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Orquestra Contemporânea canta todos os sons de Olinda

Grupo lançou terceiro disco, e inicia turnê nacional pelo Rio

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 08/06/2015 às 14:20
Foto: Beto Figueroa
Grupo lançou terceiro disco, e inicia turnê nacional pelo Rio - FOTO: Foto: Beto Figueroa
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A Orquestra Contemporânea de Olinda é a orquestra da Olinda contemporânea. Trocadilho à parte, o grupo trouxe para os palcos a música de toda a cidade, muito além do Centro Histórico, a parte mais visível de um grande município farto em problemas e riquíssimo em manifestações culturais. Formado há oito anos, por músicos que, em sua maioria, cresceram na cidade, o grupo absorveu a musicalidade olindense que se espalha por diversos bairros, embora acabe tudo convergindo para o Centro Histórico. Mais perfeita tradução das variedades de sons que habitam a Marim dos Caetés, a banda acaba de lançar, a principio apenas em formato digital, o terceiro álbum, Bomfim, viabilizado pela aprovação num edital do Petrobras Musical, que garante também a turnê de divulgação, que o grupo inicia com dois shows no Rio de Janeiro, e ainda sem data de lançamento no Recife.

A Orquestra Contemporânea de Olinda já tocou no Lincoln Center, em Nova Iorque, uma apresentação mereceu meia página elogiosa do principal jornal da cidade, o New York Times, e fez shows na Europa. Mesmo ignorada pelas emissoras de radio locais, o grupo tem público certo e sabido em Pernambuco, sobretudo na sua cidade natal, onde vários dos integrantes se conhecem desde criança: "A banda tem uma coisa legal: todo mundo se conhecia muito antes do grupo existir, havia uma admiração mútua pelo trabalho um dos outros. Pode­se dizer que um coletivo que surgiu da coletividade", comenta Juliano Holanda, também um dos mais requisitados músicos pernambucanos da atualidade, que produziu Bomfim com a banda. "É meio complicado um cara da banda produzir o próprio grupo. Acabou que caiu pra mim. Foi um processo lento, eu fiz arranjos de base, enquanto Ivan (do Espírito Santo) fez os arranjos de metais. O pessoal conferiu e foi feito o ajuste, uma notazinha aqui, uma coisa ali", comenta.

Gilú Amaral (percussão), Rapha B (bateria), Hugo Gila (baixo), Juliano Holanda (guitarra), Tiné e Maciel Salú (vocais), os integrantes da OCO, uniram­se aos metais de músicos da Henrique Dias, escola de música fundada em 1954, com o maestro Ivan do Espírito Santos no sax, mais o trompete de Jonatas, o trombone de Babá e a tuba de Alex, o que contribuiu para que frevos fizessem parte do repertório do disco. "A gente já tocava frevo no palco, mas não tinha se atrevido incluir em disco, sentia medo, não queria se aventurar. Mas desta vez a banda se sentiu bastante madura para gravar frevos", explica Juliano. Rua do Bomfim, de Ivan Espírito Santo, é um frevo de rua, daqueles que se chamavam de "rasgado", dos que, como costumava dizer Valdemar de Oliveira, um especialista, "não convida, arrasta".

Para Juliano, este é o mais bem resolvido disco da OCO e não teria sido feito desta forma, não tivessem gravado o anterior, Pra ficar (2012) com a produção de Arto Lindsay: "Trabalhamos aquele disco durante três anos, ele nos levou a muitos lugares, fez a gente se descobrir como banda, a testar mais nossos limites. Esta tomada de consciência teve muito a ver com o fato de ser produzido por Arto Lindsay, um cara que tem know­how, que trabalhou com Marisa Monte, Caetano Veloso. Tertrabalhado com ele nos levou a este terceiro disco", diz Juliano, que tem se destacado como produtor e autor de trilha (fez a música da série global Amorteamo, que terminou na sexta passada). Assim como Juliano Holanda, os demais músicos da Orquestra Contemporânea de Olinda têm luz própria, tocam projetos paralelos (Gilú e Juliano têm participado do redivivo Ave Sangria, por exemplo), mas sem que isto interfira no funcionamento da OCO: "Acho que o fator principal da harmonia que existe na orquestra, que mantém a gente juntos, sem que nunca ter rolado discussões entre nós, em oito anos de banda, além da amizade antiga, é o prazer que temos de tocar. A gente curte os ensaios de três horas, duas vezes por semana".

A orquestra formou-­se nas festas que aconteciam em Olinda, em que todo mundo tocava com todo mundo, no tempo em que A Roda animava a festa. A OCO é a mais perfeita tradução da tradição festeira olindense, mas aberta às influências externas: "Entendo Olinda como um porto que absorve cultura. A partir de novembro, quando começam as primeiras festas de Carnaval, a cidade vai tomando outros ares, chegados pessoas de muitos lugares, com seus hábitos, suas músicas. A gente mesmo, a maioria morando em Olinda, foi absorvendo isto naturalmente. O coco do Amaro Branco, as festas no antigo Cheiro do Povo, tudo isto foi ficando com a gente, além do aprendizado de músicos como Erasto Vasconcelos, que é sempre uma referência para os músicos de Olinda", comenta Juliano.

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