>Uma arte despida da arte. A última palestra do ciclo Modernizações Ambivalentes, do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico e Centro Cultural Brasil-Alemanha, acontece nesta tercça (13/5), a partir das 19h, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) do Derby, com esse tema provocativo. O convidado principal é o professor e pesquisador Rodrigo Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais, que conversa com a curadora Cristiana Tejo e a coordenadora de Artes Visuais da Fundaj, Bruna Pedrosa. O evento é gratuito.
Rodrigo é um dos maiores especialistas brasileiros na obra de Theodor Adorno e na “teoria crítica” da Escola de Frankfurt – é autor de livros como Adornos – Nove ensaios sobre o filósofo frankfurtiano e Teoria crítica da indústria cultural. Aqui no Recife ele vem falar sobre esse tema da “desartificação da arte” que, não por acaso, aborda o pensamento do alemão. “A desartificação é um conceito dele, que já aparece na década de 1950, em obras como Theoria aesthetica. Ele denota a condição da arte em um mundo dominado pela indústria cultural. Quando ela surge, ela rouba parte do lugar que pertencia antes à arte”, explica o filósofo.
Assim, a arte é explorada para ser usada pelas mercadorias culturais de massa. “Esse conteúdo é desfigurado e não tem mais o mesmo objetivo: passa a ser da ordem da lucratividade e da ideologia capitalista”, aponta Rodrigo. A desartificação, no entanto, é tanto responsável por esse ataque ao espaço artístico como também uma resposta a ele.
“Adorno só sugere isso, não explorou muito: ele diz que alguns artistas veem o risco que a arte corre e adotam a desartificação como estratégia de sobrevivência da arte. Isso começa já no dadaísmo, no início do século 20, com o slogan de ‘morte à arte’. Para eles, era melhor que a arte morresse antes de virar pura ideologia”, descreve o professor.
O exemplo melhor, no entanto, são os ready-mades de Marcel Duchamp, que se valem de objetos de fora do contexto artístico para ressaltar o poder da arte e da estética. “Eu proponho que esse modo de desenvolver o conceito poderia enfocar vários fenômenos da segunda metade do século 20, como as caixas de Brillo de Andy Warhol”, comenta Rodrigo.
Para ele, nessa apropriação da arte há uma espécie de vingança contra a indústria cultural. “A mercadoria não tem aquilo que o Adorno chama de ‘promessa de felicidade’. Ela satisfaz uma necessidade imediata; enquanto uma obra de arte aponta para um outro mundo, para algo que ainda não aconteceu”, expõe. “Acho que a arte contemporânea se preserva através desse caminho”.