Para os leigos, frevo é uma música feita por apenas dois compositores, Capiba e Nelson Ferreira, e interpretada por um único cantor, Claudionor Germano da Hora. Esta trinca é responsável por grande parte do repertório tocado pelas emissoras de rádio pernambucanas no período carnavalesco, isto é, as poucas que tocam frevo. No entanto, basta uma olhada nas gôndolas das lojas de discos para se aprender que o frevo abriga não somente muito mais compositores, como nem só Claudionor Germano gravou frevos-canção. Estão aí as coletâneas para comprovar.
A Polydisc tem três em catálogo: duas na série 20 supersucessos História do Carnaval, uma temática com frevos sobre o Recife, mais uma intitulada Frevo-canção - O melhor Carnaval do mundo. A maioria pinçada dos fonogramas do acervo da antiga Gravadora Rozenblit, que fechou as portas em meados dos anos 1980, depois de 30 anos de atividade. Expedito Baracho (outro dos preferidos intérpretes da velha guarda do frevo), Ray Miranda, Mêves Gama, Roberto Nogueira, Jô Gomes, Evaldo França, Raimundo dos Santos, Ivanildo Silva, Woleide Dantas são alguns dos intérpretes de sucessos dos anos 1960, década em que o gênero viveu o auge comercial. Vários já são falecidos, outros encerraram a carreira.
Não poucos desses frevos canção, no entanto, ficaram datados, ou pelo tema das letras ou pelas interpretações ainda inclinadas ao vozeirão pré-João Gilberto. Uns carecem ser explicados para que se entenda do que se tratam. Casos de A ponte não caiu (Mario Griz), cantada por Beto di Paula, inspirada numa malfadada tentativa de implosão da ponte da Torre, em 1977, ou Querias, mas não te dou e A mulher do Padilha (ambas de Plácido de Souza), que aproveitam bordões personagens do humorístico televisivo Viva o gordo, de Jô Soares, de quase 40 anos atrás.
Frevo canção O melhor Carnaval do mundo é uma salada de sucessos do acervo da Rozenblit, com Claudionor Germano, Expedito Baracho, Raimundo Santos, com gravações relativamente recentes de Almir Rouche, Nonô Germano. Lançamento desleixado, com o mínimo de informações sobre o conteúdo, com uma capa que não ajuda embora o repertório seja muito bom. Mas o que se oferece com fartura é Claudionor Germano solo. Começando com Carnaval Nelson Ferreira e Biografia Capiba, dois títulos, estranhamente, sem selo de gravadora, mas com fonogramas de origem certa e sabida: do fértil catálogo da Rozenblit, mistura dos álbuns gravados por Claudionor em 1960 e 1961, exaustivamente lançados com apresentações diferentes. Não trazem absolutamente nada que informe do que se trata. Mas é o suprasumo do frevocanção clássico. O melhor dos dois grandes autores, com Claudionor no auge como intérprete.
Da recente discografia solo de Claudionor podese encontrar Cem anos do frevo. Sem ele não dá, com o maestro Spok e compositores como Cláudio Almeida (Mande um beijo pra mim), Fred Monteiro (Coração recifense), Nelson Ferreira, Capiba, João Santiago e Antonio Maria (a trilogia de frevos evocativos do Recife). Outro bom disco da discografia recente de Claudionor é Ranchos e blocos no Carnaval do Recife (com participação de Miúcha). Mais uma vez se recorre à Rozenblit e a Nelson e Capiba, na coletânea 50 anos de frevo, uma retrospectiva dos dois compositores por seu principal intérprete, mas sem nenhuma novidade. O incansável Claudionor ainda tem um disco de cirandas, relançamento de um LP de 1975, com selo Replay. Em CD, a capa muda e ficha técnica que é bom, nada. O repertório, no entanto, compensa o descaso com o consumidor. Por fim, Dos 8 aos 80 é um disco lançado quando o cantor completou 80 anos, também título do show homônimo apresentado no Santa Isabel.
O passo do frevo, Frevos de rua de José Bartolomeu reúne as músicas do compositor, que completa 80 anos em 2015 e que tocou nas mais importantes orquestras de frevo pernambucanas. Ele já havia reunido composições suas na série 20 Supersucessos da Polydisc, agora repete a empreitada pela Sonocom. São 14 faixas com orquestras dos maestro Adelmo, Nunes, Jovelino, Banda Henrique Dias, etc. A facilidade do CD contribue para que os clubes, blocos, troças preservem seus repertórios, como acontece com a Turma da Jaqueira Segurando o Talo, com o CD Lagartos e Borboletas No compasso do frevo rasgado. Disquinho com 12 frevos, de autores que vão do maestro Nunes a Xico Bizerra, Renato Phaelante e Getúlio Cavalcanti. O Um Bloco em Poesia celebra uma década e meia de carnavais com disco produzido por Luciano Magno e João Araújo. Um dos mais bem elaborados lançamentos da temporada, com composições dos produtores. Tem 14 faixas, e intitula-se Um Bloco em Poesia 15 anos.
O forrozeiro Geraldinho Lins lançou um álbum duplo, 61 faixas, com frevos de bloco e canção, repertório que desfia no Galo da Madrugada. O nome do disco é Galo 2015. André Rio está com Um abraço no frevo, homenagem a Carlos Fernando, de quem canta a maioria do repertório, com música autoral, e No cordão da saideira (Edu Lobo), uma das canções preferidas do criador do compositor caruaruense. O maior bloco de Carnaval do mundo, por sinal, está distribuindo um CD promocional: Asas da América, Asas para o frevo, com sete músicas. Entre os autores estão Maciel Melo e Ananias Júnior, Tito Lívio, Fernando Azevedo, Paulo e Fernando Gama, além, claro, do próprio Carlos Fernando, com parceiro Geraldo Amaral. As músicas têm como intérpretes Almir Rouche, Maciel Melo, Elba Ramalho, Tito Lívio e Gustavo Travassos. Carlos Fernando também é lembrado em Perfume de Carnaval, de Maciel Melo, que gravou o primeiro disco inteiramente de frevos, a maioria autoral, com participação do maestro Spok, que toca sax em quase todas as faixas.
(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)