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Do Amor continua nadando contra a corrente do pop nacional

Banda carioca lança Piracema, o segundo álbum

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/07/2013 às 6:00
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Escolher o nome Piracema para o nome do segundo álbum da banda Do Amor teve motivos e significados, que vão além de ser este o nome do sítio em que o grupo trabalhou na pré-produção do repertório: “O disco mesmo foi gravado no Rio. Em 2011 fizemos a pré-produção num em Três Rios. Piracema é o nome de uma estação de trem desativada. Mas ao mesmo tempo significa momento de peixes para desova, quando eles nada contra a corrente, o que de certa forma o que a banda faz”, diz Marcelo Callado, baterista da Do Amor.   Ele com Gabriel Mayall (guitarra e voz), Ricardo Dias Gomes (baixo e voz) e Gustavo Benjão (guitarra e voz)  formam uma das bandas mais elogiadas do rock brasileiro nos úiltimos anos. São todos igualmente músicos requisitados. Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes, por exemplo, tocaram na Banda Cê, que gravou e fez as turnês  dos três últimos discos de Caetano Veloso.

No sítio, sob a batuta do produtor Daniel Carvalho (entre outros Marisa Monte, e Adriana Calcanhotto), eles trabalharam 18 canções, de 40 que levaram para o sítio, das quais uma (Mindigo), apareceu  na coletânea Oviolão, do blog O Esquema.

Piracema é a sequência do Do amor, de 2010. Os três anos entre um e outro tem a ver com a agenda dos músicos: “Todos da banda tocam com vários artistas, Alice Caymmi, Lucas Santtana, Nina Becker, muita gente. Com Caetano é diferente porque as turnês dele tem uma agenda muito grande, então o tempo para a Do Amor é diferenciado. A gente foi gravando nas folgas, e chamando os amigos. Arto Lindsay toca guitarra numa faixa, Rodrigo Amarante toca banjo em outra, Kassin também participa. Quem mais fez mais participações foi Moreno Veloso, em quatro faixas”, continua Marcello Calado, em entrevista por telefone, do Rio.

E março o quarteto liberou a faixa título no site da banda. O disco inteiro está disponível para audição ou download no Soundcloud, mas já saiu em CD físico, e terá uma edição em vinil, álbum duplo, abrindo o catálogo do selo Disco Maravilha, do produtor Daniel Carvalho: “O que não tem remédio, remediado está. Se a gente não libera para download, alguém libera. Não tem mais como controlar. A gente sabe que não vender milhões, mas nos shows sempre se vende, então fizemos o CD que já garante a grana do táxi, por exemplo. O que é mais legal é o vinil, porque em um som melhor, custa mais caro, porém tem qualidade, e não em pirataria, as pessoas estão comprando cada vez mais vinil, mesmo com o preço”, diz Marcello Callado.

Eles próprios, os integrantes da Do amor, são compradores de vinil, alguns há muito tempo. O carimbó presente nos dois discos do grupo é comumente atribuído a  reflexo do modismo que se tornou a música paraense, sobretudo a incensada guitarrada. Em Piracema há três carimbós. Marcelo Callado ressalta que o carimbó vem de muito antes dos ritmos do Pará se tornaram a dança da moda. De meados dos anos 90, quando ele ainda tocava no Carne de Segunda, embrião da Do Amor: “A gente era adolescente e foi ver um show da banda de Kassin na época, o Acabou la Tequila, ele tocaram Sinhá Pureza, que a gente  não conhecia, a música de Pinduca, Naquele tempo vinil era muito barato aqui no Rio. Com qualquer dois reais você comprava um LP. A gente sai pela cidade procurando vinil, e pegava tudo de Pinduca”, conta Callado.

Mas o carimbo é somente um entre os muitos ritmos que a Do Amor encara em Piracema. Quando o  baterista comentou sobre o trafegar na contramão certamente se referia a esta característica da banda de atirar pra todos os lados e quase sempre acertar todos os alvos. O grupo pode sair de um levada paraense, para embocar num folk sessentista de harmonias a quatro vozes, uma balada pop em inglês (no disco há mais três canções em inglês). O grupo continua fiel ao estilo, que ganhou tantos elogios, do disco de estreia. Aquele no entanto tinha menos faixas, em compensação a banda disparava para alvos variados ao mesmo tempo, porém com calibre mais pesado, acertando no imprevísivel.. Experimentava mais.

Marcelo Callado concorda em parte com a diferença apontada entre ambos os discos: “Tem a ver. Foram gravados de formas diferentes. O primeiro gravou-se baixo, depois bateria, guitarra. Como demorou um certo tempo entre e uma outra gravação, foram acrescentadas outras coisas. Este foi gravado tudo junto. Mas embora pareça mais simples também tem overdubs. Também foram acrescentados outros elementos”.


DISCO

Piracema abre calculadamente anticlímax . com Ar, uma melodia suave, lenta, com timbres eletrônicos (que lembra o francês Air), apontando para uma mudança de rota no som da Do Amor. Na faixa seguinte já entram guitarras, em Ofusca, um pop rock radiofônico. A próxima minha mente por ser enquadrada no neo-psicodelismo que a tendência da hora do rock nacional, já Mindingo mostra influências do Talking Heads dos primeiros discos, na guitarra funkeada e na batida repetitiva.

Marcello, Ricardo, Gustavo e Gabriel não são músicos extraordinários, nem grandes cantores. Mas, empregando um termo do economês, agregam valores, tornando o todo maior que as partes. Revezam-se nos vocais, e extraem o que podem de canções de acordes básicos. Isto é o legado dos grandes criadores da música João Gilberto ou Beatles. Ao contrário do disco anterior, o Do Amor aqui se garante apenas com músicas autorais. Dos muitos convidados, o que mais se destaca é o guitarrista Pedro Sá (em Minha mente), não por acaso um dos integrantes da banda Cê

Aparentemente mais simples do que o álbum inaugural do grupo, Piracema, é depuração de estilo. A Do Amor nada contra a corrente, mas sem se debater, tranquilo, dando a impressão de que, na realidade, quem nada na contramão é a grande maioria do pop brasileiro.   .  


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