Relançamento

O disco mal comportado do rock dos anos 80

Cabeça dinossauro mexeu até com programadores de FMs

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 05/06/2012 às 6:00
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Embora já tivesse emplacado sucesso de baixos teores nas rádios (Sonífera ilha, Televisão), os Titãs não eram exatamente exemplos de bom comportamento. Em 1985, Arnaldo Antunes e Tony Bellotto foram detidos por porte de heroína. Bellotto foi liberado logo. Arnaldo que foi acusado também de tráfico, passou um mês na prisão. Em um meio ainda tão conservador, os Titãs viu surgir lacunas em sua agenda de shows. “A gente sentia a vontade de fazer um disco com uma sonoridade única, no sentido de ter uma unidade. A gente vinha de dois discos com um repertório muito variado, então as pessoas não percebiam bem o que a gente era”, comentou Tony Bellotto, no lançamento da edição comemorativa de Cabeça dinossauro, semana passada em São Paulo.

O disco chegou às lojas dia 1º de junho, remasterizado, mais um CD adicional com as demos originais do álbum, que estavam nos arquivos de Charles Gavin, masterizada por Denilson Campos (responsável pela digitalização da demo em fita cassete). Os fonogramas do disco oficial foram remasterizados por Ricardo Garcia (que trabalhou nos originais). Os Titãs ensaiam para sair em turnê Brasil afora para celebrar os 30 anos do grupo, com os ex-integrantes Arnaldo Antunes, Charles Gavin (Nando Reis não aceitou o convite). Promete ser novamente um sucesso de público como em 1986, a tirar pelos shows com lotação esgotada em os Titãs vêm tocando Cabeça dinossauro na íntegra.
A mistura de punk rock, hard funk e reggae interpretada com uma energia pouco comum ao BRock, seria um tiro no próprio pé, imaginavam os oito titãs, que convidaram Liminha para produzir o álbum (com Pena Schmitd e, Vitor Farias), o que foi fundamental para a sonoridade final. Mais celebrado produtor do rock brasileiro na época, o irascível ex-Mutantes tinha autoridade suficiente para exigir mudanças em determinadas músicas. Até para fazer Branco Mello se redimir das críticas que lhe tinha feito de tornar iguais todos os discosdo rock nacional. Tony Bellotto conta que perdeu um litro de Jack Daniels para Branco Mello, que achava que iam ganhar um Disco de Ouro com Cabeça dinossauro. Bellotto apostou contra. 

O lançamento do álbum aconteceu, em junho, no Projeto SP, com as músicas cantadas em coro pela plateia – o disco mal havia começado a tocar no rádio: “Foi mesmo um disco de romper. A gente era conhecido por uma música. No Cabeça, a gente decidiu: vamos romper com isto. Não tínhamos noção de que poderíamos nos dar bem comercialmente. Era um risco grande, e aconteceu o contrário. De repente todo mundo estava cantando as músicas”, lembrou Branco Mello. Um disco que tinha tudo para não dar certo. A começar pela capa e contracapa, idealizada por Sérgio Britto, ilustradas por esboços de Leonardo da Vinci em tons foscos. No repertório, uma canção que os Titãs tocam desde o início em 1982, Bichos escrotos. Proibida para difusão pela censura, os próprio programadores das FMs promoveram uma rara ação de desobediência civil – a música virou um hit radiofônico, assim como quase todo o repertório de Cabeça dinossauro.
“É considerado um disco histórico, por uma série de conjunções defatores. Gravado quando a quando a ditadura estava terminando,significou o grito de uma geração. Transcendeu um pouco a questão do disco em si. Tanto é que gente está fazendo o show deste disco e não de outro”, comentou Tony Bellotto, com o complemento de Sérgio Brito: “Esta coisa mais agressiva, mais gritada, não tinha no dicionário da musica popular brasileira, daí passou a ser avaliada pelo próprio público. AA UU, por exemplo, foi escolhida como primeiro single e acabou na trilha de uma novela”.

O disco demo que vem como bônus nesta reedição de Cabeça dinossauro, vai além de uma mera curiosidade. Não se trata de uma coleção de rascunhos toscos. As canções foram bem gravadas, antes de serem enviadas para masterização no Rio. Família e O que foram as duas que sofreram mais modificações. As demais, comparando as versões, são praticamente iguais, com o devido upgrade do produtor. No CD 2, uma canção inédita, Vai pra rua, sacada do álbum original, para entrada de Porrada. Cabeça dinossauro abre a série de reedições da obra banda, celebrando os 30 anos de carreira dos ex-Titãs do Iê-iê-iê.


 

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