Nada como terminar um festival de jazz e blues com um legítimo Morganfield. No caso, Mud Morganfield, filho de Muddy Waters considerado o maior dos bluesmen. Assim foi encerrada a 7ª edição do Garanhuns Jazz Festival, com quatro dias de música de qualidade para um público seleto, nos shows que aconteceram no Parque Rubem Van Der Linden, o Pau Pombo, e no palco Ronildo Maia Leite. Montado diante da esplanada Mestre Dominguinhos (ex-Guadalajara).
Nestes dias carnavalescos Garanhuns torna-se um oásis musical, comparado as cidade do interior pernambucano, a maioria com programações que incluem bandas de arrocha, de fuleiragem, sertanejos, que podem até agradar a um público jovem, mas cada vez mais o distancia das tradições culturais nordestinas.
“Garanhuns pega um público menor, mas a repercussão é bastante positiva para a cidade. Conseguimos mídia espontânea pelo país inteiro”, concorda o prefeito Izaias Régis, que exulta com o resultado econômico dos quatro dias do festival: “Tivemos hotéis com ocupação plena, muito movimento nos restaurantes. O Garanhuns Jazz recebe um turista seleto. Para o ano vai ser preciso realizar o festival num espaço maior”.
Este turista seleto, e garanhuenses que se acostumaram a permanecer na cidade durante o evento, assistiu a um verdadeiro Carnaval de blues, jazz e até rock brasileiro anos 80, em que não faltou frevo. Tocado pelo duo brasiliense Salimanga (formado pelo violonista BC Araujo e o saxofonista Paulo Rogério, do Móveis Coloniais de Acaju). No repertório clássicos do frevo (Madeira do Rosarinho, um deles), com solo de violino do pernambucano Israel França (que toca na sinfônica de Granada Espanha), e percussão do garanhuense Herick Faustino.
O violonista Pedro Black, novato selecionado para tocar no GJF, tocou à tarde no Pau Pombo, e abriu a noite da terça de um festival, que teve o mais animado dos quatro dias. Muita gente ali para ouvir, ver, e tirar a inevitável foto com George Israel (Kid Abelha), e Edu Ardanuy, guitarrista a Dr.Sin (SP). Israel, um saxofonista razoável, formou uma inusitada dupla com o virtuoso guitarrista Victor Biglione. Testemunhou-se então a heterodoxa união de pop brasileiro, Brasil (Cazuza/George Israel), Sonífera ilha, e Na rua, na chuva, na fazenda (Hyldon), com o Jimi Hendrix de Little wing e Foxy lady, com Biglione incorporando o histriônico Hendrix, tocando guitarra com os dentes, ou solando com o instrumento nas costas.
O público, que ficou numa média de duas mil pessoas por noite (muito bom para show de jazz, em qualquer parte do mundo), não arredou pé, e dançou com o Carnaval de guitarristas, já uma tradição da ultima noite do Garanhuns Jazz Festival. Foi quase um who’s Who da guitarra no blues nacional: Greg Wilson (Blues Etílico), Fred Andrade (PE), Artur Menezes (CE), Jonatan Richards (PE), Otávio Rocha (Blues Etílico), Thomas Lera (PE), Igor Albuquerque (PE), Edu Ardanuy. Com Karl Dixon no vocais, e Leo Israel, na bateria).
Por fim, mas não menos importante, direto de Chicago, o filho de Muddy Waters, o maior dos bluesmen. Na voz e fisicamente ele tem semelhanças impressionantes com o pai. Acompanhado pela Uptown Band, o filho mais velho de Mckinley Morganfield desfiou um repertório baseado no seu ultimo disco, Son of the seventh son, que só tem um único blues do Morganfield sênior.
O GJF 2014 acabou às duas da manhã. Embora seja uma real opção à folia da capital, a quarta-feira ingrata também chegou para a plateia do jazz e do blues.