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Fernando Brant e outros autores ganham belos tributos

Zé Renato gravou Paulinho da Viola no estúdio da Luni

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 06/01/2020 às 12:12
Foto: Philippe Leon/Divulgação
Zé Renato gravou Paulinho da Viola no estúdio da Luni - FOTO: Foto: Philippe Leon/Divulgação
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No final de 2019, pelo menos quatro CDs dedicado à obra de um único compositor chegaram às lojas. Todos de ótima qualidade, bem produzidos e que valem ser escutados em streaming ou levados para casa. Começando por Fernando Brant – Vendedor de Sonhos. Fernando Brant (1946/2015), sócio fundador do Clube da Esquina, estava com 21 anos quando Milton Nascimento o convidou para escrever letras para suas canções. A primeira, reza a lenda, foi a de Travessia. Se tivesse afastado-se da música depois desta letra, já teria entrado para a história da MPB. Mas continuou escrevendo pelo resto da vida. Boa parte entrou para a biblioteca de clássicos da MPB.

San Vicente, Credo, Sentinela, Outubro, Ponta de Areia, Saídas e Bandeiras N° 1, Panelas e Canelas, Vida, Amor Amigo, Maria Três Filhos, Vendedor de Sonhos. Todos os títulos são de parcerias com Milton Nascimento e estão incluídos no álbum Vendedor de Sonhos, com mais cinco: com Beto Guedes (O Medo de Amar É o Medo de Ser Livre), Durango Kid (com Toninho Horta), Paisagem da Janela (com Lô Borges), Canoa Canoa (com Nelson Ângelo). As gravações não foram reaproveitadas de fonogramas dispersos por discos já lançados. É tudo inédito, com diversos intérpretes.

Uma escalação que abre com Beto Guedes em San Vicente, Mônica Salmaso vai de O Que Foi Feito Devera. Milton Nascimento canta O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre. Joyce Moreno interpreta Saudades dos Aviões da Panair. Paisagem da Janela ficou com Samuel Rosa. Em uma de suas últimas gravações, Vander Lee (falecido em 2016) comparece com Canoa Canoa. Tributos quase sempre são coleções cheias de altos e baixos. Nesta aqui predominam os altos. A grande maioria joga um novo foco sobre as as canções de Brant, deixando vaga para um segundo volume.

AFRO + SAMBAS

Antes de engatar uma parceria de sambas pop com Toquinho, Vinicius de Moraes voltou a contribuir para remodelar o samba, com a série de afro-sambas composta com Baden Powell. Soa redundante o termo “afrosamba”, afinal o samba tem raízes fincadas na África. Mas o título remete às influências que os levaram a criar a coleção de sambas lançada em 1966. Parte veio de discos de samba de roda da Bahia, enviada a Vinicius pelo amigo e compositor Carlos Coqueijo. Parte veio de uma visita de Baden Powell a terreiros de Salvador. O disco acabou tornando-se um monumento da MPB. Alexandre Caldi, saxofonista e flautista, e Itamar Assiere, pianista, optaram por não seguir a mesma rota do álbum original:

“O repertório é bem conhecido do público, mas permanece tão inspirador que nos permitimos desconstruções, devaneios harmônicos e improvisos livres em nossos arranjos, sem perder de vista a essência melódica e rítmica dessas obras primas da nossa música popular”, comenta Alexandre Caldi no encarte do CD. AfroSambas contém oito faixas, mas o conceito que ele criou com Vinicius já estava arquitetado em 1963, em Consolação. O Mesmo para Labareda, lançada por Odette Lara em álbum que dividiu com Vinicius de Moraes, em 1963. Completam o repertório com Samba novo, de Baden Powell, de 1979, álbum duplo, em que o violonista revisita parte dos afro-sambas.

REI DO POP

Ainda continua bastante subestimada a contribuição de Guilherme Arantes à música pop brasileira. Até ele surgir em meados dos anos 70, o modelito era italiano, seguido por Roberto Carlos depois da fase hippie de fim de semana. Arantes trouxe outras linhas melódicas, outras temáticas, e fez do piano o principal instrumento. Sua música resistiu ao tempo, e quem prova isto é Evinha Gambus, com o marido, o pianista francês Gerard Gambus. Evinha Canta Guilherme Arantes traz uma dúzia de composições de Guilherme Arantes na voz doce e afinada da carioca Eva Correia José Maria, que começou criança com os irmãos, no Trio Esperança. Solo também teve carreira vitoriosa, nos anos 70, com sucessos feito Casaco Marrom, ou Cantiga por Luciana.

DA VIOLA

Da belíssima capa à faixa final do repertório, O Amor é Um Segredo – Zé Renato Canta Paulinho da Viola é papa fina. Não pecasse pela obviedade, bem que pode ser chamado de Para Um Amor no Recife, samba que Paulinho fez em 1968 para uma recifense. Nada mais justo que ele ganhasse um tributo feito no Recife, cidade que aprendeu a amar desde que fez o primeiro show aqui, há 51 anos.

O álbum foi gravado no estúdio da Luni, produzido por Zé Renato com os irmãos irmãos Tostão e Lula Queiroga. Repertório inteiro registrado em um único dia, Zé Renato e violão, e toda carga de lirismo de que é impregnada a obra de Paulinho da Viola. Às gravações foram inseridas as participações do sax do maestro Spok e o virtuoso trompetista Fabio Costa. Com sutileza, também permeia o disco a percussão de Tostão Queiroga. Um dos melhores discos de Zé Renato.

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