e gravando pra não perder. Só quem conhecia mesmo era a família. Tinha ano em que fazia dois três frevos, e ia guardando. Perdi muita coisa quando gravei em celular. Ficavam as letras, mas não conseguia me lembrar da música”, conta Fernando, que há algum tempo passou a alimentar o sonho de fazer um disco com suas composições. Ao falar sobre o desejo de gravar seus frevos à poeta Teresa Benassi, ela sugeriu que procurasse o músico e produtor Felipe Maia:

“Liguei pra Felipe e ele topou, fazer os arranjos, as orquestrações. Peguei 46 músicas, selecionei vinte, e ficaram quinze, do que eu chamo frevo-canção de rua. Agora era ir atrás dos intérpretes. Daí fui dar uma pesquisada no que estava acontecendo no Recife na área musical. É espantosa a quantidade de gente boa que faz música no Recife agora. A Orquestra Malassombro, a turma do Reverbo, são 18 artistas, tudo muito bom. Queria fazer uma coisa diferente, não quis convidar o mainstream do frevo. Parti da ideia de que o frevo é um campo de invenção”, comenta.

REFLEXÕES

Num texto para a contracapa lança questões reflexivas sobre esta música carnavalesca que nenhuma terra tem: “O frevo é híbrido misto mestiço misturado mexido mixado?”, “O frevo é confuso castiço contraditório polêmico exclusivo sem-preconceito dispútico inclusivo divergente ismo?”. “No frevo a tradição é uma base ou uma forma?”, “O frevo é da meia-noite do dia da tarde da madrugada da saudade da aurora do nada?”, “O frevo é pós paço passo praça passado?”, “O frevo se aprende no colégio?”.

Os questionamentos estão no ar, e os frevos de Fernando nas vozes de Publius, Alex Mono, Mayra Clara, Isabela de Holanda, Rafael Meira,Sydney Azeredo, Sevy Nascimento, Jáder, Neudo Oliveira e Cláudia Ferrari, alguns dos intérpretes de Um Frevo Impossível, que estará disponível no formato físico e digital. Hoje também o espaço da Passa Disco terá o lançamento do álbum duplo Natureza Sonhadora, um tributo a Accioly Neto

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