Caixas

Queen, The Who, David Bowie, em caixas retrospectivas

Gravadoras no exterior lucram com aproveitamento dos arquivos

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 23/11/2014 às 10:37
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Com exceção do pequeno selo carioca Discobertas, no Brasil, reedições de discografia em caixas,  são de uma falta de imaginação, ou descaso, lamentáveis e, com uma outra exceção, restritas a medalhões. Nem estes, têm direito a uma mergulhada nos arquivos em busca de preciosidades esquecidas. A recente caixa que reúne a obra de Djavan é bem uma continuidade disto. Os dois discos de raridades trazem de volta faixas lançadas oficialmente, raras, ma non troppo. O próprio Djavan revelou que tem muita música inédita dormindo no fundo da gaveta, sem que se saiba se um dia sairão do ineditismo.

Nos grandes mercados de discos, EUA, Japão, Inglaterra, revisita-se e reedita-se catálogos constantemente. Não se deixa efemérides passar em branco, nem tapes mofarem ociosas. Basta lembrar a a Bootleg serie de Bob Dylan, que chegou este ano ao 11º lançamento, os Basement tapes, saído originalmente, em 1975, como um album com dois LPs (posteriormente em um CD) estendido agora a meia dúzia de CDs, mais um DVD, além de um fornido e importante ensaio sobre estas lendárias sessões de Bob Dylan e The Band.

Aproximando-se o período natalino, onde disco, continua senão o melhor presente, o mais fácil de se escolher, os títulos de reaproveitamento de catálogo é extenso e privilegia dos seminais grupos e artista solo dos anos 60 e 70, até nomes, importantes, mas que nem chegam a ser cult. Abaixo uma seleção de caixas e álbuns duplos e triplos recém-lançados, infelizmente a preços salgados, com a cotação do dólar indo á estratosfera.

 

Nothing has changed – the Best of David Bowie ( Columbia/Legacy) – Não se trata de uma compilação convencional, com canções manjadas dos quase 50 anos de carreira de Bowie, embora traga muitos dos seus sucessos. São 59 faixas, abertas pela inédita, feita para este projeto, Sue (in a season of crime), gravada com  cantora e pianista de jazz Maria Schneider e orquestra, as raras Your turn to drive, lançada apenas na Internet, e uma trinca de faixas, de um álbum terminado e não lançado, Toy (2001). As canções estão em ordem cronológica inversa. Termina com Liza Jane (196), quando o cantor ainda usava o nome artístico de Davie Jones.   

A seleção de título é ainda mais interessante do que a primeira caixa David Bowie lançou em Sound + vision, de 1989 (atualizada em 2003). Nothing has changed vem em três versões físicas, em CD, álbuns triplo, duplo e simples. Cada qual com uma capa diferente.

 

Queen forever (Virgin Records) – Durante as sessões do album Hot space (1981), foi gravada a base de uma canção que não foi aproveitada. Ela voltou a ser trabalhada para o discoWorks (1984), e acabou, um ano depois, sendo lançada no álbum solo de Freddie Mercury Mr.Bad guy. Mercury fez uma versão da canção, uma balada, com Michael Jackson, em Los Angeles, finalmente masterizada e mixada pelo produtor William Orbit (Madonna, Robbiw Williams). Um baladão sem grandes qualidades, vale mais pela curiosidade, e o título irônico: There must be more to life than this (Deve haver algo mais na vida do que isto).

São 36 faixas, entre hit manjados, versões diferentes e inéditas, entre estas Let me in your heart again, de Brian May, sobra de The works. Outro acepipe para fã do grupo é Love kills numa versão apenas com o Queen, com Freddie Mercury. A canção original está na trilha de Metropolis, o filme de Fritz Lang, com trilha produzida por Giorgio Moroder, parceiro de Mercury nesta faixa. As 36 faixas cobrem toda a carreira do Queen. A versão em CD simples tem 20 faixas.

 

The Who hits 50, The Who – O título é claro: o Who chegou aos 50 anos e, como os Rolling Stones, em 50 licks, lança um álbum duplo, porém com 44 faixas. Apenas uma é inédita, Be lucky. As demais abrangem a carreira da banda desde que ainda se chamava High Numbers. Há versões remasterizadas, editadas para rádio na época em que foram lançadas nada que o fã do Who não tenha. Uma coletânea preguiçosa, que chega às lojas como álbum duplo e simples.

 

The art of McCartney – Provavelmente nem os fãs ardorosos de Paul McCartney (quase todos) vão incluir este álbum triplo entre seus tributos prediletos ao ex-Beatle. O produtor e idealizador do projeto, Ralph Sall,  é um fã ardoroso de Macca, e levou dez anos para finalizar esta produção, conseguindo reunir um galáxia de estrelas de primeira grandeza De Bob Dylan, a Billy Joel, passando por Brian Wilson, Willie Nelson, Airborne Toxic Project, Perry Farrell, e por ai vai. Reuniu também Brian Ray, Rusty Young, Paul Wickens e Abel Laboriel Jr. ou seja, a banda que acompanha Paul McCartney há alguns anos.

O tão aguardado projeto findou como um karaokê de luxo, até Dylan, que nunca suas próprias canções como forma gravadas, canta Things we Said today da maneira mais convencional que lhe é possível., ma ainda é a melhor versão do disco1, pela voz de lixa, que contrasta com a canção de amor feita por McCartney(mas assinada também por Lennon),  há 50 anos. No entanto,  édifícil distinguir a versão de Maybe i’m amazed feita por Billy Joel do original de Paul McCartney (1970). A Heart assume o karaokê em Band on the run,  canta em cima do mesmo aranjo de McCartney.

Recentemente a Flaming Lips lançou sua versão, na íntegra, do Sgt Pepper’s, em que desconstrói o clássico álbum dos Beatles. Descontroi, mas não recria. The Art of McCartney nem descontroi, nem recria, só copia. São 34 faixas, na versão simples, com mais oito extras na superdeluxe. Tem faixa que se jura estar ouvindo o próprio homenageado cantar. Indicado aos fãs exacerbados de Macca, ou dos Beatles.

 

(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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