"Foi a primeira vez que isto aconteceu. Preferi não receber o que teria direitos pelas composições. O objetivo maior é o projeto. Quero que o disco alcance as pessoas, o que seria difícil se custasse R$ 25, com o País em recessão. Depois de muita luta, ele está sendo comercializado a R$ 10. Eu continuo ganhando, como artista, o cantor das canções”, explica. Para o sacerdote este disco (O tempo de Deus) tem um sabor especial. É sua resposta, ou agradecimento, à cura da depressão que combateu durante seis meses.
Cada canção é uma louvação pela graça alcançada que, diz, pretende compartilhar com seus milhares de admiradores, citando uma frase de Santo Agostinho: “Quem canta reza duas vezes. O tempo de Deus foi produzido por Guto Graça Melo, um produto trabalhado com o esmero que recebem as estrelas das gravadoras, com participação de disputados músicos de estúdio, entre os quais Paulo César Barros, ex-Renato e seus Blue Caps, que está em boa parte dos álbuns de Roberto Carlos, o saxo de Zé Canuto e a bateria de Jurim Moreira, que já tocou na banda de Alceu Valença, entre outros astros da MPB. Para divulga-lo, o padre pela primeira vez apareceu na TV (no Fantástico) acompanhado por uma banda. Eu sempre achei frescura este negócio de depressão até que fui afetado por ela.
"A depressão pega todo mundo, independentemente e classe social. Não deixei que ela me afetasse a ponto de afastar de todos, de celebrar missa. Continuei fazendo tudo isso, mas perdi muito peso. Meu peso normal é 88 quilos, tenho 1,95m, cheguei a 60 quilos”, narrou.
A magreza do padre suscitou comentários e inevitáveis fotos postadas na Internet. Alguns contrapondo uma foto do Padre Marcelo obeso ao lado de uma com ele magérrimo. Ele não esconde. O incomodou a ponto de seus advogados rastrearem a postagem: “Foi descoberto que saiu do Pará, mas preferi não levar adiante. Partiu de alguém maldoso com intenção de me destruir. A primeira foto é de seis anos atrás. Eu não estava gordo, estava inchado pelo uso constante que fazia de cortisona para diminuir dores na coluna”, explica ele, que chegou a pesar 128kg em consequência do efeito colateral do remédio. A depressão afirma ter curado sem remédios, sem terapias.
Teve que se superar até para enfrentar sessões de autógrafos, como quando lançou o livro Kairós: “Mas não tinha pique para fazer dedicatória, ir em muitas cidades. Uma das cidades que fui na época foi ao Recife, onde tenho parentes (veja galeira de imagens da visita, em 2012, no final desda reportagem). Meu próximo livro, Philia, sai no ano que vem. Quero divulgar como aconteceu com o Ágape, que é o livro mais vendido no Brasil depois da Bíblia. Hoje, estou com o meu peso normal. Na época da depressão parei com meus exercícios. Sou atleta, formado em educação física, voltei a correr doze quilômetros por dia, estou bem nos meus 47 anos”, jacta-se Padre Marcelo.
A depressão atribui em parte ao mundo moderno, fazendo uma pergunta: “Você usa muito o celular, acorda no meio da noite para checar e-mail? São coisas que contribuem”, diz, fazendo uma analogia com um tapete, cuja parte de cima é harmonicamente bela, mas que por baixo “Você olha para e vai ver um monte de fios embaralhados”. Embaralhada, ele via a disputa presidencial (concedeu a entrevista no dia seguinte a um dos mais acalorados debates na TV).
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Embora se posicione contra candidatura de religiosos, ressalta que como cidadão nunca deixou de votar, desde que 1989. Mas que não havia ainda decidido a quem daria o voto: “Estava disposto a ver um debate de propostas para tomar uma posição, mas o que vi foi só acusações. A igreja é apartidária, mas como cidadão tenho que votar. Não vi discussão sobre segurança, educação, saúde e serviços básicos. Então não vi o debate todo. Não iria perder meu tempo. Sou mais um que ficou confuso. Não sei se é correto mas, feito Pôncio Pilatos, lavei as mãos".
Confira nas imagens abaixo, como foi, em 2012, a visita do padre Marcelo ao Recife: