“I don’t wanna to stay here/ I wanna to go back to Bahia”. Em 1970, este refrão ecoou pelo País inteiro. Foi um dos maiores sucesso do ano. Paradoxalmente. A música lembrava o exílio de Caetano Veloso, banido do Brasil em 1969. Uma das fontes de renda do cantor baiano para sobreviver no exílio era uma coluna que publicava, em forma de carta, no semanário O Pasquim, o jornal brasileiro mais badalado da época. Inspirado nessas cartas, o cantor pernambucano Paulo Diniz (com Odibar, falecido em 2010), compôs I want to to go back to Bahia, em 1969. A música foi incluída por Caetano no DVD do show Abraçaço, que ele lança hoje, Circo Voador, no Rio de Janeiro.
“Eu era hippie, vivia pelas gravadoras mostrando minhas músicas. Muita gente queria gravar a música, Simonal e outros cantores, mas eu não deixei”, relembra Paulo Diniz, que desde final dos os anos 1990 mora no Recife, em Boa Viagem, e pouco sai de casa, pois tem movimentos do corpo limitados.
Ele e Caetano foram inquilinos do lendário Solar da Fossa, um casarão (que se localizava onde hoje está o Shopping Rio Sul, em Botafogo, na Zona Sul do Rio), onde moravam quase todo mundo que praticava alguma atividade artística no Rio na época: Gal Costa, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Paulo Leminski, Odete Lara, Naná Vasconcelos, Glauber Rocha, Torquato Neto. “Eu não era um grande amigo de Caetano, mas a gente conversava sempre, todo mundo no Solar se conhecia”, diz Paulo Diniz.
I want to go back to Bahia foi gravada sem muita pretensão, no estúdio da Odeon, no Centro do Rio: “No baixo foi Liebert, dos Fevers; na bateria Mamão, do Azimuth; o tecladista também foi os Fevers. Aliás, quem produziu a sessão foi Pedrinho, dos Fevers. No backing vocal, um grupo que batizei de Goldenança, era formado pelos Golden Boys e o Trio Esperança”. A canção foi lançada em 1970, num compacto que trazia no lado B Ponha um arco-íris na sua moringa (também com Odibar), um música literalmente psicodélica: uma viagem de Paulo Leminski, que sugeriu o tema (inclusive o título) a Paulo Diniz.
As duas canções do compacto estouraram nacionalmente, levando Paulo Diniz a gravar um LP na Odeon. “Sucesso é imprevisível, nunca se imagina ao gravar uma música que vá ser sucesso. O sucesso é divino, do jeito que chega, vai embora”, comenta o cantor. O álbum foi batizado de Quero voltar para a Bahia, o que fez muita gente achar que Diniz era mais um baiano bem sucedido no mundo da música.
Também suscitou, acha Paulo Diniz, um pouco de cisma entre os baianos do grupo Caetano. “Tinha aquela patota de baianos (nota: patota era em 1970 o equivalente a galera, hoje), eu era amigo de Gal, de Rogério Duarte, mas senti que ficou um clima meio antagônico. Não sei se acharam que eu pretendia tomar o lugar de Caetano”.
Paulo Diniz diz que surpreendeu quando soube que o baiano iria cantar sua música, porque, embora tenham se falado algumas vezes nos anos 1970, Caetano nunca comentou com ele nada sobre I want to to go back to Bahia para o DVD Abraçaço.
A música recebeu diversas versões. Wando e Daniela Mercury, por exemplo a gravaram. Passados 43 anos, a canção continua tocando em rádio, é uma das favoritas dos cantores de barzinhos, mas rende muito pouco EM direito autoral a Paulo Diniz.