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Pink Floyd seguindo em frente sem Roger Waters

Banda ganha caixa sobre a época David Gilmour

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 16/12/2019 às 10:51
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Banda ganha caixa sobre a época David Gilmour - FOTO: Foto: Divulgação
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Há cinco anos o Pink Floyd parou. A banda estava sendo dirigida pelo guitarrista David Gilmour, oficialmente, desde o álbum A Momentary Lapse of Reason, de 1987, o primeiro sem Roger Waters, que deixou a banda dois anos antes, tentando impedir legalmente que Gilmour continuasse usando o nome do grupo. Não conseguiu, e o Pink Floyd continuou por mais dois discos de estúdio, The Division Bell, de 1994, e The Endless River, dez anos depois. Acrescentem-se a estes, os álbuns ao vivo Delicate Sounds of Thunder (1988) e Pulse (1995).

Cinco álbuns que não acrescentam muito ao que o grupo fez sob o comando de Roger Waters até The Final Cut (1983), tido como um disco solo do baixista, da mesma forma como A Momentary Lapse of Reason foi atribuído, na prática, a um trabalho individual de David Gilmour, tendo a participação do baterista Nick Mason e do tecladista Richard Wright.

Surgido em meados dos anos 60, o Pink Floyd, cuja música foi inicialmente rotulada de rock espacial, seja lá o que isso possa significar, só adquiriu o status de megagrupo a partir de 1973, com o megassucesso de The Dark Side of the Moon, quase unanimidade de crítica e um sucesso de público que o levou a bater recordes de permanência nas paradas e em vendas. O grupo alcançaria o pico com The Wall, outro blockbuster, de 40 anos atrás.

O PF, com ou sem Waters, não conseguiu se desvencilhar do repertório desses dois álbuns. Mesmo incompatibilizados com Waters, Gilmour, Wright e Mason continuaram a tocá-los. Um dos CDs de Pulse tem, na íntegra, The Dark Side of the Moon ao vivo. Talvez o Pink Floyd nem tivesse continuado se David Gilmour tivesse sido bem sucedido com a turnê do disco solo, About Face (1984), cancelada depois de apenas dois shows (em Frankfurt e Nice). Os fãs se interessavam pela banda completa, não pelos integrantes em carreira solo.

Roger Waters também não foi lá muito bem com seu disco The Pros and Cons of Hitch Hiking (1984), que ele queria como mais um disco do Pink Floyd. No Live Aid, em 1985, David Gilmour foi o único membro do Pink Floyd que participou, como guitarrista da banda de Brian Ferry. Mas tanto Nick Mason, quando Rick Wright estavam também com disco solo na mesma época, respectivamente Profiles (1986), e Identity (com o projeto Zee, de Wright, formado com Dave Harris, do New Romantics).

SEM WATERS

A avaliação do período pós-Roger Waters no PF pode ser feita da forma mais completa possível, com o box Pink Floyd – The Late Years (Legacy). A edição Deluxe contém 18 itens: cinco CDs, seis Blue-Rays, cinco DVDs, sete singles, penduricalhos em geral, fotos, suvenires, libreto. Os discos foram remasterizados, com produção adicional de David Gilmour, com regravações de bateria e teclados por Nick Mason e Richard Wright substituindo passagens que não foram tocadas por eles.

Na verdade, Richard Wright foi reintegrado ao grupo, como músico contratado. São 13 horas de material inédito, em áudio e vídeo, incluindo dois elogiados concertos desta fase: um em Veneza, realizado em 1989, e outro no festival de Knebworth, em 1990. “Muito fácil, bem segunda classe, no geral, pobre, mas uma falsificação bem inteligente”. O comentário, nada edificante, é de Roger Waters, em entrevista a revista inglesa Q, sobre A. Momentary Lapse of Reason, que não foi bem recebido pela maioria da crítica. Numa delas, o trocadilho com o título: “Um Lapso Momentâneo de Razão” vira um irônico “Um Lapso Momentâneo de Qualidade”.

Foi um disco de parto difícil. Richard Wright tinha saído do grupo e assinado uma cláusula, confirmando que não pertencia mais à banda. Para voltar teve que tocar como músico contratado. O produtor canadense Bob Ezrin, que trabalhou com o PF em The Wall, foi convidado tanto por Roger Waters quanto por David Gilmour para voltar a produzi-los, desta vez separados. Ezrin, optou pelo segundo convite. Roger Waters espalhou histórias escutadas de terceiros, que só abria o fosso entre eles e os ex-companheiros de banda.

Uma delas era a de que um diretor da gravadora (ainda a CBS) viajara para Londres para escutar o disco, e o achou tão descaracterizado de qualquer coisa parecida com o Pink Floyd que pediu que Gilmour regravasse o que tinha feito até ali. Gilmour desmentiu. Pelo menos o primeiro single, Learning to Fly, emplacou nas paradas, mas soa como uma banda tentando copiar o Pink Floyd. Roger Waters faria falta também como letrista. Depois de muita procura chegaram a Anthony Moore, também músico, que frequentava círculos de rock experimental.

São dele as letras de Learning to Fly, The Dogs of War e On the Turning Away, consideradas as melhores do álbum. Esta última era uma canção de protesto, contra políticos de direita, o que nunca foi muito a praia de Gilmour, mas a letra é de Anthony Moore. Dificuldades e críticas à parte foi um sucesso. Vendeu bem, e rendeu uma turnê milionária. A marca Pink Floyd continuava forte. The Divison Bell foi o álbum em que Richard Wright mais interferiu num trabalho do PF.

Em faixas como Marooned e Cluster One ele é quem dá as cartas, seria também seu último disco de estúdio com o grupo (ele faleceu em 2008). Polly Samson, mulher de David Gilmour, é a principal letrista do disco. Seria a letrista também no álbum final do Pink Floyd, o elogiado The Endless River. Do box fica como novidade, pois, a música ao vivo, em áudio e vídeo. Sem a música composta por Roger Waters o grupo é capenga, com um momento ou outro de brilho, amparando-se nos maneirismos criados pelo PF até The Wall. Os Blu-Rays só encarecem a caixa, que custa nos EUA US$ 341,33 ou R$ 1.405,00 (sem impostos).

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