
A Mimo oferece a oportunidade de se ver, ao vivo, um clássico dos anos 80, Clara Crocodilo, do paranaense Arrigo Barnabé. Com este trabalho, ele, em 1980, iniciava o que seria rotulado de “vanguarda paulistana”, reunindo nomes como o Grupo Rumo, Tetê Espíndola, Itamar Assunção, E Eliete Negreiros. Arrigo apresenta, com o pianista Paulo Braga (que toca também na Mimo, com o trio 3-63), Clara Crocodilo – Uma suíte a 4 mãos (dia 8, na Igreja N. S. do Rosário dos Homens Pretos, no Centro do Recife), versão diferente do disco, com acompanhamento de dois pianos.
Embora esteja fora da mídia nacional, gravando pouco, Arrigo Barnabé, além de shows, tem participado de filmes, atuando, ou compondo trilhas. Ganhou prêmio no Cine PE 2011, com a trilha de Família vende tudo, de Alain Fresnot, e acaba de compor a música de Anita Garibaldi, que está sendo rodado, no Rio Grande do Sul, pelo diretor italiano Alberto Rondalli. Como ator, participou, em 2010, de Luz nas trevas - a volta do bandido da luz vermelha (2010), de Ícaro Martins, Helena Ignez, e do ainda inédito Nervos de aço, do gaúcho Maurice Capoville. Este filme, levou Arrigo Barnabé a rever a obra, farta em passionalismo extremado, de Lupicínio Rodrigues o que desaguou no espetáculo Caixa de ódio. O título vem do nome de uma canção do compositor gaúcho, o show virou DVD, que será lançado no final de outubro.
Mesclando atonalismo, dodecafonismo, Schoenberg com programas policiais do rádio, jogos eletrônicos, o Centro de São Paulo, Arrigo Barnabé criou um objeto não-identificado na música brasileira (ele nunca se considerou parte da sigla MPB). Com Tubarões voadores (de 1984), Clara Crocodilo faz parte de capítulo importante, particular, de uma época em que o fácil começou a predominar na indústria do disco. Ambos os álbuns estão fora de catálogo, sem previsão de relançamento. Arrigo Barnabé, vez por outra, revisita estes álbuns de assimilação difícil, mas clássicos incontestáveis.
O show da próxima quinta-feira é imperdível por vários motivos. Um destes, é a longa ausência de Arrigo Barnabé dos palcos recifenses. Até os anos 90, ele vinha constantemente ao Recife (em dos seus shows, no Teatro do Parque, no Projeto Seis & Meia, teve na abertura Chico Science & Nação Zumbi). Assim é não deixar Clara crocodilo fora da agenda, e torcer para que algum produtor se sensibilize e traga o show Caixa de ódio para a cidade.