Otto/Entrevista

Otto vai cair no samba de Martinho da Vila

Cantor começa o ano cheio de projetos, incluindo um de baião

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 06/01/2014 às 11:19
Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
O cantor pernambucano Otto - FOTO: Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Em 1974, o Brasil foi atingido por uma epidemia de meningite que botou a população em pânico. Neste ano Otto, na época com seis anos, morava em Flores (PE), no sertão do Pajeú, onde o pai dele era promotor. Com a imprensa proibida de de divulgar notícias sobre a epidemia, o medo da doença entre os sertanejos assemelhava-se ao que se sentiu com a peste negra na idade média. Quem podia, fugia para a Capital: “O filho do juiz pegou. Tivemos que sair de lá correndo. Imagina o que era ter meningite no sertão. E o menino do juiz era vizinho, andava com a gente. As casa do juiz e promotor eram brancas e coladas. Ele morreu, o corpo foi embalsamado, não foi ninguém ao enterro. Saímos de lá às pressas, quando chegamos no Recife fomos direto pra sede do Sport leva a pistolada, a vacina”, conta Otto, que a partir dai passou a morar na capital, onde ensaiou uma carreira de jogador de futebol, no Santa Cruz (onde foi contemporâneo de Cannibal), passou um tempo em Paris, e voltou quando o movimento mangue começava a ser fermentado.

Uma das lembranças afetivas mais fortes que ele guardou de Flores foi o LP Canta, canta minha gente, de Martinho da Vila, lançado no mesmo ano da epidemia de meningite: “Quem deu este disco a gente foi Vanda Uma amiga da família, que também me ensinou a dançar catimbó. Cantei muito as músicas deste disco, na infância,e Na adolescência” relembra. Passados 40 anos, ele presta uma homenagem ao álbum de Martinho da Vila. Vai começar a montar um show em que canta todo o repertório de Canta, canta minha gente, cujo faixa mais conhecida, Disritmia, não reflete o conteúdo de um disco em que Martinho canta lundu, chula, partido alto, regrava os pais do samba, Pixinguinha Donga e João da Balão: “Talvez este disco tenha me chamado atenção para o  candomblé. Tem uma bela capa de Elifas Andreato, sempre quis cantar este álbum, tenha na memória todas aquelas nuances de Martinho”, comenta Otto.

Ele não falou ainda sobre o projeto com Martinho da Vila. Nem ainda iniciou os ensaios, mas já tem engatilhados quatro shows de Canta, canta minha gente, no SESC Vila Mariana e na virada cultural: “Vamos ensaiar em São Pulo, ficou lá a partir de fevereiro, definindo o formato, a banda, que vai ser Pupilo , Marco Axé, Malê, Regis e Pretinho da Serrinha, e Bactéria. Este show do canta canta vai ser um sonho de muito tempo. Tenho o repertório todo na mente”, continua Otto, que tem ainda no bolso outro projeto paralelo, que batizou de Bailão de Dois, quero fazer com uma cantora, vou convidar Karina Buhr, ainda não trabalhei com ela assim, mas acho que vai dar pé. Quero mostrar minha faceta de interprete da música de minhas raizes, vou de Seu Luiz a Alceu, aos contemporâneos, um projeto para levar no São João”.

Otto Maximiano, cidadão de Belo Jardim, no agreste pernambucano, mangueboy de primeira hora, baladeiro de pegar o sol com a mão, entrou em 2014 pisando no freio. Parou de fumar, garante que depois de ter passado 40 dias sem beber, voltou de leve, e que está dispensando as noitadas boêmias, conforme uma equação simples: “Menos noite, mais saúde. Estou com 45 anos, preciso trabalhar que a vida está dura Eu acho que o segredo do sabedoria mais madura é aproveitar mais. trabalhar mais. Eu quero isso esse ano”. Em 2014, ele ainda deve sacar da manga mais dois projetos, um de frevo, e entra em estúdio para a sequência de The moon 1111, que completa três anos. O título será Ottomatopeia, mais uma palavra-valise (port-manteau word), duas palavras formando uma terceira como em Condomblack, seu disco de 2001: “ Deste, já tenho seis ou sete músicas. Pupilo é que guarda os borrões das composições. Será um trabalho mais  voltado pra minha forma de criar música, minha assinatura. O nome já diz tudo. São coisas que caracterizam minha música, um estilo difícil de conceituar”.

Otto está mais entusiasmado mesmo é com o projeto Canta, canta minha gente, e aponta coincidências: “ São quarenta do Canta canta, 20 do Da lama E o Da lama é o disco onde me acho mais presente como integrante da nação zumbi. As minhas congas estão lá. E tenho escutado muito o maestro Moacir Santos, que era de lá de Flores”. O “Bicho que Pula”, apelido que ganhou quando era percussionista do Nação Zumbi e depois Mundo Livre, com quem gravou os primeiros discos, lamenta a ausência de mais artistas pernambucanos nos palcos do Recife no revéillon: “Acho uma pena nós não estarmos na programação principal. Deve ser constrangedor pra muita gente chegar na nossa cidade, e não ver os representantes locais na programação . Acho que este ano tivemos uma produção fantástica de discos pernambucanos. Minha noite perfeita seria Siba  Nação Edite  Mundo livre  Café preto  Dolores Orquestra Spok. Faríamos uma noite maravilhosa Homenagearíamos Reginaldo Rossi, Carlos Fernando. Seria ainda um show barato Com relação ao que se gasta pelo o ultrapop de fora”.

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