Memória

Seis décadas do rojão de Jackson do Pandeiro

Ele gravou Forró em Limoeiro de Edgar Ferreira em 1953

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/06/2013 às 6:00
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Com bandas, duplas sertaneja, estrelas da axé music, como atrações principais dos maiores arraiais juninos do interior do Nordeste, Jackson do Pandeiro é cada vez mais um ilustre desconhecido pelos conterrâneos. Um dos dois pilares em que se sustentou o que se convencionou chamar de forró, o paraibano (de Alagoa Grande), José Gomes Filho (1919/1982) é mais citado do que escutado. Sua obrigatória e extensa discografia encontra-se praticamente toda (sic) fora de catálogo. Não é de surpreender, portanto, que passe em branco os 60 anos de seu primeiro disco solo, um 78 rotações, gravado em 1953, com Forró em Limoeiro (Edgar Ferreira), e Sebastiana (Rosil Cavalcanti), gravado no estúdio da Rádio Jornal do Commercio (atual Rádio Jornal), na Rua do Imperador, e lançado pela Copacabana.

Até então Jackson do Pandeiro era o pandeirista da Orquestra Paraguary, e participava do regional de Luperce Miranda (na época em que este ensaiou uma volta ao Recife, que havia deixado no final dos anos 20). Era no regional que, vez por outra, ele mostrava seus dotes, ainda não devidamente reconhecidos, de cantor. O maestro Clóvis Pereira trabalhou com Jackson durante todo o tempo em que ele foi contratado da Jornal do Commercio, entre 1950 e 1954: “Não participei da primeira gravação dele. O sanfoneiro deve ter sido um músico chamado Auro Tomás, conhecido como Gaúcho, que passou um tempo na rádio. Jackson gravou no estúdio do sexto andar. Havia um outro no quarto andar. O estúdio ficava no auditório. A sonoridade era boa porque se gravava direto no acetato. Ali eram gravados os programas da emissora. Uma pena que tudo tenha se perdido, boa parte da história do rádio de Pernambuco estava ali”, conta o maestro.

Clóvis Pereira tocou no sexto 78rpm do cantor: “Fiz os arranjos da orquestra que acompanhou Jackson em Vou gargalhar, de Edgar Ferreira, e Micróbio do frevo, de Genival Macedo. As gravações eram sempre à noite, quando a rua ficava silenciosa, fechavam-se as janelas, e dava para gravar bem”, continua o maestro.

Como cantor, ele começou a fazer sucesso com o coco Sebastiana, do amigo Rosil Cavalcanti, um pernambucano de Macaparana (falecido em Campina em 1968, aos 53 anos), com quem fez a dupla Café com Leite, nos anos 40, na Rádio Tabajara, de João Pessoa. Sebastiana, um futuro clássico da música brasileira (dos vários clássicos de Rosil Cavalcanti, raramente lembrado em seu estado natal), popularizou-se nas apresentações de Jackson do Pandeiro nos programas de auditório da Jornal do Commercio. Chamou atenção do compositor, e representante da gravadora Copacabana no Nordeste, Genival Macedo, que sugeriu a contratação do paraibano como cantor.

O 78 rotações inaugural da obra de Jackson do Pandeiro foi um sucesso imediato no Brasil. Sebastiana foi o lado B de Forró em Limoeiro, um rojão, um novo ritmo criado pelo também pouco lembrado recifense Edgar Ferreira (1922/1995), autor de, entre outros, 17 na corrente e 1x1, ambos gravados por Jackson do Pandeiro. Na sua coluna na Revista do Rádio, uma das publicações mais lidas no país na época Manezinho Araújo (1913/1993), o rei da Embolada (nascido no Cabo de Santo Agostinho), saudou o novo astro: “Jackson do Pandeiro é uma bandeira melódica do Nordeste. Bandeira , do coco e do rojão típica da embolada, desfraldando-se no Brasil do Sul, na conquista de sucessos. É pinto de bom galo, que é esse pernambucano (sic) querido. Desça daí cabra da peste e venha cantar bonito em terreiro carioca. Já lhe esperam de braços abertos”. 


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