O que há em comum nas canções Brisa, Amor de Que, Favela Chegou, Combatchy e Mil Grau? Além de serem interpretadas por grandes cantoras do atual cenário pop brasileiro – lê-se: IZA, Pabllo Vittar, Ludmilla, Anitta e Gloria Groove, respectivamente – todas foram consideradas grandes hits do gênero em 2019 nas plataformas digitais. Mas por trás das vozes que ecoam em cada uma dessas faixas estão nomes que volta e meia se repetem na composição destas músicas. E o Jornal do Commercio foi atrás de algumas destas pessoas que criam, escrevem e até produzem estas canções que não saem dos ouvidos de quem curte o pop brasileiro.
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Brisa - Composição: Iza/Pablo Bispo/Ruxell/Sérgio Santos
Embora pareça um recorte do eixo Rio-São Paulo, já que estes compositores vivem nestas grandes metrópoles, a história de cada um mostra que um bom hit pode vir de várias nascentes.
O carioca Pablo Bispo, por exemplo, é um nome fácil de ser encontrado nos créditos das canções de quase todas as artistas mencionadas no início desta matéria. “Eu vim da favela, um ambiente onde tudo é feito para você desacreditar nos seus sonhos. Eu nunca acreditei que poderia viver fazendo o que eu amava, não só composição, mas produção de música, de arte, na verdade. (...) A composição sempre esteve na minha vida, mas depois que falei para mim que precisava viver disso, que eu amo isso, ela virou uma constante na minha vida”, conta o compositor.
Amor de Que - Composição: Rodrigo Gorky/Zebu/Pablo Bispo/Maffalda/Arthur Marques
Outra figurinha conhecida nas composições do mundo pop atual é Arthur Marques, que começou a carreira ainda na frente dos microfones. “Eu comecei a fazer música na adolescência, fui parte de uma banda chamada Mickey Gang. Chegamos a fazer turnê no exterior e assinar com uma gravadora inglesa e nessa época conheci o Gorky, que era do Bonde do Rolê e tocava bastante fora. (...) Vários anos depois ele começou a produzir a Pabllo Vittar e me chamou para trabalhar com ele. A primeira música que co-escrevi foi Sua Cara, do Major Lazer com Pabllo e Anitta e depois disso outros projetos foram acontecendo”, relata.
Ao mesmo tempo em que Pablo e Arthur volta e meia compõem juntos algumas canções para as divas do pop nacional, um trio também acabou se destacando nesse meio, a ponto de criar uma “fábrica de hits própria”. Trata-se da Hitmaker, uma produtora liderada pelos compositores André Vieira, Wallace Vianna e Pedro Breder.
Favela Chegou - Composição: André Vieira/Pedro Breder/Tállia/Wallace Vianna
“Comecei a compor aos 9 anos e desde então nunca mais parei. Surgiu de forma muito intuitiva Sempre amei música, e quando percebi, já estava compondo. Foi algo mágico que definitivamente, mudou minha vida”, afirma André. “Comecei a compor aos 12 anos para minha avó que me criou. Ela era muito fã de Alexandre Pires (cantor na época do SPC), mas quando minha avó descobriu estar com osteoporose e quebrou o fêmur, ficou impossibilitada de andar, e a única coisa que a alegrava era ouvir música. (...) Todos os dias eu cantava as músicas pra minha avó até vê-la dormir e prometi que iria fazer uma música pra ela (...) Desde então, nunca mais parei”, narra Wallace.
“Sendo fã de diversos letristas que iam de Mano Brown à Chico Buarque, comecei quando criança à brincar de freestyle, estilo de rimas improvisadas que rappers costumam fazer. Rimava na rua, em casa, no busão, durante a aula… Me custou algumas advertências mas potencializou o vocabulário e métricas”, declarou Breder.
COMPOSITORES QUE TRADUZEM AS ARTISTAS
Diante das mais diversas origens, esses “criadores de hits” têm as mais diversas frentes de trabalho na hora de compor uma música para as divas do pop nacionais.
Pablo Bispo, por exemplo, gosta de estar o mais próximo possível das artistas. “Quando você ouve as nossas músicas, você raramente sabe que fomos nós que compusemos ou produzimos, você acha que o artista mesmo fez. E é isso que queremos. Quando você ouve Pesadão: ela é IZA em música. Se ela fosse música, ela seria aquilo ali. Seja a Pabllo com K.O., Amor de Que, Disk Me... A Gloria Groove com Bumbum de Ouro. Nós gostamos de extrair essa essência do artista e colocar em música”, conta o produtor.
Combatchy - Composição: André Vieira/Romeu R3/Wallace Vianna/Breder
Arthur Marques revela não há fórmula para uma composição nascer. “Meu processo não tem padrão. Às vezes eu tenho alguma frase em mente, uma melodia ou algum parceiro manda uma ideia. Ficamos sempre com o radar ligado porque as ideias vem de todos lugares. O tempo varia da mesma forma, algumas músicas saem muito rápido e outras precisam de um tempo maior para amadurecer. Já tive músicas que saíram em 15 minutos e algumas que demoraram três anos para serem finalizadas”, afirma ele, responsável por sucessos de Pabllo e Luísa Sonza.
Para o trio do Hitmaker, que já escreveu hits de Anitta, Ludmilla e Valesca Popozuda, uma boa música pode vir tanto por encomenda, quanto espontaneamente. “Nosso processo de trabalho é atender ao máximo a expectativa de som que o artista almeja. Com eles, construímos a sonoridade dentro da identidade de cada um, peculiaridades, dialeto, mantendo a essência de cada artista”, dizem os produtores.
Mil Grau - Composição: Gloria Groove/Pablo Bispo/Ruxell/Sérgio Santos
Para estes músicos, a expectativa para o pop nacional neste ano é de mais hits. “Há muitos artistas novos e autênticos. Espero que em 2020 essa cena continue abrindo mais ainda”, diz Pablo Bispo. “Estamos numa crescente do pop nacional e 2020 tem tudo pra ser um ótimo ano, reforça Arthur. “Se depender de nós, 2020 será o ano da música pop brasileira”, decreta o trio Hitmaker.
