De um projeto apresentado à Câmara de Vereadores do Recife pelo ex-vereador Liberato Costa Júnior, em 1960, até obter a concessão de funcionamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2011, somente agora, 54 anos depois de idealizada, a Rádio Frei Caneca parece tomar fôlego e, finalmente, ganhar vida. Se tudo ocorrer de acordo com encaminhamento dado à emissora pelo atual gerente de música da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR), o também DJ Patrick Torquato, ainda este ano, ou melhor, este semestre a emissora começa a ser transmitida.
Nesta segunda-feira (17), no auditório do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), começa a se reunir o primeiro de três grupos de trabalho que foram divididos para pensar a cara e o modo que a rádio vai operar – os outros dois também terão encontros nos próximos dias 18 e 19, respectivamente. Formadas por integrantes de diversas entidades, como membros do Conselho Municipal de Cultura e também do Fórum Pernambucano de Cultura, as divisões vão pensar a programação, o financiamento e a operacionalização da emissora.
“Abrimos a discussão com a sociedade para pensar o formato, o conceito e o direcionamento que essa emissora vai ter. Tudo isso para que a rádio não venha a se apresentar como um órgão desconectado dos interesses da sociedade”, declara Patrick. “Outras gestões também formaram comissões para discutir a emissora, mas resolvemos ampliar o debate.”
De acordo com o gerente de música da FCCR, cerca de 30 pessoas participam ativamente do grupo que foi formado no início deste ano. Para Patrick a discussão precisou ser aprofundada antes de pararem para pensar propriamente em como a Frei Caneca funcionará, já que a comunicação pública é um tema pouco discutido no País, inclusive no ambiente acadêmico.
“As faculdades de comunicação, por exemplo, não têm disciplinas focadas em comunicação pública. Por isso, antes de iniciarmos os trabalhos, foi preciso fazer uma espécie de capacitação. Estudar casos de outras emissoras públicas e apresentar alternativas ao nosso atual modelo de rádio.” Assim, além de apresentar aos membros bibliografia sobre o tema, na última segunda-feira (10), foi realizado um seminário com representantes de instituições públicas.
Participaram do encontro Ana Veloso, uma das conselheiras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC); Kiko Ferreira, da rádio Educativa UFMG; e ainda Lucas Ferreira, da rádio da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “A gente precisa formar uma rádio com um conselho de caráter deliberativo. Por mais que atualmente a gente tenha um poder público comprometido, não sabemos como serão as gestões dos governos que virão”, orientou Ana Veloso, também professora da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
Depois de encerradas as discussões, uma reunião, agendada para o dia 15 de abril, vai apresentar as propostas de cada um dos três grupos. O resultado será finalizado num documento a ser apresentado na Câmara de Vereadores do Recife, em um evento ainda sem data definida, e que deve contar com a participação do prefeito Geraldo Julio. Só assim é que se poderá ter início a abertura de editais para aquisição de equipamentos para transmissão. “Depois desse momento, será um caminho sem volta, já que tendo como transmitir, com um computador simples ou até um celular, é possível formatar e fazer a programação”, declara Patrick, reforçando que a torre da rádio já tem um ponto de instalação: o alto de um dos prédios da Sudene, no Engenho do Meio.
Para marcar os avanços desta nova fase da Rádio Frei Caneca, uma página entrou no ar na internet (www.freicanecafm.org) no começo do mês, já transmitindo uma sequência musical que privilegia artistas da cena local. Além disso, um campo no site permite aos internautas enviarem sugestões que podem entrar nas discussões que desenham o canal. “Por enquanto, temos recebido um número interessante de mensagens, mas poucas com interesse e sugestões, são mais dúvidas ou elogios”, explica Patrick.
Conheça a cartilha que serve de referências aos grupos de trabalho:
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