Show

Maria Bethânia mesclando o moderno com a nostalgia

Novo show foi inspirado na noite do Rio dos anos 60

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 29/11/2019 às 11:14
Foto: Jorge bispo/Divulgação
Novo show foi inspirado na noite do Rio dos anos 60 - FOTO: Foto: Jorge bispo/Divulgação
Leitura:

A noite carioca dos anos 1960 foi a inspiração para o espetáculo Claros Breus, que a cantora baiana Maria Bethânia traz para o palco do Classic Hall, amanhã, com cenário e direção assinados por Bia Lessa. O show anterior de Bethânia, De Santo Amaro a Xerém, com Zeca Pagodinho estreou neste mesmo palco em abril de 2018, e era dedicado ao sambas, e suas vertentes. “Agora eu queria um outro tipo de show. Estreei em um lugar pequeno, o Manouche, no Rio, o que me trouxe muitas lembranças daquele período luminoso da noite carioca dos anos 60. Me apresentei na boate Manouche durante um mês, foi uma delícia. Depois o show foi transformado para caber em lugares maiores”, comenta a cantora, de 73 anos, em conversa por telefone.

Diferente também na sonoridade. Bethânia costuma arregimentar a nata do instrumental, geralmente no Rio, tanto para gravar quanto para entrar em turnê. Desta vez, dos músicos que têm tocado com ela ao longo dos anos, ficou apenas o contrabaixista Jorge Hélder. O maestro baiano Letieres Leite assina os arranjos e reuniu um grupo para acompanhar a cantora: “Letieres eu conheço há muito anos, sempre fui fã. Convidei-o pra fazer os arranjos do disco que fiz em homenagem à (Escola de Samba) Mangueira, em agradecimento à homenagem que a Mangueira me prestou. Ele então me disse que podia fazer também o show. Ele escolheu os músicos dele, músicos meus, só Jorge Helder. O trabalho de Letieres é muito elegante. É uma leitura diferente”, explica Maria Bethânia.

O disco dedicado à escola de samba já tem título: Mangueira – A Menina dos Meus Olhos, e chega às lojas físicas e virtuais no próximo domingo, pelo selo Quitanda, da própria cantora. No repertório de sambas de enredo a composições de autores ligados à escola. A Flor e o Espinho, de Nelson Cavaquinho (com Alcides Caminha e Guilherme de Brito), ou História pra Ninar Gente Grande, samba de enredo da Mangueira em 2018 (Tomaz Miranda, Deivid Domênico, Luiz Carlos Máximo, Mama, Márcio Bola, Ronie Oliveira, Danilo Firmino e Manu da Cuíca):

“O repertório é variado, tem o samba da Mangueira deste ano, que acho um dos mais lindos que a escola já fez, com uma melodia tradicional, que representa muito o estilo da Mangueira, ele fala muito da coisa do Brasil com África, com que eu tenho muita relação”, diz Bethânia. A cantora ressalta que Mangueira – A Menina dos Meus Olhos não seguirá o caminho natural de um álbum novo, ou seja, ela não fará show do disco. Dará uma parada até o Carnaval, depois do que começa a gravar um disco ainda sem título, provavelmente o mesmo do espetáculo atual, com boa parte do repertório pinçado de Claros Breus. Ela tem um número suficiente de canções inéditas, feitas por Adriana Calcanhotto, Chico César, Flavia Wenceslau e Roque Ferreira, para complementar com as que costuma apanhar nos desvãos da memória para o roteiro que traça tanto em disco quanto em show, como aluna aplicada de Fauzi Arap, que a dirigiu pela primeira vez no aclamado espetáculo, de 1971, Rosa dos Ventos, e em outros subsequentes:

“Tenho influência completa dele, no roteiro, a escolha, a maneira como dramatizo, ele me ensinou todas as vias como poderia me expressar com a música. Tudo o que sei vem do que aprendi com ele”, afirma, elogiando o diretor, falecido em 2013. Assim é ela que decide o que cantará no espetáculo, formata o roteiro, a relação das músicas entre si: “Eu que escolho, faço muito uma história de amor, com uma certa ironia da noite carioca, as coisa da minha geração, Chico cantando, Rosinha Valença, Baden, Nara. A geração que veio depois bossa fazia muita boate. É uma história da noite carioca, e de outros assuntos que me interessam, como o amor profundo pelo Brasil, admiração e preocupação pelo Brasil, é uma leitura muito íntima”No entanto, ao ser perguntada sobre o que pensa do Brasil atual, ela alerta: “De política não falo nada. Continuo apaixonada pelo Brasil, e preocupadíssima com o Brasil. O que espero é que o povo não perca jamais sua alegria genuína”.

REPERTÓRIO

Maria Bethânia revisita algumas canções que já gravou, a exemplo, de Anjo Exterminado (Jards Macalé/Waly Salomão), Pronta Pra Cantar (de Caetano Veloso, que gravou em 1990, com Nina Simone), De Todas as Maneiras (de Chico Buarque, do álbum Álibi, 1978). Algumas que canta pela primeira vez no palco são O Universo na Cabeça do Alfinete (Lenine/Lula Queiroga), ou a sertaneja Evidências (José Augusto/Paulo Sergio Valle), e ainda pérolas esquecidas, como é o caso de Pernas, de Sérgio Ricardo:

“Pernas, porque é um roteiro musical carioca, naqueles tempos as pessoas tinham composições completamente diferentes, a bossa veio com a sofisticação de melodias e harmonias. Pernas é exatamente um registro da bossa nova, Sergio Ricardo foi um dos grandes, de acordes estranhos, dissonantes, melodias que davam uma quebrada. É uma música típica, e tem a ver com o roteirinho que fiz, a noite de Copacabana”.

Permanece o hábito de entrelaçar no roteiro trechos de poemas de Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, ou o moçambicano José Craveirinha, e canções da velha guarda, Lama (Paulo Marques/Aylce Chaves), Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi/Carlos Guinle). Pena que tenha tirado do roteiro a sofrida Bar da Noite (Bidu Reis/Haroldo Barbosa): “Era cantada no Manouche, cabia ali naquele ambiente pequeno, uma brincadeira para chamar o garçom (“Garçom, se o telefone bater/ e se for pra mim/ garçom, repita pra ele/ que eu sou mais feliz assim”, versos do samba-canção lançado por Nora Ney, em 1953).

No show de 30 canções, incluindo a abertura com tema instrumental, Maria Bethânia canta acompanhada por Jorge Hélder (contrabaixo), Carlinhos 7 Cordas (violões de 6 e 7 cordas), Pretinho da Serrinha (percussões acústica e eletrônica) e os baianos Marcelo Galter (piano e sintetizadores) e Luisinho do JêJe (percussões acústica e eletrônica). l Show Claros Breus, com Maria Bethânia e banda – Neste sábado, às 22h, no Classic Hall (Av. Agamenon Magalhães s/n, Salgadinho).

Preços: os valores variam entre R$ 100 (pista-meia) e R$ 2.000,00 (camarote para 10 lugares). Apresentando o cartão ou aplicativo do JC Clube na bilheteria do Classic Hall, os assinantes do JC pagam R$ 100, na compra de até dois ingressos para a pista. Mesas e camarotes custam a partir de R$ 1.400. Fone: 3427-7501.

Últimas notícias