RECIFE

O Pátio desolado

Complexo turístico-cultural mais tradicional da capital pernambucana, o Pátio de São Pedro, padece com bares, restaurantes e equipamentos culturais esquecidos

Karoli Pacheco
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Karoli Pacheco
Publicado em 22/03/2015 às 5:30
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Complexo turístico-cultural mais tradicional da capital pernambucana, o Pátio de São Pedro, padece com bares, restaurantes e equipamentos culturais esquecidos - FOTO: Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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“Toda beleza que havia nesta rua / Há pouco tempo deu um vento e carregou.” Os versos da canção Ruas que sonhei, do sambista Paulinho da Viola mais parece ter sido escrito para a desolação em que vive o Pátio de São Pedro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Iphan). No dia de sua apresentação no Pátio, no domingo de Carnaval, Paulinho da Viola almoçou, como tantas outras vezes, um arrumadinho de carne de sol no Aroeira, talvez o mais tradicional dos restaurantes de lá.

Coração do bairro de São José (embora situado no bairro de Santo Antônio), o Pátio de São Pedro agoniza com o ostracismo. A moldura dos casarios abraça a Igreja de São Pedro, fechada para reforma, de muitas memórias e de casamentos que terminavam em festa nos bares do Pátio. “A igreja é o símbolo do barroco e, ao mesmo tempo, do rococó: é barrococó. Pela circunstância toda”, diz o poeta, cineasta e professor Jomard Muniz de Brito, frequentador do local há décadas.

Os nove equipamentos culturais geridos pela Prefeitura do Recife vivem dias difíceis, de penúria. Alguns estão fechados, outros funcionam precariamente, carentes de reforma. Um dos maiores redutos da boemia cultural da capital pernambucana nas décadas de 1970, quando teve seu apogeu, sendo frequentado pela classe média liberal, artistas e intelectuais, e de 1980, quando foi revitalizado, o Pátio de São Pedro está carente também de uma programação efetiva e permanente. É um contraste gritante com o dinamismo do Bairro do Recife, menina dos olhos da atual gestão do município.

Na conjuntura atual, cada manifestação da memória do pátio ou movimentação artística independente possui natureza política. “O político tem que dar quatro coisas importantes ao povo, que é: a educação, a segurança, o pão e circo. Dar circo rejuvenesce a alma, pois a música alegra os tímpanos e alegra a alma”, brinca Oswaldo Araújo, um dos poetas que frequentam o local desde os anos 1940. “Está faltando o resto”.

No Banguê, durante anos, reuniam-se poetas como Jaci Bezerra, Alberto da Cunha Melo, Mário Hélio, Vital Corrêa de Araújo e Iran Gama. Alguns integrantes da chamada Geração do Pátio se reuniam diariamente, com um livro de atas, onde eram escritos depoimentos e poemas feitos na hora. Mas hoje o pátio perdeu a sua poesia para o descaso.

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