O REI DO RITMO

Jackson do Pandeiro tem vida e obras revisitadas em documentário

Dirigido pela dupla de diretores paraibanos Marcus Vilar e Cacá Teixeira, Jacksons e imagens traz depoimentos de pessoas que acompanham de perto o icônico músico

Alef Pontes
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Alef Pontes
Publicado em 21/03/2015 às 5:56
Acervo do Museu de Arte Popular da Paraíba/Divulgação
Dirigido pela dupla de diretores paraibanos Marcus Vilar e Cacá Teixeira, Jacksons e imagens traz depoimentos de pessoas que acompanham de perto o icônico músico - FOTO: Acervo do Museu de Arte Popular da Paraíba/Divulgação
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Apesar de não ter recebido a mesma atenção na sua discografia, hoje de difícil acesso, Jackson do Pandeiro é, ao lado de Luiz Gonzaga, um dos mais importantes nomes da música nordestina. Não apenas isso, como também da brasileira. Agora, o músico recebe a devida atenção: sua vida e sua obra são relembradas no documentário Jacksons e imagens (título provisório), da dupla de diretores paraibanos Marcus Vilar e Cacá Teixeira.

Aliás, a origem dos diretores não podia ser mais pertinente. Apesar de ter seu trabalho associado ao Recife e ao Rio de Janeiro, Jackson é paraibano de Alagoa Grande, município do Agreste do estado. Filho da coquista Flora Mourão, foi lá, ainda na infância, que começou a descobrir sua aptidão musical. 

Mas foi apenas em 1954, com sua vinda para o Recife, onde assinou contrato com a Rádio Jornal para integrar a grade do programa de auditório A pisada é essa, que José Gomes Filho veio se tornar Jackson do Pandeiro. Até então, ele era conhecido como Jack do Pandeiro, nome inspirado em Jack Perry, mocinho dos filmes de faroeste a que assistia na infância.

É também no Recife que ele estoura com Sebastiana (de Rosil Cavalcanti), ao lado da cantora e dançarina Almira Castilho, com quem formou dupla e viria a se casar. A partir daí, ele é contratado pra ir para o Rio de Janeiro, onde se consagra como o Rei do Ritmo.

“Recife foi muito importante na vida dele, é onde ele se tornou Jackson do Pandeiro. Foi aí também que ele cantou muitos frevos. Quando chega no Rio de Janeiro, ele entra pro lado do samba, chegando até a fazer samba-enredo para a Império Serrano”, conta o diretor Cacá Teixeira.

Segundo Teixeira, a ideia de realizar a homenagem veio da necessidade de preservar a história do músico e culminou com o encontro com o cineasta Marcus Vilar. “Muito se fala sobre Jackson, mas nunca foi registrado muita coisa sobre ele, então decidimos fazer essa homenagem. Até porque daqui a quatro anos é comemorado seu centenário”, lembra o cineasta sobre o aniversário do músico, nascido em 31 de agosto de 1919.

“Ele era um multi-músico, um arranjador nato. As pessoas diziam que ele tinha uma orquestra na boca. Como compositor, ele não aparecia muito, até porque ele era analfabeto. Mas ele dava uma nova vida as músicas, principalmente nos ritmos. Era um cara muito antenado, moderno, e continua sendo”, afirma.

Teixeira conta ainda que, para a realização do documentário, foram mais de 10 anos de pesquisas. Entre as entrevistas estão pessoas que conviveram e foram influenciadas por Jackson, como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Elba Ramalho e as duas esposas deles: Almira (falecida em 2011) e Neuza Flores. “Neuza foi a mulher que viveu com ele durante um período de certo ostracismo até quando ele retornou com os baianos”, conta Cacá. “O filme tem essa proposta de homenagear, reviver a memória dele na galera mais jovem e não deixar o cara morrer de novo. Além disso, a nossa pretensão é que esse filme seja um  start para as comemorações do centenário em 2019”, emenda.

A história começa em Brasília, onde ele realiza seu último show e morre em 1982, com o depoimento da cantora Elba Ramalho. E segue com uma série de flashbacks sobre sua história, como conta o diretor: “Há um período que ele passa ‘paradasso’, durante o auge do iê iê iê, e só vem ser redescoberto muito depois, pelos baianos e pernambucanos, como Gilberto Gil e Geraldo Azevedo”. O diretor garante ainda que o trabalho não é focado apenas em sua obra, mas nas histórias por trás dos bastidores: “Ele foi uma figura que morreu pobre porque ajudou muita gente. Era um bonachão, bem humorado e muito competente. E tem ou outro lado: o boêmio, o paquerador, o humano.”

“Há uma comparação em que Gonzaga era o Pelé da música, e Jackson, o Garrincha. Ele era um cara que tocava o Nordeste, mas ia além, ele pegou todos esses ritmos e os transforma. Tanto que até hoje é fonte pra vários músico como João Bosco e Lenine. A universalidade de Jackson atravessa fronteiras. Ele transforma Paraíba e Pernambuco em uma coisa só, e vai além”, finaliza.

Coproduzido pelas produtoras NB Arte, do Recife, e Leme, de João Pessoa, o documentário tem previsão de conclusão para maio deste ano. Nesse tempo, as pessoas que tiverem documentos, histórias e registros sobre Jackson do Pandeiro e quiserem contribuir para a homenagem, podem entrar em contato através do email kkateixeira@hotmail.com. 

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