Elza Soares é a atração, hoje e amanhã, da Caixa Cultural, com o show A voz e a máquina, que traz ao palco a cantora e os DJs Ricardo Muralha e Bruno Queiroz. Com o primeiro, ela fez o elogiado espetáculo Deixa a nega gingar (2012). O teatro da Caixa Cultural conta com apenas cem lugares, pouco para a cantora que é hoje ídolo de uma geração que a descobriu com o álbum Do cóccix até o pescoço (2002), um disco antológico, responsável pela revalorização de Elza, até então rotulada como sambista: “É muita coragem cantar só com dois DJs. Mas pra mim não é novidade. Em do Do cóccix até o pescoço, eu já cantava com eletrônica. Trabalhei com DJ em outro show e já cantei com o DJ Dolores, ele é maravilhoso”, comenta Elza Soares, por telefone.
O que se ouvirá no show será MPB, drum & bass, house e tecno, batidas eletrônica à base de pads, tablets e teclados e um repertório que passeia por vários compositores, estilos e épocas da MPB. Com mais de meio século de carreira, entrando e saindo de todas, Ela Soares comete transgressões desde os tempos de caloura em programa de rádio. É célebre a resposta ao iracundo Ary Barroso, quando cantou em seu programa no começo dos anos 50.
Vendo aquela menina magra, mal vestida, Ary quis usá-la para divertir a plateia. Perguntou de que planeta ela tinha saído. A resposta de Elza Soares: “Do planeta fome”.
Aos 78 anos (que alguns sites esticam para 85), já no primeiro LP, em 1960, ela chamava atenção para a importância de se afirmar racialmente. O disco chamava-se A bossa negra de Elza Soares. Vale ressaltar que, quando ela lançou o álbum, imperava a bossa nova criada e interpretada quase que unicamente por brancos, classe média da Zona Sul. Ela vinha da favela e cantava samba com scats, improvisos jazzísticos, que lhe ocorreram intuitivamente. Dos scats para os DJs foi só uma questão de tempo e tecnologia.
A voz e a máquina é um dos dois espetáculos com que Elza está visitando palcos País afora. O outro é o elogiado show em que canta o personalíssimo repertório do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Porém ela já experimentava sua voz com as máquinas antes. “Por que não trouxe ainda o show de Lupicínio ao Recife? Ora, é só me convidar”, responde, despachada. Se vai cantar Lupicínio no A voz e a máquina: “Não tem música dele no repertório, mas de repente posso até cantar alguma, à capela”.
A voz e a máquina – Hoje, 20h; amanhã, 17h e 20h. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (cada pessoa pode comprar até 2 bilhetes). Serão vendidos 240 tíquetes para as três sessões. Na Caixa Cultural (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife