Frevo

Pupillo, ex-Nação Zumbi, repagina o frevo ao lado de nomes como Maestro Duda, Caetano Veloso e Duda Beat

O disco Orquestra Frevo do Mundo, Vol. 1, já está disponível nas plataformas de streaming; confira a análise e entrevista com Pupillo

João Rêgo
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Publicado em 02/03/2020 às 15:06
Foto: Dovile Babraviciute/ Divulgação
O disco Orquestra Frevo do Mundo, Vol. 1, já está disponível nas plataformas de streaming; confira a análise e entrevista com Pupillo - FOTO: Foto: Dovile Babraviciute/ Divulgação
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O Carnaval se foi, e com isso as sonoridades do Frevo e suas orquestras são menos escutadas.

Há um debate complexo entre o idealismo de um gênero cultural conservado roubar dos ouvidos do público uma crescente e diversificada tendência de novos gêneros; do brega-funk ao sertanejo, para citar alguns. Do outro lado, há a saída de descristalização de processos, misturando a cultura popular a outros ritmos.

Uma discussão que não necessariamente seja acalorada, até pela natureza que a música se funde e se mescla historicamente. Nesse campo específico, por exemplo, é só perceber o sucesso de nomes como Chico Science e a Nação Zumbi ou dos projetos de Siba.

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No esteio desses fenômenos, em específico do Frevo, ganhamos mais uma obra para integrar essas discussões. A Orquestra Frevo do Mundo, Vol. 1, comandada por Pupillo, tensiona os metais do gênero através da linguagem pop de nomes como Duda Beat e Céu.

“Essa relação com o Frevo pode ser um gênero além do folclore, assim como o samba. Porque não ouvir frevo o ano inteiro? Por isso nos arranjos eu não uso 100% frevo. Foi uma espécie de exercício para mim, como um ritmista, não usar o toque”, explica Pupillo, que convidou também nomes como Caetano Veloso, Otto e o próprio Siba.

“É para tentar tirar o frevo desse lugar folclórico e trazer artistas do universo pop para dentro disso. Principalmente porque são nomes que têm no DNA a experimentação. A música pop é formada dentro desse conceito – de juntar várias vertentes”, diz.

O músico e produtor, membro da Nação Zumbi por mais de 20 anos, lançou o projeto em parceria com seu sócio Marcelo Soares. Os dois conceberam o primeiro álbum Frevo do Mundo (2007), com nomes como Edu Lobo, João Donato e o Cordel do Fogo Encantado.

A ideia de misturar o gênero a outros ritmos seguia a mesma, até a realização do show de mesmo título do seu novo projeto. Os campos se expandiram, para além de uma mescla, uma espécie de resgate de tradições esquecidas.

“O start foi quando eu fiz a apresentação na Sala da Justiça e percebi que tinha material suficiente para transformar em disco. Fiquei com isso na cabeça, e depois fui tocar no carnaval baiano. E me veio na cabeça todo o histórico de Nelson Ferreira na Bahia e quanto a passagem dele no Estado foi importante. Era uma forma de juntar essas duas escolas, e trazer essa importância do frevo baiano”, explica.

REINVENÇÃO

A Orquestra Frevo do Mundo pode carregar os nomes de peso citados, mas vale ainda um destaque especial para um presente na ideação do disco e em quase todos instrumentais, o Maestro Duda.

Pupillo não traça guerras entre metais e nem força uma reinvenção do ícone do frevo pernambucano. Nas composições em que está presente, Duda conversa com as linguagens presentes naturalmente.

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“O que ia desenhar mais o frevo no disco eram os arranjos metais, por isso o convite ao Maestro Duda. É até bacana perceber no disco essa diferença de estilos. Os arranjos do Maestro e de Nilsinho se misturando com as batidas mais pops”, explica.

A ideia é de um diálogo harmonioso, sem antagonismos ou dualismos. Uma conversa entre vários gêneros contidos no disco; de uma pegada mais pop até batidas jamaicanas – tudo misturado com frevo.

“Um dos motivos de insistir nesse dialogo é quebrar esse bairrismo que os gêneros pernambucanos sofrem. Como quando Felinho colocou um solo jazzístico e foi retalhado. Eu lamento que isso ainda aconteça. Ter a participação do Maestro Duda e ele topar tocar fora do contexto que ele tocou a vida toda é incrível”, ressalta.

O trabalho de Pupillo pega carona em uma tendência não muito distante da própria música pernambucana e sua relação com a cultura popular do estado. O resultado é um aquecimento constante de ritmos e gêneros, não importe a época do ano.

“Isso vem desde os anos 90 no trabalho que surgiu com a cena de Recife. Chico tem um papel fundamental nessa retomada. A partir do momento que a cultura popular do Nordeste poderia abrir um diálogo com qualquer tipo de música. Como a gente tinha isso do hip hop, costumávamos samplear trechos de músicas da cultura de Pernambuco. Da Lama ao Caos, por exemplo, traz muito disso”.

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