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Tunai fecha discografia com Caderno de Lembranças

Cantor falecido aos 69 anos, divulgava o novo disco

JOSÉ TELES
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Publicado em 28/01/2020 às 11:19
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Cantor falecido aos 69 anos, divulgava o novo disco - FOTO: Foto: Divulgação
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José Antônio de Freitas Mucci, Tunai, mineiro de Ponte Nova, onde nasceu em 13 de novembro de 1950, ficou conhecido injustamente como cantor de um sucesso só, Frisson (com Sérgio Natureza, seu parceiro mais constante). Falecido de uma parada cardíaca, no domingo, no Rio de Janeiro, foi muitas vezes citado, injustamente, como tendo a carreira impulsionada por ser irmão de João Bosco. Na época em que Tunai começou a aparecer, o irmão já era um nome do primeiro time da MPB, no auge das parcerias com Aldir Blanc. Tunai seguia seu próximo caminho, o de um novo pop brasileiro, que se diferenciava do que até então dominava as paradas, e que tinha Roberto e Erasmo Carlos como autores mais influentes.

Tunai faleceu quando retomava o pique de voltar à estrada com o disco Caderno de Lembranças, primeiro álbum em 15 anos (desde Dança das Cadeiras, de 2004). Ele voltou com um estilo mais próximo de João Bosco e distante do pop que assumiu nos anos 80. Você Olha, é um bolero (com Cláudio Rabello), na base do dois pra lá, dois pra cá. A maioria das composições é assinada com o velho parceiro Sergio Natureza, outras com Salgado Maranhão ou Carlos Colla. Do irmão regrava Corsário (com Aldir Blanc), que está, com Maria Maria, de Milton Nascimento e Fernando Brant, nas faixas bônus, gravadas ao vivo no Sesc Taubaté no projeto Saudade da Elis (As Aparências Enganam), espetáculo apresentado com Wagner Tiso.

Em Caderno de Lembranças, Tunai fez seu disco mais próximo da MPB tradicional, com o violão bem destacado, um trabalho que, feito o do irmão João Bosco, é muito forte em ritmos. Tocam com ele, entre outros, Wagner Tiso, Dodô Moraes, Rony Barrak, Roberto Alemão, Francisco Falcon. Tunai toca vários violões, marcas que vão de um Washburn, um Chet Atkins ou um Di Giorgio Fora de Série. A faixa que destoa um pouco do clima, pelos instrumentos com mais peso (tem a guitarra de Vitor Biglione) é Bala Perdida 2 Edit.

TRAJETÓRIA

Antes mesmo de gravaro primeiro disco, Tunai passou a fornecedor de canções para intérpretes da MPB, com destaque para Elis Regina que gravou dele (com Sérgio Natureza), As Aparências Enganam, no álbum Essa Mulher (1979). Uma canção que teve várias regravações, uma dessas, de Ney Matogrosso, com o Aquarela Carioca. Elis gravou também Agora Tá, que seria regravada por Maria Rita. A lista de quem gravou Tunai é longa, e contém nomes luminares da MPB. Mas foi fundamental a importância de Elis Regina na sua vida. Engenheiro, há alguns anos trabalhando em obras, Tunai chutou a engenharia a escanteio a partir de sua primeira gravação por aquela que considerava a maior cantora do país.

As Aparências Enganam foi a composição que escolheu para seu compacto de estreia com show no Parque Laje, em 1980. Mas levou quatro anos para emplacar com a própria voz. Ao contrário de João Bosco, que surgiu no início da década de 70 e já colecionava uma série de sucesso, Tunai fazia discos para poucos, e músicas para muitos: Emílio Santiago (Perdão), Milton Nascimento (Certas Canções), Gal Costa a(Olhos do Coração, Eternamente), Fafá de Belém (Hora Extra), Simone (Depois das Dez), alguns que o gravaram. A entrada da gravadora alemã Ariola, em 1980, um arrasa-quarteirão que passou o rodo no mercado, contratando a peso de ouro as principais estrelas da MPB – de Chico Buarque, Milton Nascimento e João Bosco a Elba Ramalho, Alceu Valença, Ney Matogrosso, Moraes Moreira, Toquinho e Vinicius, até Os Trapalhões – arregimentou também artistas que ainda não tinham estourado, mas em cujo potencial acreditavam. Tunai estava entre eles e gravou seu terceiro LP, Em Cartaz, que chegou às lojas em outubro de 1984.

No Jornal do Brasil, Tárik de Souza preconizava acertadamente o sucesso de um artista que, até ali, ainda precisava ser apresentado como irmão de João Bosco: “O tímido mineiro de Ponte Nova, de uma família frondosa de dez irmãos, todos interessados em música, vem desta vez apostando tudo no sucesso pessoal. Domingo passado, o Fantástico da TV Globo exibiu o videoclipe do carro-chefe do LP, Frisson, canção, nos moldes do pop à Guilherme Arantes.

Quatro anos mais novo do que João Bosco, Tunai foi roqueiro numa banda chamada X-Geray Rock, que só tocava Beatles. Sua queda para a composição foi oxigenada quando conheceu Sérgio Natureza em 1975, coincidentemente, num show de Elis Regina. O disco Em Cartaz colocou Tunai nas paradas do país inteiro. O levou a encarar plateia com voz e violão, num show iniciado no Teatro Ipanema em 1985. Ele levou mais músicas às paradas, feito, por exemplo, Sintonia, dividindo o espaço tomado por bandas como Paralamas, Legião Urbana e Ultraje a Rigor, mas nada possa se comparar às dimensões de Frisson, que está como Muito Estranho para Daltro ou Sonho de Ícaro para Biafra

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