“Uma ópera deve fazer as pessoas chorarem, sentirem-se aterrorizadas, morrerem”. Comentário do compositor Wilhelm Richard Wagner (1813/1883), sobre o ciclo de quatro óperas intitulado Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo). Substituindo-se a palavra “ópera” por “política”, a frase poderia ser atribuída a Adolf Hitler, o Führer, criador do nazismo, admirador incondicional de Wagner que, curiosamente, viu-se obrigado a exilar-se na Suíça, durante cinco anos por professar ideias extremistas de esquerda.
O compositor alemão teve trecho da ópera Lohengrin utilizada como fundo sonoro do desastrado vídeo de Roberto Alvim,cuja repercussão negativa levou o presidente Bolsonaro a exonera-lo do cargo de Secretário de Cultura do governo. Não pela qualidade da música, mas pela ligação da obra de Wagner a Adolf Hitler, e ao nazismo.
>> Veja quem foi Goebbels, ministro nazista que Roberto Alvim, demitido por Bolsonaro, parafraseou
>> Regina Duarte é convidada para substituir Roberto Alvim na Secretaria de Cultura
O filme de Petra Costa é propaganda? Podcast O Fato É discute a polêmica:
MODERNO
Paradoxalmente, Hitler abominava o modernismo dos artistas judeus, que considerava “decadente”, assim como também o jazz. No entanto, aceitava as inovações estéticas de Wagner, um dos criadores da moderna música erudita, porém, ele próprio anti-semita. O compositor faleceu seis anos antes de Hitler nascer. Nos anos 20, ele se aproximou de Winifred Wagner, filha de Richard Wagner, a quem cobre de elogios em Mein Kampf (Minha Luta).
A música de Wagner, sobretudo o ciclo com as quatro óperas, formado por Das Rheingold (O Ouro do Reno), Die Walküre (A Valquíria), Siegfried e Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses), tem forte cunho nacionalista, exalta personagens da mitologia nórdica. Ressaltando que a Alemanha só unificou-se em 1971. Certamente por afirmar que a política estava em tudo o que fazia, Wagner é o compositor de que se lembram quando se liga música a nazismo. Porém Wagner era uma paixão pessoal de Adolf Hitler, enquanto a peça musical com que os nazistas se identificavam, praticamente apropriada pelo regime, foi a cantata Carmina Burana, música de Carl Orff (1895–1982), em versos do século XIII, que exaltavam a juventude e o néo-paganismo. Felizmente, a cantata não ficou estigmatizada pelo nazismo.